Vaticano: Conferência sobre buracos negros e desafios da cosmologia
Cidade do Vaticano (RV) – “Buracos Negros, Ondas Gravitacionais e Singularidade do Espaço-Tempo”: esse é o tema da Conferência que se realizará desta terça até a próxima sexta-feira (9 a 12 de maio) na Specola Vaticana, em Castel Gandolfo, nas proximidades de Roma.
O evento quer celebrar a herança científica do cosmólogo e sacerdote belga, Mons. Georges Lemaître, considerado o pai da teoria do Big-Bang, ex-diretor da Pontifícia Academia das Ciências de 1960 a 1966, ano de sua morte.
Organizada com a contribuição do Instituto nacional italiano de Astrofísica, a Conferência foi apresentada na manhã desta segunda-feira (08/05) na Sala de Imprensa da Santa Sé pelo planetologista e diretor do Observatório Astronômico Vaticano (Specola Vaticana), Pe. Guy Consolmagno, e os cosmólogos Pe. Gabriele Gionti, Alfio Bonanno e Fabio Scardigli.
O que aconteceu nos primeiros instantes do Big-Bang, quando a partir de um Átomo originário tudo teria tido início? Qual é o destino último do cosmo? Quais sãos os limites da cosmologia moderna? A Conferência tem como finalidade encorajar um intercâmbio profícuo entre cosmologia teórica e observacional, para entender quais desafios científicos poderão ser explorados no futuro próximo.
Entre cientistas convidados do mundo inteiro encontram-se o Nobel de Física Gerald’t Hoof e Roger Penrose e os cosmólogos George Ellis, Andrei Linde e Joe Silk.
Pe. Consolmagno recordou que a Specola Vaticana “foi fundada em 1891 pelo Papa Leão XIII para mostrar ao mundo que a Igreja apoia a boa ciência. Mas para fazer isso é preciso ter uma boa ciência”, esperando que o encontro desta semana “possa ser um exemplo de ciência verdadeiramente emocionante!” – acrescentou.
O cosmólogo da Specola Vaticana, Pe. Gionti, recordou a genialidade de Pe. Lemaître:
“Em 1927 publicou o famoso artigo no qual mostrava que o aumento do distanciamento entre as galáxias se devia a uma nova cosmologia, que nascia de uma solução das equações da relatividade geral de Albert Einstein, que tinham sido descobertas há pouco tempo. Todavia, ele foi uma pessoa muito modesta e humilde: jamais fez grande publicidade desta sua descoberta, que é fundamental.”
O que aconteceria se caíssemos num buraco negro? Essa é uma das questões mais esperadas para esta Conferência. O cosmólogo do Observatório Astrofísico de Catania – sul da Itália –, Bonanno, respondeu:
“Uma primeira resposta que deixa todos atônitos é a seguinte: ‘Dento de um buraco negro, o espaço torna-se tempo e o tempo torna-se espaço’. Pode parecer uma brincadeira, mas na realidade não é. Esta é a solução matemática, dentro de um buraco negro. Ademais, há outros mistérios matemáticos: parece, a partir da equação de Einstein, que seja possível utilizar os buracos negros para ter uma coleção de universos, um pegado no outro. Ora, a pergunta é: são objetos matemáticos ou têm uma dignidade científica? Esperamos poder dizer algo ou poder intuir algo nestes dias de Conferência na Especola Vaticana.”
Trata-se de uma Conferência que constitui um marco para a cosmologia moderna, ressaltou ainda Bonanno:
“A cosmologia moderna tem grandes ‘monstros’ a serem combatidos, atualmente. De um lado, este objeto estranho que ainda não sabemos decifrar, que é a matéria obscura, razão pela qual os astrônomos observam que deve existir nas galáxias uma matéria adjunta, graças à qual explicar as velocidades radiais, como as galáxias giram, porém, esta matéria adjunta não se vê e não sabemos ainda a sua natureza. Em inglês chama-se dark matter, que constitui cerca de 30% da matéria total do universo. Além disso, temos o problema da dark energy (energia obscura): em 1998, a partir da medida de algumas supernovas de tipo A foi revelado que o universo não somente se expande, mas na realidade acelera, e essa aceleração – que na física é sintoma da presença de uma força que é contrária à gravidade – não sabemos o que venha a ser. Lemaître tinha entendido esse objeto que se chama energia obscura, mas propriamente porque é obscura não sabemos bem de que se trata. Basta pensar que a energia obscura constitui 68-69% da massa de energia total do universo: portanto, estamos diante de um problema substancial para a cosmologia contemporânea.”
Daí, a importância de relançar um diálogo frutuoso na comunidade científica, como explicou o cosmólogo da Scardigli, da Politécnica de Milão:
“A finalidade desta conferência é exatamente a seguinte: buscar – de certo modo – fazer com que dialoguem ou se juntem essas duas grandíssimas construções teóricas da física do Séc. XX, que são de um lado a relatividade geral e de outro a mecânica quântica, que se falam entre si mas talvez – por assim dizer – não se entendam completamente entre si.” (RL/RG)