Encontrar-se consigo e com o outro

O mundo vive em busca de modos que conduzam o homem ao autoconhecimento. Esta busca de si mesmo é inerente à condição humana desde os primórdios. É condição necessária ao homem o conhecer-se, pois por meio do conhecimento, se diferencia das outras espécies. A experiência de se conhecer faz com que atinja o sentido essencial de seu existir. Este processo de autoconhecimento pode ser definido como Educação.

Na busca do autoconhecimento uma pergunta tem lugar central: o que é o homem? Esbarramos em muitas interrogações acerca desta questão. Indagar-se sobre o que é o homem é um desafio oriundo de um mundo cheio de diversidades, onde homens, que geneticamente e fisicamente, ao que tudo indica são semelhantes, são completamente diferentes uns dos outro. Esta diferença faz do homem um ser racional e pensante, que se pergunta pela essência e que o une à condição humana. Cada pessoa é única. Por isso, qualquer definição que se queira dar ao homem, não vai além de um esboço da natureza humana. Pode-se falar de sua racionalidade, da imortalidade de sua alma ou de sua união substancial com o corpo, de sua dimensão política e econômica etc. No entanto, o sentido de existência, permanece indefinível.

É preciso analisar a condição do homem a partir do meio que o cerca. Uma análise, não com a pretensão final de defini-lo, mas de ressaltar o que há de semelhante no homem inserido em culturas diversas. Não se trata de uma teoria especulativa, mas de uma análise da cultura humana. Que saberíamos sobre o homem sem essas fontes de informações que vem da cultura? Ficaríamos dependentes dos dados da nossa vida pessoal ou da visão fragmentada e dispersa?

Somente a Educação pode juntar e completar a imagem sugerida por esses dados introspectivos. Seria a Educação o processo de montagem de um grande quebra cabeça que revelará o todo formado por cada peça. Poderíamos apelar para métodos mais objetivos. Poderíamos fazer experiências psicológicas e coletar dados estatísticos, mas nossa imagem do homem continuaria sendo inerte, fragmentada e dispersa, sem forma e sem cor, se não for levada em conta a força criadora que a Educação exerce em sua vida individual e coletiva e no desvelamento do que é o homem a partir de sua cultura.

A filosofia vem questionar o homem, que influenciado pelo seu habitat, pode se tornar bom, ou ruim, aproveitando toda sua potencialidade. Isto é porque o homem, ser racional, pode transformar sua cultura, fazendo com que ela se expanda ou se aniquile. Isso dependerá do seu tipo de educação.

A Igreja, sempre esteve preocupada com a reflexão acerca da Cultura. Por isso, o conceito de enculturação é valorizado ao pensar a ação missionária e formativa. A enculturação não deve ser compreendida somente como adaptação, mas como um encontro com a cultura do outro, no entendimento profundo do conceito, de forma que ele possa penetrar sem causar desconfianças. Papa Paulo VI (1975) já tinha essa preocupação e expressou na Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi: “Entre evangelização e promoção humana, desenvolvimento, libertação, existem de fato laços profundos: laços de ordem antropológica, dado que o homem que há de ser evangelizado não é um ser abstrato, mas é sim um ser condicionado pelo conjunto dos problemas sociais e econômicos. (EN 31)”

A enculturação é uma reinterpretação do agir missionário e do agir formativo, que não mais se colocam como quem chega de fora para iluminar a realidade alheia. Eles precisam estar convencidos de que também podem ser iluminados pelas histórias daqueles a quem pretende evangelizar e formar. O anuncio de Jesus é pleno e misericordioso. Portanto, não podemos, em nome de Jesus, desfazer dos sentimentos e vivências do outro.

Podemos compreender a enculturação como um processo hermenêutico. Anunciar a mesma verdade, sem tirar dela uma só gota, mas anunciar de formas diferentes, quantas vezes necessitarem. Papa Paulo VI na Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi também afirmou:não admite circunscrever a sua missão apenas ao campo religioso, como se desinteressasse dos problemas temporais do homem; mas reafirmando sempre o primado da sua vocação espiritual, ela recusa-se a substituir o anúncio do reino pela proclamação das libertações puramente humanas e afirma que a sua contribuição para a libertação ficaria incompleta se ela negligenciasse anunciar a salvação em Jesus Cristo (EN 34).

João experimentou isso na prisão ao escrever o Apocalipse. O próprio Jesus assim o fez lançando mão das Parábolas. Através da cultura é possível chegar ao sentido simbólico presente e unificador de todos os homens. O homem necessita do uso simbólico para se afirmar e se conhecer. O simbólico é necessário à condição humana. O catecismo da Igreja católica diz que na vida humana, sinais e símbolos ocupam um lugar importante. Sendo o homem um ser ao mesmo tempo corporal e espiritual, exprime e percebe as realidades espirituais por meio de sinais e de símbolos materiais. Como ser social, o homem precisa de sinais e de símbolos para comunicar-se com os outros, pela linguagem, por gestos, por ações. Vale o mesmo para sua relação com Deus.

Seja qual for a cultura em que o homem nasça, estará presente sua necessidade de se afirmar. Ele buscará sempre um sentido para sua permanência. Sentido no qual terá sempre representação simbólica, que será seu alimento em relação à vida sempre misteriosa à qual pela educação deve ser dinamizada, repensada, criada e recriada.

O Documento de Aparecida apresenta (DA 476) essa possibilidade de redimensionamento e chama atenção para “o modo particular com que os homens e os povos cultivam sua relação com a natureza e com seus irmãos, consigo mesmos e com Deus, a fim de conseguir uma existência plenamente humana” (DA 476). Há insistência em apresentar a preocupação da Igreja com a enculturação. “Vemos com esperança o processo de enculturação discernido à luz do Magistério” (DA 94). Continua o Documento: “com a enculturação da fé a Igreja se enriquece com novas expressões e valores, manifestando e celebrando cada vez melhor o Mistério de Cristo, conseguindo unir mais a Fé com a vida”. (DA 479). Assim também deve acontecer em todos os espaços educativos.

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