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Quarta-feira de Cinzas: o início da Quaresma 2020

A Quarta-feira de Cinzas marca em toda a Santa Igreja o início do tempo da Quaresma, um tempo em que somos convidados a praticar o jejum, a penitência e a caridade. Não devemos confundir o período quaresmal com tristeza, com um ar de velório, mas muito pelo contrário, é um tempo no qual somos chamados por Deus a mudar algumas atitudes e chegarmos renovados na celebração da Páscoa. É o tempo do deserto, do encontro com o Senhor. Ela nos encaminha para a Páscoa!

Na Quarta-feira de Cinzas, todo católico deve participar da Santa Missa e receber em sua cabeça a imposição das cinzas. O significado não é simplesmente de receber as cinzas na cabeça, mas quer nos chamar à conversão: Convertei-vos e crede no Evangelho, e também dizer que do pó viemos e ao pó voltaremos. O povo do Antigo Israel para reparação de seus pecados punha cinzas na cabeça e se vestia de saco em sinal de penitência: “No dia vinte e quatro desse sétimo mês, o povo de Israel se reuniu para jejuar a fim de mostrar a sua tristeza pelos seus pecados. Eles já haviam se separado de todos os estrangeiros. Em sinal de tristeza, vestiram roupas feitas de pano grosseiro e puseram terra na cabeça. Então, se levantaram e começaram a confessar os pecados que eles e os seus antepassados haviam cometido. Durante mais ou menos três horas, a Lei do Senhor, seu Deus, foi lida para eles. E nas três horas seguintes, eles confessaram os seus pecados e adoraram o Senhor” (cf. Ne 9, 1-2).

A cinza feita com a queima dos ramos secos que foram abençoados no Domingo de Ramos do ano passado quer recordar que o sinal de nossa vida cristã e de nossa profissão de fé precisa ser renovado. Aliás, serão muitos os sinais que nos serão tirados durante a Quaresma e que só retornarão a partir da Semana Santa, culminando com a renovação das promessas batismais na noite da Vigília Pascal.

A Igreja no Brasil com a Quarta-feira de Cinzas também inicia a Campanha da Fraternidade, que é uma forma de tomarmos consciência de situações de pecados que têm repercussão no social e nos chama à conversão, além de toda a mudança de vida que nós somos chamados a vivenciar neste tempo favorável de jejum e penitência. Na Campanha da Fraternidade todo ano é escolhido um tema social, no qual somos chamados a viver e pô-lo em prática como um gesto concreto durante o período quaresmal. Um tema que alerta a todos nós católicos, mas também a nossa sociedade e os nossos governantes para olharem por aqueles que mais sofrem e que estão feridos em sua dignidade. Neste ano de 2020, o tema da Campanha da Fraternidade é: Fraternidade e Vida – Dom e compromisso, e o lema, “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele” (cf. Lc 10,33-34). Somos convidados a partir deste tema e deste lema a cuidar daqueles que estão feridos, esquecidos pela sociedade, que ninguém cuida, que as pessoas fingem que veem e não veem, passam adiante. Somos convidados a sermos bons samaritanos para essas pessoas e cuidar daqueles que se encontram feridos.

A intenção ao iniciar a Quaresma impondo cinzas em nossas cabeças é levar-nos ao arrependimento dos pecados, marcando o início da Quaresma, é fazer-nos lembrar de que não podemos nos apegar a esta vida, achando que a felicidade plena possa ser construída aqui. É uma ilusão perigosa. A morada definitiva é o céu.

Ao celebrarmos a Quarta-feira de Cinzas iniciamos o tempo que tem como símbolo o número 40, como encontramos em tantas outras situações do povo de Deus. Mas, de modo especial, recordamos os 40 dias que Jesus passou no deserto, sendo tentado por Satanás (iremos ouvir esse texto no primeiro domingo da Quaresma). Somos convidados a vencermos as tentações do mal no dia a dia, assim como Jesus conseguiu vencer. É o que o período quaresmal nos convida a vencer as tentações e procurar mudar de vida.

Recordamos, também, os 40 anos de peregrinação do Povo de Israel no deserto, até chegar na Terra Prometida, recordando-nos, assim, que a nossa vida é um caminhar (sair das escravidões de nossas vidas e caminhar para a vida da graça). Em cada ano renovamos essa passagem pelo deserto até chegar na Terra em que corre leite e mel. E para nós cristãos, peregrinamos aqui na Terra rumo ao Céu, onde nos encontraremos definitivamente com Deus e aguardaremos a ressurreição, assim como Jesus.

Isso nos mostra que a vida está em nós, mas não é nossa. Quando vemos uma bela rosa murchar, é como se ela estivesse nos dizendo que a beleza está nela, mas não lhe pertence.

Com a celebração da Quarta-feira de Cinzas, somos convidados a refletir que desta vida não levaremos nada, não adianta acumularmos riquezas, rancor ou ódio, ou mesmo revanchismos. Não levaremos nada daqui, mas somente o amor, a misericórdia e a compaixão, que demonstraremos aos nossos irmãos. Somente o bem que aqui plantamos e vamos colher no céu. Definitivamente, nos recorda que do pó viemos e ao pó voltaremos, por isso: convertei-vos e crede no Evangelho. Que a nossa vida não nos pertence, mas pertence a Deus.

Na Quarta-feira de Cinzas e durante o tempo quaresmal, na liturgia não se canta e nem se recita o Hino do Glória e nem o Aleluia, que só retomaremos (salvo exceções), com alegria e entusiasmo, na Vigília Pascal, na Noite Santa da Ressurreição do Senhor, porque assim entramos no sentido espiritual que esse tempo nos convida. Portanto, vivenciamos a Quaresma como um tempo voltado para a oração, a penitência e o jejum. O sacerdote durante esse tempo usa o paramento na cor roxa, chamando-nos a atenção para fazermos penitência. Há dois momentos durante o ano em que a Igreja nos exorta a fazer uma boa confissão, que é na Quaresma e no Advento. Para nos preparar para duas grandes celebrações da nossa fé – Páscoa e Natal. É claro que isso é mínimo, pois somos convidados a, em outros momentos do ano, nos confessarmos, mas esses são dois momentos fortes e propícios para isso.

Esmola, jejum e oração: tripé da espiritualidade quaresmal. Estas três palavras são propostas como características da espiritualidade da Quaresma: esmola, jejum e oração. A oração, sobretudo, deve animar a espiritualidade da Quaresma. Uma oração feita no silêncio do próprio quarto, da interioridade para meditar a Palavra, para deixar que a Palavra compenetre e transforme a nossa vida. E então, seremos capazes de jejum. Que a oração em que pedimos que o Senhor venha ao nosso encontro ilumine nosso itinerário quaresmal, para uma profunda conversão. Lembrando que não é só jejum da carne, dos alimentos, mas de palavras inúteis, do uso do celular em excesso, do uso das redes sociais em excesso, um jejum de multiplicar as fake news. A dimensão da esmola que se torna sensibilidade social, atenção aos mais pobres e solidariedade.

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Fatos que você deveria saber sobre a Quarta-feira de cinzas

No próximo dia 6 de março, a Igreja celebra a Quarta-feira de Cinzas, dando início à Quaresma, tempo de preparação para a Páscoa. Recordamos algumas coisas essenciais que todo católico precisa saber para poder viver intensamente este tempo.

01 – O que é a Quarta-feira de Cinzas?

É o primeiro dia da Quaresma, ou seja, dos 40 dias nos quais a Igreja chama os fiéis a se converterem e a se prepararem verdadeiramente para viver os mistérios da Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo durante a Semana Santa.

A Quarta-feira de Cinzas é uma celebração que está no Missal Romano, o qual explica que no final da Missa, abençoa-se e impõe-se as cinzas obtidas da queima dos ramos usados no Domingo de Ramos do ano anterior.

02 – Como nasceu a tradição de impor as cinzas?

A tradição de impor a cinza é da Igreja primitiva. Naquela época, as pessoas colocavam as cinzas na cabeça e se apresentavam ante a comunidade com um “hábito penitencial” para receber o Sacramento da Reconciliação na Quinta-feira Santa.

A Quaresma adquiriu um sentido penitencial para todos os cristãos por volta do ano 400 d.C. e, a partir do século XI, a Igreja de Roma passou a impor as cinzas no início deste tempo.

03 – Por que se impõe as cinzas?

A cinza é um símbolo. Sua função está descrita em um importante documento da Igreja, mais precisamente no artigo 125 do Diretório sobre a piedade popular e a liturgia:

“O começo dos quarenta dias de penitência, no Rito romano, caracteriza-se pelo austero símbolo das Cinzas, que caracteriza a Liturgia da Quarta-feira de Cinzas. Próprio dos antigos ritos nos quais os pecadores convertidos se submetiam à penitência canônica, o gesto de cobrir-se com cinza tem o sentido de reconhecer a própria fragilidade e mortalidade, que precisa ser redimida pela misericórdia de Deus. Este não era um gesto puramente exterior, a Igreja o conservou como sinal da atitude do coração penitente que cada batizado é chamado a assumir no itinerário quaresmal. Deve-se ajudar os fiéis, que vão receber as Cinzas, para que aprendam o significado interior que este gesto tem, que abre a cada pessoa a conversão e ao esforço da renovação pascal”.

04 – O que as cinzas simbolizam e o que recordam?

A palavra cinza, que provém do latim “cinis”, representa o produto da combustão de algo pelo fogo. Esta adotou desde muito cedo um sentido simbólico de morte, expiração, mas também de humildade e penitência.

A cinza, como sinal de humildade, recorda ao cristão a sua origem e o seu fim: “E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra” (Gn 2,7); “até que te tornes à terra; porque dela foste tomado; porquanto és pó e em pó te tornarás” (Gn 3,19).

05 – Onde podemos conseguir as cinzas?

Para a cerimônia devem ser queimados os restos dos ramos abençoados no Domingo de Ramos do ano anterior. Estes recebem água benta e logo são aromatizados com incenso.

06 – Como se impõe as cinzas?

Este ato acontece durante a Missa, depois da homilia, e está permitido que os leigos ajudem o sacerdote. As cinzas são impostas na fronte, em forma de cruz, enquanto o ministro pronuncia as palavras Bíblicas: “Lembra-te de que és pó e ao pó voltarás” ou “Convertei-vos e crede no Evangelho”.

07 – O que devem fazer quando não há sacerdote?

Quando não há sacerdote, a imposição das cinzas pode ser realizada sem Missa, de forma extraordinária. Entretanto, é recomendável que antes do ato participem da liturgia da palavra.

É importante recordar que a bênção das cinzas, como todo sacramental, somente pode ser feita por um sacerdote ou um diácono.

08 – Quem pode receber as cinzas?

Qualquer pessoa pode receber este sacramental, inclusive os não católicos. Como explica o Catecismo (1670 ss.), “sacramentais não conferem a graça do Espírito Santo à maneira dos sacramentos; mas, pela oração da Igreja, preparam para receber a graça e dispõem para cooperar com ela”.

09 – A imposição das cinzas é obrigatória?

A Quarta-feira de Cinzas não é dia de preceito e, portanto, não é obrigatória. Não obstante, nesse dia muitas pessoas costumam participar da Santa Missa, algo que sempre é recomendável.

10 – Quanto tempo é necessário permanecer com a cinza na fronte?

Quanto tempo a pessoa quiser. Não existe um tempo determinado.

11 – O jejum e a abstinência são necessários?

O jejum e a abstinência são obrigatórios durante a Quarta-feira de Cinzas, como também na Sexta-feira Santa, para as pessoas maiores de 18 e menores de 60 anos. Fora desses limites, é opcional. Nesse dia, os fiéis podem ter uma refeição “principal” uma vez durante o dia.

A abstinência de comer carne é obrigatória a partir dos 14 anos. Todas as sextas-feiras da Quaresma também são de abstinência obrigatória. As sextas-feiras do ano também são dias de abstinência. O gesto, dependendo da determinação da Conferência Episcopal de cada país, pode ser substituído por outro tipo de mortificação ou oferecimento como a oração do terço.

Diego López Marina  – acidigital.com / Portal Kairós