Resumo do texto-base do 4º Congresso Vocacional do Brasil

Pastoral Vocacional

A CAMINHADA DA PASTORAL VOCACIONAL: CONTEXTO E MEMÓRIA

Nos dias 21 a 23 de junho, no Colégio Maristinha, em Brasília (DF), aconteceu o Pré-Congresso Vocacional do Brasil para a Vida Religiosa Consagrada com o tema: “Vocação 360°; Mostra-me, Senhor, os teus caminhos” (Sl 25,4).

A caminhada vocacional da Igreja do Brasil

À luz do Documento de Aparecida e em conformidade com as Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (2015-2019), fazemos uma breve memória de alguns importantes acontecimentos vocacionais. Em âmbito mundial recordamos a recente celebração dos 50 anos do Concílio Vaticano II (1962-1965) e os 50 anos da instituição do Dia Mundial de Oração pelas Vocações (1964). Em âmbito continental, os dois Congressos Vocacionais da América Latina e Caribe (1994 e 2011). Em âmbito nacional, os dois Anos Vocacionais (1983 e 2003); os três Congressos Vocacionais (1999, 2005 e 2010), e o Simpósio Vocacional do Brasil (2014). A caminhada da Igreja no Brasil a compromete cada vez mais com a dimensão vocacional. Em cada etapa desse processo, a ação pastoral, que promove as vocações específicas e desenvolve a consciência vocacional de todos os batizados, tendo sido enriquecida com novos elementos, dinâmicas, conceitos e linguagem. Recentemente, a Conferência dos Bispos reafirmou que a “a pastoral vocacional se torna prioritária neste novo momento da história da evangelização, colaborando para suscitar e acompanhar vocações para o serviço da comunidade e para a atuação profético-transformadora na sociedade”.

Na caminhada vocacional alguns eventos foram determinantes para a construção da identidade que hoje caracteriza o serviço de animação vocacional na Igreja do Brasil. O Concílio Vaticano II, ao resgatar a experiência eclesial cristã primordial, recupera, sobretudo, sua eclesiologia de comunhão. Esta sensibilidade suscita na Igreja, a partir da Europa e depois na América Latina, uma grande preocupação com a questão vocacional e dá origem a uma série de iniciativas. Esse contexto contribui para que, na Igreja do Brasil, passos significativos sejam dados com o objetivo de incrementar uma consciência vocacional em todo o Povo de Deus, resgatando a comunidade eclesial como o lugar da efetiva participação de todos os batizados na missão da Igreja.

As inúmeras iniciativas e experiências bem sucedidas nos vários regionais da CNBB e nas dioceses levam a instituir “agosto” como o mês vocacional; assumido em âmbito nacional, em 1981, com o objetivo de ser um tempo especial de reflexão e oração pelas vocações e ministérios. A mesma Assembleia aprova também a celebração de um Ano Vocacional (1983), durante o qual, para atender à solicitação da 20ª Assembleia Geral da CNBB, foi publicado um Guia Pedagógico de Pastoral Vocacional, que representa um marco importante na trajetória vocacional da Igreja no Brasil.

A realização do I Ano Vocacional (1983), com o tema: “Vem e segue-me”, mobiliza a Igreja do Brasil em um grande mutirão pelas vocações “gerando uma nova mentalidade e uma nova consciência vocacional”. Favorece e amplia o reconhecimento de que toda a comunidade cristã é responsável pela promoção, cultivo e formação das vocações. A fecundidade desse tempo gerou muitos frutos que perduram até hoje. Nesse contexto, em 1993, funda-se o Instituto de Pastoral Vocacional constituído por congregações e institutos religiosos de carisma vocacional, com o objetivo de “servir a Igreja no campo das vocações e ministérios”; missão que desenvolve através da Escola Vocacional (ESPAV), simpósios, publicações e assessorias.

Em 1999, realiza-se o I Congresso Vocacional. Com o tema: “Vocações e Ministérios para o Novo Milênio” e o lema: “Coragem! Levanta-te, Ele te chama!” (Mc 10, 49b), o evento promove uma grande mobilização nacional em vista do grande sonho de termos uma Igreja plenamente consciente de ser uma assembleia de pessoas, convocadas e reunidas pela Trindade, na riqueza da diversidade e complementaridade das vocações, carismas e ministérios. A animação vocacional avança em sua compreensão como um serviço que amplia o conceito de PV, ou seja, todos são chamados para a missão evangelizadora, para assumir a diversidade de ministérios, também os confiados aos cristãos leigos e leigas. Este Congresso recolhe e aprofunda a rica experiência da Igreja do Brasil no campo das vocações, constituindo-se em um marco referencial para o SAV no terceiro milênio.

O II Ano Vocacional, em 2003, marca os 20 anos do I Ano Vocacional do Brasil e destaca-se pela profundidade de sua reflexão em torno do tema: “Batismo, fonte de todas as vocações”, e o lema: “Avancem para águas mais profundas” (Lc 5, 4). O Batismo é a fonte da comum dignidade e da legítima diversidade. Teve como objetivo“ ajudar a Igreja a perceber-se como assembleia dos vocacionados e vocacionadas”, “motivar todos os batizados para que se reconheçam como pessoas que foram chamadas pelo Pai (Jo 6, 44.65), escolhidas pelo Filho (Jo 15, 16) e enviadas em missão pelo Espírito” (At 13, 1-3). O II Ano Vocacional promove um novo despertar vocacional, levando todos os cristãos/ãs a assumirem na comunidade eclesial e na sociedade, sua própria vocação e missão batismal. Esta clareza vocacional gera a convicção de que todos são chamados à santidade (Ef 1, 4) e suscita uma animação vocacional que inclui todas as vocações, necessárias para que a comunidade cumpra a sua missão.

O II Ano Vocacional favorece a consciência vocacional das comunidades, a redescoberta da universalidade da vocação e a valorização das equipes vocacionais paroquiais e diocesanas; ajuda, ainda, a perceber melhor o sentido e o valor da vocação batismal e amplia a compreensão da teologia da vocação e das vocações. Além da preocupação com as vocações para o ministério ordenado e para a vida consagrada, a animação vocacional deve incluir a vocação dos cristãos leigos e leigas, e fazer florescer todos os ministérios que a comunidade eclesial e a sociedade necessitam. Este evento ressalta a convicção de que todos os batizados, além de serem chamados, são também responsáveis pelo cuidado das vocações, ou seja, o sujeito ativo da animação vocacional é a comunidade eclesial. Nesse contexto, emerge com toda força que a PV, mais do que uma pastoral entre outras, é uma dimensão conatural e essencial para a vida da Igreja e para a sua ação evangelizadora.

O II Congresso Vocacional (2005) recolhe, celebra e consolida a maturidade da caminhada vocacional. Com seu tema: “Igreja, Povo de Deus a serviço da vida” e o lema: “Ide também vós para a minha vinha” (Mt 20, 4), fortalece a visão eclesial de Povo de Deus, assembleia dos chamados e enviados para trabalhar na vinha do Senhor; insiste na importância e necessidade da organização, do planejamento e do método pedagógico no SAV; descobre as novas “praças” para a missão de animar as vocações; reforça a atenção para o itinerário vocacional com suas várias etapas; fundamenta a essencial importância da espiritualidade do animador vocacional. O legado do II Congresso concentra-se na retomada da antropologia da vocação, no convite a visitar e conhecer outras “praças”, na urgência e necessidade do método pedagógico no SAV. Apresenta pistas e diretrizes concretas quanto ao método pedagógico, ao planejamento e à organização vocacional; ao lugar, missão e espiritualidade do SAV; ao itinerário vocacional, contemplando as etapas do despertar, discernir, cultivar e acompanhar.

Em 2010, o III Congresso Vocacional, com o tema: “Discípulos missionários a serviço das vocações”, e o lema: “Ide, pois, fazer discípulos entre todas as nações” (Mt 28, 19), reflete sobre as “vocações no atual contexto sociocultural e eclesial” e aprofunda a “teologia do discipulado e da missão”. Mais uma vez, o Congresso evidencia a dimensão eclesial do SAV e enfatiza que “todos os membros da Igreja, sem exceção, têm a graça e a responsabilidade do cuidado das vocações, a começar na família, em continuidade na comunidade eclesial”. À luz da Conferência de Aparecida e do Sínodo da Palavra, oferece propostas e estratégias para uma ação vocacional ampla e efetiva, que favoreça atitudes de discipulado missionário. O III Congresso consolida a identidade e a missão do animador e da animadora vocacional, que deve empenhar-se para ajudar, sobretudo os jovens, a descobrir o sentido da vida e o projeto que Deus tem para cada um. Esse Congresso destaca, ainda, a necessidade da oração pelas vocações, fundamental para criar uma sensibilidade e receptividade diante do chamado do Senhor.

Para impulsionar as estratégias da Cultura Vocacional no Brasil, foi realizado o Simpósio Vocacional. O evento refletiu sobre o tema “Ide e anunciai! Vocações diversas para uma grande missão!” Cada região elaborou sua carta conclusiva de compromisso vocacional. O Simpósio teve como objetivos fomentar a cultura vocacional na ação evangelizadora da Igreja no Brasil e avançar no discipulado missionário como legado batismal, na comunhão e complementaridade de vocações e ministérios na comunidade eclesial. O Simpósio Vocacional foi uma continuação dos eventos anteriores para a edificação da Cultura Vocacional. A Cultura Vocacional é uma “questão cristológica”. Está no coração do evangelho, Jesus foi um promotor vocacional: chamou, formou e enviou em missão. A Igreja precisa investir mais na promoção vocacional, pois, constata-se uma diminuição no número de vocacionados(as).

Ente outros encaminhamentos do Simpósio estão tornar conhecidos os subsídios e documentos já produzidos e estimular a formação vocacional permanente para padres, seminaristas e lideranças das pastorais, movimentos, congregações e institutos seculares. Dentre as principais propostas incentivadas pelo evento, algumas indicações foram: que as agendas paroquiais, diocesanas e regionais contemplem as propostas, indicações e atividades vocacionais; dinamizem datas estratégicas para a animação vocacional; e proponham práticas como as Celebrações Eucarísticas, Lectio Divina, terços, horas santas, vigílias e outros momentos de oração.

No Continente Latino-americano e Caribenho, onde a teologia procura responder à realidade existencial de seu povo, a caminhada vocacional vem sendo marcada pela realização de Congressos que expressaram os anseios de uma Igreja que deseja ser toda ela ministerial, consciente dos compromissos batismais, geradora de discípulos missionários de Jesus Cristo. Em 1994, em Itaici, realizou-se o I Congresso Continental Latino-americano de Vocações que teve como tema a “A Pastoral Vocacional no Continente da Esperança”.

Quanto à pastoral vocacional, Aparecida diz que a PV é “responsabilidade de todo o povo de Deus, começa na família e continua na comunidade cristã, deve dirigir-se às crianças e especialmente aos jovens para ajudá-los a descobrir o sentido da vida e o projeto que Deus tem para cada um, acompanhando-os em seu processo de discernimento. Plenamente integrada no âmbito da pastoral ordinária, a pastoral vocacional é fruto de uma sólida pastoral de conjunto, nas famílias, na paróquia, nas escolas católicas e nas demais instituições eclesiais. É necessário intensificar de diversas maneiras a oração pelas vocações, com a qual também se contribui para criar maior sensibilidade e receptividade diante do chamado do Senhor; assim como promover e coordenar diversas iniciativas vocacionais. As vocações são dom de Deus; portanto, em cada diocese, não devem faltar orações especiais ao Dono da messe”.

O Documento Conclusivo do II Congresso Continental Latino-americano de Vocações (2011), afirma que a “pastoral vocacional é, ao mesmo tempo, um serviço à pastoral de conjunto; uma atividade ‘essencial e conatural’ à pastoral das Igrejas locais; uma extensão da maternidade da Igreja que, com Maria, ama e chama seus filhos; um ministério ‘transversal’ de toda pastoral. A partir de uma compreensão aberta das vocações, permite ‘vocacionalizar as pastorais’ e desenvolver o que cada uma delas possui nesse sentido”. Para tornar realidade uma verdadeira cultura vocacional, devemos “levar a animação vocacional a ultrapassar as fronteiras da Igreja, com utilização criativa e responsável dos meios de comunicação social e das novas linguagens, com especial atenção à idiossincrasia latino-americana”. O Documento afirma, ainda, que para chegar a uma “vocacionalidade batismal”, é necessário “passar da pastoral vocacional, sem descartá-la nem descuidá-la, para a animação vocacional da pastoral e da espiritualidade. […] Ampliar a consciência vocacional da Igreja em relação tanto à vida sacerdotal e à consagrada como a outras e novas formas de chamado, dons, carismas com as quais o Espírito Santo continua enriquecendo e diversificando a Igreja, para o bem dela própria e de sua missão evangelizadora”.

 

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