A CF é oportunidade para lembrar que não somos adversários, mas irmãos

Natália Lambert e Leonardo Cavalcanti publicaram entrevista no Jornal Correio Braziliense realizada com dom Leonardo Steiner, secretário-geral da CNBB sobre o tema da Campanha da Fraternidade.

Por que a escolha do tema violência? Que tipo de violência a campanha pretende enfrentar?
A Campanha da Fraternidade, realizada pela CNBB desde os anos de 1960, já tratou da violência tanto de maneira direta e explícita como apontando a presença dela em vários outros temas. Este ano, a realidade a ser refletida e rezada não é exatamente a violência, mas a superação dela. A violência é palpável e sofremos o impacto da mesma. O importante é buscar como Igreja, sociedade, comunidade, caminhos de relações mais fraternas. A campanha propõe refletir e agir para superar qualquer tipo de violência. Partimos da constatação de que há múltiplas formas de violência e podemos superá-la com a participação de todos, construindo a fraternidade por meio da promoção de uma cultura da paz, de reconciliação e de justiça.

A violência nas redes sociais também será abordada?
A CNBB preparou um vasto estudo sobre a violência e os caminhos que podemos trilhar para superá-la. O principal resultado desse estudo é um texto-base no qual se encontra uma boa síntese do que pretendemos refletir durante a Quaresma. A violência nas redes sociais, especialmente na polarização política, reflete a cultura da violência em geral. O texto-base afirma: “Considerando que o poder midiático influencia na formação de opinião e no comportamento das pessoas, precisamos estimular a cultura da tolerância, do respeito e da paz em nossa prática cotidiana e nas redes sociais. Por esta razão, ao fazer uso das redes sociais com postagens e mensagens que contribuam com o crescimento das pessoas e da sociedade, bem como não alimentar ou reencaminhar vídeos ou mensagens que estimulem o ódio, estaremos diminuindo a violência midiática”.

Dom Leonardo: “A CF é oportunidade para lembrar que não somos adversários, mas irmãos”.

Dom Leonardo: “A CF é oportunidade para lembrar que não somos adversários,

Dom Leonardo Steiner

Como a Igreja pode contribuir no combate à violência?
O agir é uma consequência da nossa fé. Para combater, é preciso não somente fazer grandes coisas, mas agir no cotidiano, como diz o Papa Francisco: “Todos desejamos a paz, muitas pessoas a constroem todos os dias com pequenos gestos; muitos sofrem e suportam pacientemente a dificuldade de tantas tentativas para a construir”. A complexa realidade da violência no Brasil pede uma diversidade de iniciativas para a superação. Não há uma fórmula pronta. Refletir, discutir e rezar é o primeiro passo. Outros passos são: propor a ética como medida das relações sociais; exigir uma segurança pública para todos, questionando o investimento que se faz na preparação das pessoas; manifestar descontentamento com a corrupção, que é uma das violências que deterioram as relações políticas e sociais. Cada um de nós é convocado a mudar, de algum modo, nos ambientes que vivemos e com as pessoas com as quais dividimos nosso destino social.

Os jovens são as principais vítimas da violência. Como alcançar esse público?
Papa Francisco convocou uma Sínodo sobre os jovens com a temática voltada para a juventude no mundo inteiro. Por isso, nossos jovens têm procurado refletir sobre a situação de violência que eles enfrentam todos os dias. No âmbito da campanha, procuramos apresentar pistas de ação bem concretas para estimular a participação dos jovens nos conselhos municipais e estaduais da juventude nos quais poderão dar ideias, elaborar e acompanhar a execução de políticas públicas. Além disso, toda a comunidade é chamada a dar atenção e acompanhar, com seriedade, os jovens usuários de drogas para ajudá-los no duro caminho de volta à saúde plena e, além disso, denunciar a rede do narcotráfico.

Qual a opinião da Igreja sobre a violência nos presídios?
Na elaboração dos subsídios, buscamos incluir a gritante situação do sistema carcerário, especialmente o aumento da violência nos ambientes prisionais promovido por disputas de facções criminosas. São mais de 650 mil presos, vivendo em condições degradantes. Em vez de praticar os ideais de recuperação e reintegração das pessoas, as prisões transformam-se em depósitos de supostos “maus elementos” a serem reprimidos e, se possível, esquecidos pela sociedade. De dentro das prisões, presos gerenciam organizações criminosas que controlam parte da criminalidade violenta dentro e fora das prisões. A CNBB mantém sua solicitude para com essa realidade por meio do cuidado constante da Pastoral Carcerária. É urgente discutir com a sociedade o nosso sistema prisional, o modo e os motivos do encarceramento e os trâmites da justiça em relação aos presos.

O que a Igreja tem a dizer sobre cristãos que defendem o porte de arma?
O estudo que foi feito na preparação da campanha deste ano dedicou um capítulo importante para a questão do desarmamento. Em 2005, houve um referendo e a população brasileira rejeitou o dispositivo do estatuto que proibia a venda de armas no Brasil. Hoje, se percebe que a violência aumentou e as pessoas não se sentem mais seguras porque podem portar armas. A paz é fruto da justiça e não do armamento. Ele nem sequer é uma forma preventiva para se conter a violência. Na verdade, o armamento é um dos instrumentos que contribui para as manifestações de violência. É uma espécie de “olho por olho, dente por dente”. Por isso, somos favoráveis ao Estatuto do Desarmamento como ferramenta para o enfrentamento da violência. A campanha deste ano é oportunidade para que todos, cristãos e pessoas de boa vontade, reflitam sobre esse e tantos outros problemas relacionados a violência e se lembrem que não somos adversários, mas irmãos.

Conheça o Cartaz da Campanha da Fraternidade 2019

 

CNBB

Os melhores subsídios para a Campanha da Fraternidade 2018

Sabendo da importância da Campanha da Fraternidade, o Portal Kairós gostaria de trazer para você “os melhores subsídios” que podem ajudar sua comunidade, paróquia e pastoral a compreenderem melhor a importância deste momento da Igreja no Brasil.

Os materiais são práticos e permitem a você e aos membros de sua comunidade se aprofundarem na dinâmica pastoral deste tempo.

 

Semanário litúrgico-catequético – CF 2018 (Partituras):

 

PowerPoint do texto-base com 68 slides:

 

Página pra imprimir: hino e oração da CF 2018:

 

Sugestões de músicas para a Quaresma 2018 – Ano B (letras):

 

Mais sobre o texto-base da CF 2018:

 

Imagens de crianças para usar na catequese (desenhos para ilustrar seu material):

 

Jogo da memória para crianças – Vós sois todos irmãos:

 

Via-Sacra Campanha da Fraternidade 2018 – CF 2018:

 

Apresentação em PowerPoint do Padre Lino Brunel (ótimo material):

 

Vários exemplos de Spots para rádios sobre a CF 2018:

 

PowerPoint com oração e hino da CF 2018:

 

Atividades para a Catequese sobre a CF 2018:

 

Música e partitura para Via-Sacra:

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Versões do Hino da CF 2018 que você precisa conhecer!

Versões do Hino da CF 2018:

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HINO DA CF 2018
Letra: Frei Zilmar Augusto, OFM
Música: Pe. Wallison Rodrigues

01 – Neste tempo quaresmal, ó Deus da vida,
A tua Igreja se propõe a superar.
A violência que está nas mãos do mundo,
E sai do íntimo de quem não sabe amar. (Mc 7,21)

Refrão:
Fraternidade é superar a violência! (Mt 14, 1-12)
É derramar, em vez de sangue, mais perdão! (Jo 20, 21-23)
É fermentar na humanidade o amor fraterno! (Mt 13, 33)
Pois Jesus disse que “somos todos irmãos.” (Mt 23,8) (2x)

02 – Quem plantar a paz e o bem pelo caminho,
E cultivá-los com carinho e proteção,
Não mais verá a violência em sua terra. (Is 59,6)
Levar a paz é compromisso do cristão! (Ef 6, 15)

03 – A exclusão que leva à morte tanta gente, (EG 59)
Corrompe vidas e destrói a criação. (LS 70)
– “Basta de guerra e violência, ó Deus clemente!” (Mq 2,2)
É o clamor dos filhos teus em oração.

04 – Venha a nós, Senhor, teu Reino de justiça,
Pleno de paz, de harmonia e unidade. (Mt 6, 10 e Rm 15, 17-19)
Sonhamos ver um novo céu e uma nova terra:
Todos na roda da feliz fraternidade. (Ap 21, 1-7)

05 – Tua Igreja tem o coração aberto, (EG 46-49)
E nos ensina o amor a cada irmão.
Em Jesus Cristo, acolhe, ama e perdoa,
Quem fez o mal, caiu em si, e quer perdão. (Mt 18, 21)

Baixe a música e cifra desta versão

Download apenas do Hino: (sem falas)

 

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E ainda uma versão Pop-Rock
Eduardo Alves – Diocese de Marília

  1. Versão Pop-Rock do Hino da CF 2018 Eduardo Alves

Download do Hino:

 

Ajuda para você tocar o Hino da CF 2018

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Os melhores subsídios para a CF 2018

Novos subsídios para a Campanha da Fraternidade 2018 – Terceira parte

– Oração e Hino da CF-2018

– Perfil e Mapeamento da Violência no Distrito Fedral e os Reflexos Com o Entorno – Universidade Católica – Arquitetura e Urbanismo – Doutora em Políticas de Segurança Pública – Prof.ª Marcelle Gomes Figueira.

– Caminhos Apresentados pela Bíblia para Superação da Violência no DF – As Propostas do Texto-Base da CF-2018 – Bispo-Auxiliar de Brasília e Secretário-Geral da CNBB – Dom Leonardo Ulrich Steiner.

– Pastorais, Movimentos e Associações de Leigos e de Vida Consagrada – Carismas a Serviço da Superação da Violência no DF – Dra. Kédina de Fátima Gonçalves Rodrigues.

– Jovens, desigualdades sociais e a superação da violência no DF – Com a Professora e Dra. Maria Aparecida Penso, professora da Universidade Católica (UCB) e membro do programa de pós-graduação em psicologia.

– O compromisso dos fiéis leigos e leigas com a superação da Violência no Ano Nacional do Laicato de 2018 – Com o Dr. Mauro Almeida Noleto, Mestre em Direito e membro da Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de Brasília.

– Pistas para ações concretas da CF-2018 no âmbito da Ação Pastoral da Arquidiocese de Brasília – Com o bispo-auxiliar de Brasília: dom Marcony Vinicius Ferreira.

– Atitudes de respeito com o pedestre e com os condutores de Veículos na superação da violência do trânsito no DF (Vídeos abaixo) – Com o Diretor de Educação de Trânsito do DETRAN – DF: Sr. Álvaro Sebastião Teixeira Ribeiro.

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Horizontes de construção da paz e de superação da violência

“Eu sempre penso que a violência é uma coisa aprendida. E se é aprendida, também pode ser desaprendida”. Desta forma padre Vilson Groh, 62 anos, sintetiza a compreensão que orienta sua atuação nas periferias da grande Florianópolis (SC), há 35 anos, num reconhecido trabalho que chegou a chamar a atenção do papa Francisco.

O padre que busca “agarrar” a esperança que se esconde por traz dos olhos da população empobrecida, especialmente dos jovens negros, público prioritário do seu trabalho, só acredita ser possível construir um caminho de paz por meio da atuação em redes de projetos, que envolvam governos e sociedade civil na criação de novos espaços públicos não estatais e de controle social, num grande pacto de luta contra a violência.

O religioso tira conclusões da própria experiência. Ele chegou a Florianópolis (SC) aos 22 anos, após cursar filosofia na Fundação Educacional de Brusque, sua terra natal. Na capital do estado começou a fazer Teologia. Em 1983, no último ano do curso, iniciou um trabalho no morro Mocotó, uma das áreas mais pobres da cidade. Foi aí que iniciou a luta pela regularização fundiária, urbanização do local e acolhimento de crianças, jovens e adultos, trabalho que se expandiu para outros territórios. Neste período, segundo ele, foram regularizadas e urbanizadas mais de 64 áreas de terra na grande Florianópolis.

Há cinco anos, o padre criou o Instituto Vilson Groh (IVG), organização que articula uma série de projetos e entidades e que, só nos primeiros dois meses de 2017, atendeu mais de 5 mil crianças, adolescentes e jovens por meio de seus diferentes projetos. Em 2016, foram 16 mil.

Tendo a educação como prioridade, o IVG apresenta um horizonte palpável de esperança às crianças, adolescentes e jovens, com os quais desenvolve um projeto pedagógico e de vida que vai dos 6 anos ao ingresso na Universidade. Foi este trabalho que despertou a atenção do papa Francisco que o convidou para uma audiência no Vaticano, em fevereiro deste ano.

A capacidade de mobilização do padre Vilson Groh vem mudando não apenas o acesso à moradia, mas também o colorido das paisagens por onde passa. Por meio do projeto Mocotó Cor e do trabalho voluntário, um exemplo de intervenção nos bairros onde atua, ele vem dando um colorido especial às fachadas das casas.

“Só por meio da nossa capacidade de fazer uma opção pelas periferias geográficas, como diz o papa Francisco, e se deixar tocar por essas realidades; Por meio da compreensão de uma Igreja em saída, entrando nestas ‘galileias’ empobrecidas e voltando ao método de Jesus, o método do encontro”, o religioso que vem transformado territórios e pessoas, acredita ser possível superar a violência e construir um caminho de paz.

As ideias do padre foram tomando forma na década de 80 primeiro por meio da Associação de Amigos da Casa da Criança do Adolescente do Mocotó, que hoje faz parte do Instituto Vilson Groh. Hoje a rede IVG abrange o Centro de Educação Popular, o Centro Cultural Escrava Anastácia, o Centro Social Elisabeth Sarkamp, o Centro Cultural Marista São José, a Associação João Paulo II e o Centro Educacional Marista Lúcia Mayvorne. O IVG oferece ainda cursinho pré-vestibular gratuito para os jovens da periferia.

As periferias geográficas de que fala o papa Francisco coincidem com a reflexão proposta pela Campanha da Fraternidade 2018 que, encarando o tema da violência, fala em seu texto-base da existência de territórios marcados pela extrema violência. No próximo ano, a Igreja no Brasil vai refletir sobre o tema e suas diferentes formas de manifestação direta, indireta e institucional na perspectiva da sua superação e da construção de uma cultura da paz.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) define a violência pelo uso intencional da força contra si mesmo, contra outra pessoa ou contra um grupo de pessoas, de modo a resultar em dano físico, sexual, psicológico ou morte.

Segundo o arcebispo de Brasília (DF) e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), cardeal Sergio da Rocha, há um clamor pela superação da violência, nas suas variadas formas, que tanto sofrimento tem trazido ao povo brasileiro. “Com a CF 2018, esperamos poder envolver as comunidades e a todos, estimulando a reflexão e a busca de soluções para a sua superação”, diz.

Guerra letal e silenciosa – O tema que está no centro das preocupações dos brasileiros figura nas pesquisas que apontam o Brasil como um dos países mais violentos do mundo. A nota técnica do Atlas da Violência, de março de 2016, fruto da parceria do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, demonstra que apesar de possuir menos de 3% da população mundial, o país responde por quase 13% dos assassinatos no planeta. Em 2014, o Brasil chegou ao topo do ranking, considerado o número absoluto de homicídios. Foram 59.627 mortes segundo o Ipea.

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