CF 2020: Quem era o Bom Samaritano?
Parábola: uma catequese de atitude. O exemplo do bom samaritano (Lc 10, 25-37)
Introdução
Jesus foi um mestre de seu tempo. Teve como meta, sua única preocupação, o anúncio e instauração do Reino de Deus. Com certa frequência, vemos nos evangelhos, frases que acenam admiração diante do seu modo de ensinar fazendo e ao fazer ensinava. “Quando Jesus acabou de proferir essas parábolas, partiu dali… maravilhavam-se e diziam: De onde lhe vêm essa sabedoria e esses milagres?” (Mt 13,53-54); “Responderam os guardas: Jamais um homem falou assim” (Jo 7,46); “Todos testemunhavam a seu respeito, e admiravam-se das palavras cheias de graça que saiam de sua boca” (Lc 4,22); “De onde lhe vem tudo isto? E que sabedoria é esta que lhe foi dada?” (Mc 6,2).
Quando optamos por ver os caminhos feitos pelo Jesus histórico, observamos que sua vida foi direcionada para as coisas do Reino, tendo como ponto de partida o sofrimento das mulheres e dos homens. Os escritos de Marcos (1,14), Mateus (5,1-12) e Lucas (4,16-21) insistem em inaugurar a atividade pública de Jesus, após um episódio que afetou a vida interna da comunidade. Não temos dúvidas de que na sua historicidade, Jesus foi considerado como um anunciador extraordinário.
O termo parábola “parabolê”, no grego, surge como uma palavra composta para (lado) e ballô (lançar). Oferece a ideia de falar de algo que é impossível explicar diretamente, mas recorrendo à figura de linguagem que se encontra ao lado no desejo de explicar uma determinada realidade ou oferecer uma resposta por comparação ou analogia. Ao recorrer ao gênero das parábolas – termo dito pelos próprios evangelistas – Jesus procurou manifestar uma nova maneira de compreender e relacionar-se com Deus, com a vida das mulheres e homens, com uma postura ética voltada para o fortalecimento dos laços humanos. Um Deus muito próximo das fraquezas humanas, mas ao mesmo tempo, uma divindade que conta com a colaboração humana para ser conhecido no interior da sociedade. Por meio das parábolas podemos descobrir um Jesus que ensina a partir da realidade, da cultura, dos problemas, dos desejos das pessoas do seu tempo. Deu amplos sinais de superar a exclusão sustentada na lei do puro e impuro. As parábolas revelam um Jesus “plugado” nos desafios e nas realidades de sua época. Com as parábolas Jesus quis revelar aos seus ouvintes a chegada do Reino de Deus. Mostrou-lhes as possibilidades de viver numa sociedade sem excluídos e privilegiados.
Parte 1
Parábolas no Antigo Testamento
Este gênero literário não é originário do Novo Testamento. Encontramos parábolas nas narrativas históricas do Antigo Israel. Na primeira tentativa de instaurar a monarquia sobre as antigas experiências tribais – modelo de vida descentralizado e partilhado – encontramos na violenta e fratricida experiência de Abimelec e ao seu redor uma inquietante parábola. Os autores deuteronomistas não escondem que o modelo político de reorganizar as relações sociais, o comércio e o uso da religião a serviço do rei é centralizador, violento e injusto (DIETRICH, 2013, p. 24).
Em seu desejo de ser rei, Abimelec não esconde seu plano. Vem a Siquem, reúne todo o clã da casa paterna de sua mãe, busca apoio junto aos homens notáveis e lhes expõe seu plano centralizador: “Que será melhor para vós: que setenta homens, todos filhos de Jerobaal, dominem sobre vós, ou que um só homem domine?” (Jz 9,2). Mas o plano deve ser sustentado por um viés ideológico. Para justificá-lo, Abimelec busca na condição de parentesco a justificativa. Eis o argumento: “Lembrai-vos de que eu sou osso vosso e carne vossa” (Jz 9,2b). Em um regime tribal todos se preocupam com a vida e sobrevivência de todos. A marca essencial passa a ser, o que é meu, também pertence ao todo. É nesse laço de convivência fraterna que esta o argumento de Abimelec. Às demais lideranças não restam outra escolha. E por ser considerado “nosso irmão” (Jz 9,3), recebe apoio financeiro e com certa quantia recruta homens vadios e aventureiros para por em prática seu projeto de realeza. Tem em mãos prestígio – delegado por seus irmãos – dinheiro e uma certa força militar. Resta-lhe executar o plano. Traiçoeiramente, vem à casa de seu pai e mata seus irmãos em um só lugar, restando somente seu irmão mais novo, Joatão, salvo por ter se escondido. Pronto. Está instituído a monarquia por meio de um tremendo golpe violento.
Mas ao irmão sobrevivente resta fazer a denúncia. A parábola, uma das mais antigas narrativas bíblicas, apresenta uma severa crítica à monarquia. As árvores nobres não aceitam reinar, mas o espinheiro, inútil e perigoso ao propagar o fogo, aceita a função:
“Levaram a notícia a Joatão, e ele subiu ao cume do monte Garizim e lhes disse em alta voz: ´Homens notáveis de Siquém, ouvi-me, para que Deus vos ouça! Um dia as árvores se puseram a caminho para ungir um rei que reinasse sobre elas. Disseram à oliveira: ‘Reine sobre nós!’ A oliveira lhes respondeu: ‘Renunciaria eu ao meu azeite, que tanto honra aos deuses como os homens, a fim de balançar-me sobre as árvores?’ ” (Jz 9,7-9).
Oportuno perceber o início da narrativa e como, recorrendo ao uso das árvores frutíferas – oliveira, figueira e videira – fundamentais para a economia na região, a narrativa expõe o perigo de um governo centralizado na pessoa do rei, aqui, exemplificado na imagem do espinheiro, que por sua natureza é incapaz de oferecer abrigo e sombra, aceita reinar após as seguidas renúncias das nobres árvores.
O estilo parabólico, ontem como hoje, retrata uma experiência de vida que quando dito, verbalizado toda gente compreende. São afirmações comparativas acontecem no desejo de inquietar, chamar certa atenção do ouvinte. Levá-lo a pensar e optar por uma atitude. Não há teoria. Há algo prático. Para o já. Inadiável. Um modo de ensinar marcado por cinco momentos: atenta escuta, reflexão, inquietação, discernimento e tomada de atitude.
Outras parábolas encontramos ao redor de imagens contrapondo o espinho e o cedro (2Rs 14,9-10); o mau rico (2Sm 12,1-9) e os dois irmãos (2Sm 14,4-10). Todas expondo enigmas com forte aceno político ao redor da posição adotada pelo monarca. Inquieta-nos saber se o rei atuará no desejo de agir com justiça e na base do direito. Já nas narrativas proféticas o uso das parábolas tem uma finalidade eminentemente teológica. Acentuam o agir divino em prol do povo: a imagem do leão (Am 3,4-8), a ovelha ferida (Am 3,12; Mq 4,6-7), o povo arredio (Os 7,11; 4,16; 9,10). Outras, visam denunciar o desvio do povo no uso da idolatria que oprime e destrói sua organização social: a vinha (Is 5,1-7; Ez 15; Is 27), o agricultor (Is 28,23-29) e a imagem alegórica dos figos (Jr 24).
Parte 2
Parábolas no evangelho de Lucas
Na época da redação final do evangelho de Lucas, entre os anos 60 a 80, já na segunda geração após a morte de Jesus, responsável pela redação do evangelho, as comunidades adeptas ao Caminho se encontram amplamente inseridas no universo cultural romano e longe da cidade de Jerusalém (Cf. At 11,26) se encontravam dispersas. As mulheres e homens, dessa geração, não conheceram o Jesus real. Não conviveram com o mestre, mas guardaram seus ensinamentos recebidos por meio da tradição oral. Considerando os informes contidos no Evangelho e na obra dos Atos dos Apóstolos, podemos concluir com rigor, que os elementos essenciais aos escritos de Lucas tiveram como fontes “as testemunhas oculares e ministros da Palavra” (Lc 1,2). Estamos diante de duas obras escritas pelo mesmo autor ou por uma mesma escola (RICHARD, 2003, p. 8).
Das oitenta e cinco parábolas que encontramos no conjunto dos textos que compõem as narrativas sinóticas de Mateus, Marcos e Lucas, sessenta e seis estão no evangelho de Lucas. Não resta dúvida de que o senso de historiador do autor do terceiro evangelho demonstra grande apreço por este gênero narrativo.
Na terceira parte da obra lucana, composta pelos capítulos 9,51 – 19,27, parte essa, conhecida como narrativas da subida para Jerusalém, nosso autor concentra sua atenção nas exigências para quem deseja marcar sua vida no seguimento e testemunho de Jesus:
- Para seguir o mestre é necessária uma vida marcada pela vigilância na oração e a providência (9,51-13,21),
- O testemunho de Jesus é exigente. Há uma severa proposta ética: o esforço de passar pela porta estreita (13,24). Não há como ser sinal do projeto novo longe da vida e desafios dos pobres. A bondade divina não se enquadra num comportamento pauta pela hipocrisia, muito menos na lei do puro X impuro (Lc 15),
- A gratidão torna-se um apelo constante e impõe vigilância no interior da comunidade (Lc 17,1-10), para que os apelos pela riqueza e bens desse mundo não sejam obstáculos para o testemunho, espelhado em seu encontro com Zaqueu (Lc 19,1-27).
Considerando o conjunto das normas expressas no livro do Levítico 19,3-18, cremos que nosso autor, não só considera as respectivas normas éticas, como as re-lês no desejo de expor, aos seus destinatários, já em um universo marcado pela cultura grego-romana, sua maneira de compreender o comportamento de Deus junto aos necessitados. O encontro do doutor da lei e Jesus é profundamente marcado pelo desejo de conhecer mais e agir coerentemente em acordo como afirma a Lei. Oportuno observar a narrativa:
E eis que um legista se levantou e disse para experimentá-lo: “Mestre, que farei para herdar a vida eterna? Ele disse: “Que está escrito na Lei? Como lês?” Ele, então respondeu: “Amarás o Senhor teu Deus, de todo o coração, de toda a tua alma, com toda a tua forca e de todo o teu entendimento; e ao próximo como a ti mesmo”. Jesus disse: “Respondeste corretamente; faze isso e viverás”
Ele, porém, querendo se justificar, disse a Jesus: “E quem é o meu próximo?” Jesus retomou: “Um homem descia de Jerusalém para Jerico, e caiu no meio de assaltantes que, após havê-lo despojado e espancado, foram-se, deixando-o semimorto. Casualmente, descia por esse caminho um sacerdote; viu-o e passou adiante. Igualmente um levita, atravessando esse lugar, viu-o e prosseguiu. Certo samaritano em viagem, porem, chegou junto dele, viu-o e moveu-se de compaixão. Aproximou-se, cuidou de suas chagas, derramando óleo e vinho, depois colocou-o em seu próprio animal, conduziu- o à hospedaria e dispensou-lhe cuidados. No dia seguinte, tirou dois denários e deu-os ao hospedeiro, dizendo: ‘Cuida dele,, e o que gastares a mais, em meu regresso te pagarei’. Qual dos três, em tua opinião, foi o próximo do homem que caiu nas mãos dos assaltantes?” Ele respondeu: “Aquele que usou de misericórdia para com ele”. Jesus então lhe disse: ‘Vai, e também tu, faze o mesmo”.
Parte 3
Um diálogo motivado pelo interesse da Lei
O encontro do homem especialista em Lei e o universo de Jesus acontece mediado pela preocupação de como interpretar e praticar as normas expressas na Lei. Trata-se de um diálogo ao redor das normas éticas contidas no livro do Levítico 19.
Cremos ser oportuno, de início, não reforçar qualquer interpretação antijudaica, mas deixar ser tocado pela força simbólica da narrativa. O interprete da lei quer saber mais, para viver de modo mais intenso a Lei. Não se aproxima para por Jesus a um tipo de prova. Não visa armar-lhe uma armadilha e pô-lo em alguma situação vexatória. Na narrativa, Lucas faz questão de dar a Jesus o título de destaque: “Mestre, que farei para herdar a vida eterna? (v. 25). Há um grau de destaque atribuído a Jesus. O homem, embora sendo um perito na interpretação da Lei, procura saber mais, por isso pergunta.
A conversa se torna mais consistente ao dar como resposta à questão exposta por Jesus, o texto do Shemá Israel, contida em Dt 6, 4-9. A oração, ainda hoje, é recitada duas vezes por toda mulher e homem que pratica a religião judaica. Na tradição judaica o Shema deve ser recitado pela manhã – prece de Shacharit – e ao anoitecer – prece de Arvit. O encontro de Jesus – elevado à condição de Mestre – e o interprete da Lei, se realiza na esfera da proclamação da fé e conhecimento do Deus único (URBACH, 1996, p.25-42). Ambos, Jesus e o legista, estão de acordo. O encontro se aprofunda, na medida em que Jesus ouve a segunda pergunta: “E quem é o meu próximo?” (v. 29). À resposta vem acompanhada da força da parábola do bom samaritano.
Parte 3.1
Ao redor da vitima há três atitudes
Na historicidade de Jesus, as narrativas de Mateus, Marcos e Lucas o apresentam como uma pessoa marcada pela cultura da roça, do universo do interior, da periferia da Galileia. Seu modo de falar e se expressar, sua visão de mundo, em nada condiz com alguém oriundo da cidade mas do interior, da pequena vila de Nazaré (Cf. Lc 2,51). Na elucidação para determinar a categoria de quem é o meu próximo vem marcado por três distintas atitudes.
A parábola do bom samaritano serve para ilustrar o momento que passamos, com tantas multidões à beira da estrada. Aquele que se encontra na beira da estrada nada tem, nada pode e nada sabe. Diante dele, o que passa pode ter três atitudes. Vejamos:
A atitude do ladrão
De um certo modo os seres humanos podem ser considerados por essas três dimensões: ter, poder, saber. Na sociedade atual somos o que consumimos. Somos na capacidade do que podemos mostrar aos outros. Consumo, logo sou. Tenho que ser notado. Nesse aspecto, a moral do ladrão, do assaltante é a seguinte: “O que é meu, é só meu. O que é seu, deve ser meu e, se você não me der, eu te mato”. Não precisamos ir longe para ver, no Brasil de hoje, essa moral de assaltante que tolhe, mata e rouba.
A atitude do sacerdote e do levita
A moral do sacerdote e do levita, em relação ao homem que estava quase morto, à beira da estrada, é a seguinte: “O que é meu, é meu. O que é seu, é seu. Estou numa boa. Você está na pior, dane-se”. Como tantos, os levitas e sacerdotes de hoje não querem se envolver com pessoas necessitadas. Não buscam pensar soluções estruturais, políticas públicas que pautem pela diminuição da pobreza, da igualdade entre mulheres e homens, dos direitos das crianças e adolescentes, dos esforços pela preservação e manutenção dos recursos naturais e garanti-los às futuras gerações. Nada inquieta tais grupos de acomodados. A indignação diante do sofrimento do outro, da destruição sistêmica da natureza são realidades incapazes de motivar gestos de solidariedade e compaixão. Para tal grupo de pessoas sempre será mais fácil encontrar ou forjar desculpas para o não comprometimento.
A atitude do bom samaritano
Enfim, a terceira atitude revela mais que uma moral, revela um projeto de vida: “O que é meu, é realmente meu quando pode se tornar nosso”. O bom samaritano se aproxima do homem que estava sem consciência e faz com que adquira consciência por seu contato. Ele partilha. Oportuno observar a métrica que o texto adquire na sequência dos verbos: “chegou junto…, viu-o e moveu-se de compaixão. Aproximou-se, cuidou de suas chagas” (v. 33- 34).
A atitude da partilha com o necessitado oferece-lhe condições do empoderamento. Eis o sentido do amor que dá a vida. Oferece plenas condições do outro ser e não ficar à margem. Neste sentido, os milagres de Jesus apontam para uma ação pública diretamente voltada para beneficiar o outro. Visa tirá-lo da situação marginal que se encontra. A atitude solidária faz o outro a outra ter plena condições de poder. O samaritano, com seu gesto, faz o outro ter (aspecto econômico), faz o outro poder (aspecto político) e faz o outro saber (aspecto cultural), tornando possível àquele caído na estrada assumir a consciência de sua dignidade.
Palavra Final
Que esta Campanha da Fraternidade seja uma rica oportunidade para descobrir as irmãs e irmãos que se encontram à margem. Possa proporcionar ricos e alegres momentos de conversas, belas rodas de conversas, estudos e programas no desejo de ver na outra e no outro meus próximos. Que na maturidade de bons samaritanos e samaritanas, sejamos capazes de apoiar e cuidar da mais pobre entre os pobres: nossa mãe terra, como bem nos alerta o papa Francisco.
Não podemos nos esquecer dos ensinamentos de nossos mestres do passado: as noites escuras que nos impõem medo, ameaças, visam nos silenciar, passarão lentamente, e no compasso da vida irão nos apresentar Deus logo à frente. As veredas do bom samaritano sejam motivos para tirar da letargia nossa juventude, hoje, marcada, em sua maioria, pelo medo, a indiferença e a covardia. Leve-nos a sempre ver que a dor do outro é mais importante que a minha dor. A dor do próximo não é qualquer dor. Nossas dores se curam quando a dor do outro eu a levo em meus ombros, pois da minha dor o Senhor irá curar. Nossa coragem vem de Deus, pois sem ele ninguém é santo, ninguém é forte. Uma vez que misericórdia vem de “miseris cor dare”, isto é, dar o coração ao miserável. Dar o coração não é olhar de cima, nem fazer para. É fazer com.
Padre Antonio Carlos Frizzo / Portal Kairós
Doutor em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e professor de teologia bíblica no ITESP (Instituto São Paulo de Estudos Superiores), São Paulo e na Faculdade Católica de São José dos Campos. Assessor do Centro Bíblico Verbo, SP e membro da Equipe de Coordenação do Curso Fé e Política na cidade de Guarulhos. É padre Católico há 35 anos na cidade de Guarulhos, SP.
Referências bibliográficas
DELORME, Jean; THÉRIAULT, Jean-Yves; Pour lire les paraboles. Paris: Cerf & MédiasPAUL, 2012.
DIETRICH, Luis José; Violências em nome de Deus: monoteísmo, diversidades e direitos humanos. São Leopoldo: CEBI, 2013.
SCHOTTROFF, Luise; As parábolas de Jesus: uma nova hermenêutica. São Leopoldo: Sinodal, 2007.
RICHARD, Pablo; O evangelho de Lucas – Estrutura e chaves para uma interpretação global do evangelho. RIBLA. Vol. 44, p. 8, 2003.
URBACH, Ephraïm E; Les sages d´Israël: conceptions et croyances des maîtres du Talmud. Paris: Cerf, 1996.