Como surgiu as Campanhas da Fraternidade?

Em 1961, três padres responsáveis pela Cáritas Brasileira idealizaram uma campanha para arrecadar fundos para as atividades assistenciais e promocionais da instituição e torná-Ia, assim, autônoma financeiramente. A atividade foi chamada Campanha da Fraternidade e realizada, pela primeira vez, na Quaresma de 1962, em Natal (RN), com adesão de outras três dioceses e apoio financeiro dos bispos norte-americanos. No ano seguinte, dezesseis dioceses do Nordeste realizaram a Campanha. Não teve êxito financeiro, mas foi o embrião de um projeto anual dos Organismos Nacionais da CNBB e das Igrejas Particulares no Brasil, realizado à luz e na perspectiva das Diretrizes Gerais da Ação Pastoral (Evangelizadora) da Igreja em nosso país.

Em seu início, teve destacada atuação o Secretariado Nacional de Ação Social da CNBB, sob cuja dependência estava a Cáritas Brasileira, que fora fundada no Brasil, em 1957. Na época, o responsável pelo Secretariado de Ação Social era Dom Eugênio de Araújo Sales, que, por isso, era presidente da Cáritas Brasileira. O fato de ser administrador apostólico de Natal (RN) explica que a Campanha tenha iniciado naquela circunscrição eclesiástica e em todo o Rio Grande do Norte.

Esse projeto foi lançado, em âmbito nacional, no dia 26 de dezembro de 1963, sob o impulso renovador do espírito do Concílio Vaticano II, em andamento na época, e realizado pela primeira vez na Quaresma de 1964. O tempo do Concílio foi fundamental para a concepção, estruturação e encaminhamentos da CF, do Plano de Pastoral de Emergência, do Plano de Pastoral de Conjunto e de outras iniciativas de renovação eclesial. Ao longo de quatro anos seguidos, por um período extenso em cada um, os bispos ficaram hospedados na mesma casa, em Roma, participando das sessões do Concílio e de diversos momentos de reunião, estudo, troca de experiências. Nesse
contexto, nasceu e cresceu a CF.

Em 20 de dezembro de 1964, os bispos aprovaram o projeto inicial da CF, intitulado: “Campanha da Fraternidade: pontos fundamentais apreciados pelo episcopado em Roma”. Em 1965, tanto a Cáritas quanto a Campanha da Fraternidade, que estavam vinculadas ao Secretariado Nacional de Ação Social, foram vinculadas diretamente ao Secretariado Geral da CNBB. A CNBB passou a assumir a CF. Nessa transição, foi estabelecida a estruturação básica da CF. Em 1967, começou a ser redigido um subsídio, maior que os anteriores, para a organização anual da CF. Nesse mesmo ano, iniciaram-se, também, os encontros nacionais das Coordenações Nacional e Regionais da CF.

A partir de 1971, tanto a Presidência da CNBB como a Comissão Episcopal de Pastoral começaram a ter uma participação mais intensa em todo o processo da CF.

Em 1970, a CF ganhou um especial e significativo apoio: a mensagem do Papa, transmitida em cadeia nacional de rádio e televisão, quando de sua abertura, na Quarta-feira de Cinzas. A mensagem papal continua enriquecendo a abertura da CF.

Os temas da CF, inicialmente, contemplaram mais a vida interna da Igreja. A consciência sempre maior da situação de injustiça, de exclusão e de crescente miséria levou à escolha de aspectos bem determinados da realidade socioeconômica e política brasileira. O restabelecimento da justiça e da fraternidade nessas situações era compromisso urgente da fé.

Conheça todos os temas e lemas

1ª fase: Em busca da renovação interna da Igreja

a) Renovação da Igreja
b) Renovação do cristão

2ª fase: A Igreja se preocupa com a realidade social do povo, denunciando o pecado social e promovendo a justiça (Vaticano II, Medellín e Puebla)

Neste período marcado por graves injustiças e restrições sociopolíticas no país, a Igreja, por meio da Campanha da Fraternidade, contribuiu para que o chamado à conversão próprio da Quaresma se estendesse ao âmbito comunitário e social, despertando as consciências para as graves injustiças existentes nas estruturas do país, em vista de ações transformadoras. Assim, a Páscoa repercutiu na história do povo brasileiro gerando fraternidade e vida.

3ª fase: A Igreja se volta para situações existenciais do povo brasileiro

Nesta fase, a Igreja, com a realização das Campanhas da Fraternidade, tem contribuído ao evidenciar situações que causam sofrimento e morte em meio ao povo brasileiro, nem sempre percebidas por todos, quando o Brasil reencontra seu longo caminho rumo à construção de uma sociedade democrática, capaz de integrar todos os seus filhos e filhas.

O itinerário da Campanha da Fraternidade continua em 2018 com o tema: “Fraternidade e superação da violência” e o lema: “Vós sois todos irmãos” (Mt 23,8).

 

Adaptação, ilustração e revisão
Portal Kairós

O que você precisa saber sobre as Campanhas da Fraternidade?

Com o início da Quaresma, entramos também na Campanha da Fraternidade (CF), uma ação organizada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Muitos não sabem que a CNBB é uma organização oficial da Igreja Católica.

Selecionamos algumas informações importantes sobre o histórico das campanhas da Fraternidade, os objetivos, ações concretas, que nos faz perceber como os temas estão sempre ligados ao que o povo de Deus vive no Brasil.

A inspiração dos temas da Campanha da Fraternidade está sempre ligada a problemas concretos pelos quais a sociedade passa

A ideia começou no início da década de 1960, quando padres da Cáritas Brasileira idealizaram um fundo para realizar, como Igreja, atividades assistenciais. O embrião da Campanha que temos hoje ocorreu, pela primeira vez, na Quaresma de 1962 em Natal (RN). Cresceu aos poucos e ganhou o apoio de organismos nacionais e da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.

Foi sob a atmosfera do Concílio Vaticano II que a ideia da Campanha da Fraternidade amadureceu e ganhou forma

“Ainda que, na Igreja, nem todos sigam pelo mesmo caminho, todos são, contudo, chamados à santidade” (Lumen Gentium, n. 32). A grande novidade do Concílio (convocado em 1961 e finalizado em 1965) foi fundamental para que a CF tivesse seu formato definido e amparado teologicamente. Havia ali, naquela época, uma urgência de unidade e missionariedade na vida da Igreja.  A Campanha da Fraternidade, no modelo que conhecemos hoje, aconteceu pela primeira vez em 1964 e teve o tema: “Campanha da Fraternidade” e o lema: “Lembre-se: você também é Igreja”. A ideia central era colocar os fiéis em uma posição protagonista diante das obras sociais mantidas pela Igreja.

Ao longo dos mais de 50 anos de história, percebe-se uma intensa ligação entre os temas da CF e a realidade contemporânea

Ao observarmos as fases, fica evidente essa comunhão: nos primeiros anos (1964 a 1972), um caminho de renovação interna, das estruturas e também da mentalidade do povo de Deus. Com início em um ano marcado por revoluções políticas e sociais, os temas seguiram um ritmo de “responsabilidade com o outro”, “reconciliação” e “ser Igreja”. Já na segunda fase, até 1984, a direção vivida foi de denúncia de injustiças como o trabalho escravo, assistência à saúde e o chamado à liberdade do amor. De 1985 até hoje, os temas têm se voltado às realidades existenciais do Brasil: fome, desemprego, a importância da família, drogas, aborto e os males da falta de cuidado com o meio ambiente.

O gesto concreto da Campanha é realizado na coleta da solidariedade

Esta coleta acontece no Domingo de Ramos. Todas as comunidades cristãs católicas e ecumênicas do Brasil se unem neste esforço e arrecadam para o Fundo Nacional de Solidariedade e os Fundos Diocesanos de Solidariedade. 60% dos recursos são destinados ao apoio de projetos sociais da própria comunidade e 40% dos recursos são revertidos para o fortalecimento da solidariedade entre as diferentes regiões do país.

 

Portal Kairós / CNBB