Prof. Carriquiry: Documento de Aparecida e o Pontificado de Francisco

Cidade do Vaticano (RV) – A V Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e do Caribe, ou Conferência de Aparecida, foi inaugurada pelo Papa Bento XVI, em Aparecida, no dia 13 de maio e encerrou no dia 31 de maio de 2007. Um evento de extraordinária importância para a Igreja do continente e para a Igreja universal.

O presidente da Comissão da Redação do Documento final de Aparecida era o então Arcebispo de Buenos Aires, Cardeal Jorge Mario Bergoglio.

Ao lado dele nos trabalhos da Conferência estava o Professor Guzman Carriquiry, Vice-Presidente da Comissão Pontifícia para a América Latina (CAL) que falou sobre a importância do documento àquele que foi o enviado especial da Rádio Vaticano à Aparecida – o colega do programa italiano Alessandro Gisotti:

“Para quem participou em Aparecida, a primeira coisa que se percebia, era um sentido de profunda fraternidade colegial que se viveu em Aparecida. A nossa Igreja superava tensões, polarizações e tendia a ganhar – graças ao Espírito Santo – uma maior comunhão, uma maior serena unidade. Segundo elemento fundamental foi o trabalho sinodal, e isto se deve muito – como o diz o Padre Diego Farbes em um recente artigo publicado na ‘Civiltà Cattolica’ – ao Cardeal Bergoglio. Os resultados foram no início necessariamente muito caóticos. Recordo que estava muito ansioso por este motivo. O Cardeal Bergoglio sempre dizia: devemos continuar a recolher tudo o que estão produzindo os bispos, conhecer bem quais são os tempos pelos quais nos conduz o Espírito Santo. E de fato, no final, no Documento os bispos escrevem: “O Espírito Santo nos conduziu lentamente mas decisivamente ao objetivo”. E depois, nós devemos pensar que Aparecida foi aquele tempo de graça por meio do qual a Providência de Deus levou Bergoglio à Sé de Pedro”.

RV: Poder-se-ia afirmar que naquela Conferência nasceu uma sintonia extraordinária entre Bento XVI e o Cardeal Bergoglio?

“Certamente! Os discursos – a homilia e o discurso inaugural do Papa Bento – foram muito importantes para todo o percurso de Aparecida: Papa Bento inaugura e dá a orientação de fundo de Aparecida, Bergoglio retoma tudo, junto com os bispos, e leva isto ao cumprimento, dando a eles aquela consistência, o perfil justamente de autoconsciência eclesial latino-americano”.

RV: Aparecida pode ser considerada como a fonte sempre viva deste Pontificado? Se fala que a Evangelii gaudium é quase – como diria – a evolução universal de um documento como o de Aparecida ligado à Igreja latino-americana…

“Certamente, existem vasos comunicantes muito fortes entre Aparecida e Evangelii gaudium. O Papa às vezes – um pouco sério, um pouco brincando – diz que Evangelii gaudium é um mix entre o Documento de Aparecida e Evangelii nuntiandi do Beato Paulo VI. Mas eu acredito que seja muito mais! É o documento de um pastor que se tornou pastor universal e portanto ele retoma muitos critérios fundamentais de Aparecida e os propõe à Igreja universal, mas ao mesmo tempo retoma o Magistério dos Pontífices precedentes. Lendo a Evangelii gaudium, alguém se reconhece em um certo sentido em Aparecida, mas Evangelii gaudium é “um salto de qualidade universal”, em relação a Aparecida”.

RV: É deste encontro, depois, que nasce o discipulado missionário, a “Igreja em saída”, tema forte deste pontificado….

“Exatamente! É daquele encontro pessoal e comunitário com Cristo que o Documento de Aparecida convida e mostra, propõe, um povo que é discípulo e missionário de Cristo e que diz respeito a toda a realidade da América Latina sob este olhar cristão e pastoral: esta é precisamente a chave hermenêutica do Documento de Aparecida”.

(AG/JE)

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Papa: um pastor deve preparar-se para se despedir bem

Cidade o Vaticano (RV) – O Papa Francisco celebrou na manhã desta terça-feira a Santa Missa na Capela da Casa Santa Marta. No centro da sua homilia esteve a primeira Leitura tirada dos Atos dos Apóstolos, que se pode intitular – disse Francisco – “A despedida de um bispo”. Paulo se despede da Igreja de Éfeso, que ele havia fundado. “Agora deve ir:

“Todos os pastores devem se despedir. Chega um momento em que o Senhor nos diz: vai para outro lugar, vai para lá, vem para cá, venha a mim. E um dos passos que deve fazer um pastor é também preparar-se para se despedir bem, não se despedir à metade. O pastor que não aprende a se despedir é porque tem alguma ligação não boa com o rebanho, um vínculo que não é purificado pela Cruz de Jesus”.

Paulo, então, chama todos os presbíteros de Éfeso e em uma espécie de “conselho presbiteral” se despede. O Papa destaca “três atitudes” do apóstolo. Primeiro, ele diz que nunca abandonou a luta: “Não é um ato de vaidade”, “porque ele diz que é o pior dos pecadores, sabe disso e diz”, mas simplesmente “conta a história”. E “uma das coisas que dará tanta paz ao pastor quando se despede – explicou o Papa – é recordar-se que nunca foi um pastor de compromissos”, ele sabe “que não guiou a Igreja com compromissos. Ele nunca abandonou a luta. “E é preciso coragem para isso”. Segundo ponto. Paulo diz que ele vai a Jerusalém “compelido pelo Espírito”, não sabe o que vai acontecer lá”. Ele obedece ao Espírito. “O pastor sabe que está em caminho”:

“Enquanto guiava a Igreja era com a atitude de não fazer compromissos; agora, o Espírito pede a ele para se colocar em caminho, sem saber o que vai acontecer. E continua, porque ele não possui nada seu, ele não fez do seu rebanho uma apropriação indevida. Ele serviu. ‘Agora Deus quer que eu vá embora? Vou embora sem saber o que vai acontecer comigo. Sei somente – o Espírito tinha feito ele saber – que o Espírito Santo de cidade em cidade me confirma que me esperam correntes e tribulações’. Isso ele sabia. Não vou me aposentar. Vou para outro lugar para servir outras Igrejas. Sempre o coração aberto à voz de Deus: deixo isso, vou ver o que o Senhor me pede. E aquele pastor sem compromissos é agora um pastor em caminho”.

O Papa explica por que não se apropriou do rebanho. Terceiro ponto. Paulo diz: “Eu não considero de nenhum modo preciosa a minha vida”: não é “o centro da história, da história grande ou da história pequena”, não é o centro, é “um servo”. Francisco cita um ditado popular: “Como você vive, você morre; como você vive, você se despede”. E Paulo se despede com uma “liberdade sem compromissos” e em caminho. “Assim se despede um pastor”:

“Com este exemplo tão bonito rezemos pelos pastores, pelos nossos pastores, pelos párocos, pelos bispos, pelo Papa, para que a sua vida seja uma vida sem compromissos, uma vida em caminho, e uma vida onde eles não pensem estar no centro da história e assim aprendam a se despedir. Rezemos pelos nossos pastores”. (SP)

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Mais de 1 bilhão de muçulmanos iniciam no mundo o mês de Ramadã

Rabat (RV) – Mais de 1,5 bilhão de muçulmanos de todo o mundo (quase a quarta parte da população mundial) iniciou no último sábado (27) o mês de jejum de Ramadã, o mais importante do calendário por constituir um dos cinco pilares do Islã.

Durante este mês, os muçulmanos que tiveram alcançado a puberdade não poderão comer, beber, fumar e nem manter relações sexuais enquanto o sol estiver no horizonte, e desta obrigação só ficam excluídas as mulheres menstruadas e as grávidas, os doentes e os viajantes que realizam trajeto penoso, ainda que todos “deverão pagar” mais tarde pelos dias de jejum.

Jejum do nascer ao pôr-do-sol

As horas exatas do nascer e do pôr do sol aparecem hoje em dia em qualquer tela de celular, mas as mesquitas também se encarregam de lembrar com suas chamadas à oração do Fayer (nascer) e do Magreb (pôr), e as grandes cidades utilizam, além disso, canhões e sirenes para marcar o esperado momento do pôr-do-sol.

Nos países de maioria muçulmana, a vida se transforma totalmente durante o mês do jejum: as empresas, as repartições públicas e as escolas encurtam seus horários de funcionamento para que o jejum seja mais suportável, enquanto os cafés e restaurantes fecham durante as horas diurnas e ficam abertos durante a noite.

Aumenta a despesa em casa

Paradoxalmente, o mês do jejum é também o mês no qual há uma maior despesa por alimentos nos lares, e os indicadores de consumo disparam neste mês sagrado, bem como os preços das compras.

São poucos os países que obrigam por lei o jejum e castigam o infrator (Arábia Saudita, Bahrein, Paquistão, Afeganistão, Irã, Malásia, Brunei e Marrocos); na maior parte do mundo muçulmano o Ramadã é cumprido por vontade própria ou por pressão social, e é pouco usual ver uma pessoa infringindo o jejum em público.

A observação do jejum torna-se um dos melhores termômetros para medir as raízes no mundo do Islã, que é atualmente a religião que mais cresce a nível global e na qual mais cresce a prática junto à crença.

Pesquisa sobre o islamismo

Um recente estudo do prestigiado Pew Research Center dos Estados Unidos perguntava: “Quanto é importante o Islã em sua vida?”. Os resultados mostraram que mais de 90% dos entrevistados na África e no sudeste asiático (onde se concentra a maior parte dos muçulmanos) diziam que “é muito importante”; e a porcentagem era de mais de 80% no mundo árabe e na Turquia. Só ficou abaixo dos 70% nas ex-repúblicas soviéticas.

Esse mesmo estudo perguntava por questões mais concretas sobre a aplicação, como a frequência da reza, o comparecimento à mesquita, a leitura do corão e a entrega de esmolas, e de todas elas, o jejum no Ramadã era com muita diferença a prática islâmica mais respeitada entre os muçulmanos de todo o mundo.

Em 2050, 2,8 bilhões de seguidores

Levando em conta o rápido crescimento demográfico das regiões do mundo com mais muçulmanos (Ásia e África), que será o dobro que no resto do mundo, calcula-se que os muçulmanos quase vão duplicar de número até 2050, somando 2,8 bilhões de seguidores, o que os transformará então na primeira religião do mundo, à frente do cristianismo. (SP-EFE)

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Dez anos de Aparecida: desafios e caminhos da missão na América Latina

Cidade do Vaticano (RV) – Amigo ouvinte, nas últimas edições do nosso quadro semanal “O Brasil na Missão Continental” temos recordado os dez anos da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe – realizada em Aparecida, SP, de 13 a 31 de maio de 2007, norteada pelo tema “Discípulos e Missionários de Jesus Cristo, para que nele nossos povos tenham vida”.

Vale lembrar que da Conferência de Aparecida nasceu a “Missão Continental”, resposta significativa da Igreja na América Latina e no Caribe ao chamado urgente à nova evangelização.

De fato, proposta não como uma pastoral ao lado de outras, mas como um espírito que perpassa todas as pastorais, este projeto de animação missionária nasceu com o objetivo de colocar toda a Igreja no “Continente da Esperança” em estado permanente de missão.

Tendo como referência o texto conclusivo desta Conferência, ou seja, o chamado “Documento de Aparecida” (DAp), temos procurado neste quadro semanal – a partir da preciosa contribuição sobretudo de nossos pastores – abordar vários temas pertinentes à multifacetária realidade missionária da Igreja no Brasil e a seus respectivos desafios pastorais.

Trata-se de dar voz particularmente aos nossos bispos, os quais nos trazem, a partir das Igrejas particulares das quais são pastores, o rosto missionário da Igreja em sua ação evangelizadora.

Nesse intuito temos procurado neste espaço focar nossa atenção, precipuamente, na rica e diversificada realidade missionária da Igreja no Brasil, no contexto da “Missão Continental”.

Nessa empreitada, nosso interesse tem sido não apenas saber mais dessa diversificada realidade, mas também fazer chegar a você, amigo ouvinte, como a Igreja no Brasil está inserida na “Missão Continental” e como tem respondido a essa tarefa pastoral.

Em vista dessa empreitada proposta pela Conferência de Aparecida, a Comissão Episcopal para a Missão Continental da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) organiza anualmente, desde 2010, o “Encontro Nacional da Missão Continental”.

Na esteira dessa experiência anual, o Centro Cultural Missionário (CCM) e a Comissão Episcopal Pastoral para a Ação Missionária e Cooperação Intereclesial (CNBB) promoveu, de 15 a 19 deste mês de maio, em Brasília, o 8º Encontro Nacional da Missão Continental, com o tema: “Desafios e caminhos da missão na América Latina – celebrando 10 anos de Aparecida”.

“Passados dez anos de sua realização, em seus frutos vemos a enorme fecundidade gerada pela V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e Caribenho de Aparecida”, afirmam os organizadores deste 8º Encontro.

“A proposta da Missão Continental, seu principal compromisso, nem sempre foi bem entendida quando de seu lançamento. Revelou-se, porém, como uma verdadeira sementeira de inúmeras experiências, atividades e projetos missionários que apontam para a perspectiva de uma Igreja em estado permanente de missão. Para nossa alegria, o Papa Francisco não só confirmou essa perspectiva em seu pontificado, mas alargou-a para todo o mundo e para os variados campos da ação apostólica da Igreja”, ressaltam.

Neste Encontro, no qual foram celebrados os 10 anos da Conferência de Aparecida e do lançamento da Missão Continental, procurou-se refletir juntos sobre a contribuição desse momento iluminador da missão da Igreja e examinar os desafios pastorais que, desde então, se apresentam para a missão da Igreja, vislumbrando os caminhos que foram se abrindo, considerando sobretudo a reflexão gerada pelo Magistério do Papa Francisco.

Assim, os participantes, comprometidos com uma Igreja em estado permanente de missão partilharam esta celebração, trazendo suas experiências e sua reflexão sobre a missão hoje no Brasil e na América Latina.

Amigo ouvinte, por hoje é só – semana que vem tem mais, se Deus quiser.

(RL)

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Simpósio: compromisso global com o planeta há dois anos da Laudato si

Milão (RV) – “O compromisso global com o planeta passados dois anos da encíclica Laudato si”: esse é o tema ao qual será dedicado o Simpósio da Universidade Bocconi de Milão – norte da Itália – a realizar-se na próxima segunda-feira, 4 de junho, Dia mundial do ambiente. Os trabalhos do evento acadêmico serão coordenados por Marco Girardo, chefe de redação do diário “Avvenire”, jornal da Conferência Episcopal Italiana (CEI).

Colher e aprofundar estímulos e perspectivas da Laudato si

“Superada a ideia de que a sustentabilidade é unicamente uma questão ambiental e afirmada uma visão integrada das várias dimensões do desenvolvimento, o encontro pretende colher e aprofundar os numerosos estímulos e as perspectivas oferecidas pela encíclica do Papa Francisco dedicada aos temas do ambiente no seio da globalização e sua relação com os problemas sociais da pobreza, da desigualdade e da exclusão”, lê-se numa nota.

Durante o simpósio também se falará acerca dos indicadores de bem-estar equânime e sustentável (Bes), introduzidos na Itália pelo Documento de economia e finanças 2017.

Inovações tecnológicas e suas implicações

As conclusões ficarão a cargo do presidente da Fundação “Irmã Natureza”, Roberto Leoni, que ilustrará “os problemas derivantes do impacto da globalização sobre as realidades locais e as transformações organizativas do mundo e da sociedade provocadas pelas inovações tecnológicas”. (RL)

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