A história de São Sebastião

SÃO SEBASTIÃO – 20 DE JANEIRO

SÃO SEBASTIÃO FOI UM DOS MUITOS SOLDADOS ROMANOS (assim como São Jorge e Santo Expedito) martirizados por sua fé em Jesus. Infelizmente, tudo o que temos sobre este santo é o que está nas atas de seu martírio, que foram escritas dois séculos mais tarde.

Conta a história que os escribas tinham ordens de colocar nessas atas detalhes do martírio, mas dar pouca ênfase à história do martirizado. Isso acontecia para assustar os cristãos, pois essas atas eram colocadas na cidade onde ocorria o martírio e na Biblioteca Romana, para que todos pudessem ter conhecimento da história e assim desestimular a adesão ao cristianismo. Cada igreja particular, isto é, cada diocese, tinha o seu martirológio, ou seja, a relação dos membros de sua comunidade que sofreram o martírio. Comemorava-se   o   dia   de   sua   morte   com   a   celebração   da   sua   memória, principalmente nos locais onde estavam suas relíquias.

No século XVI a Igreja Católica Romana decidiu unificar esses martirológios num documento único, formando assim o Martirológio Romano, um livro litúrgico que forma um catálogo de santos e beatos honrados pela Igreja Católica. Apesar de o nome significar “Mártires de Roma”, hoje nele estão inclusos santos e beatos não mártires do mundo inteiro.

O número de santos contidos nas atas dos mártires (Acta Martyrum) se aproxima de milhares e muitos são famosos. Para alguns pesquisadores, o número total nos primeiros quatro séculos é de aproximadamente 10 mil, para outros, chega a mais de 100 mil. Muitos são desconhecidos, mas se considerarmos também aqueles que não foram mortos, mas tiveram seus bens confiscados, o desterro, os cárceres, acredito que esse número aumentaria bastante.

A versão oficial da Igreja Católica, que celebra dia 20 de janeiro a festa do santo, está registrada no livro Legenda áurea, no Martirológio (354) e nas Acta Santorum e conta a história de um soldado nascido no ano de 250, em Narbona, cidade do Império Romano que pertencia à Província da Gália, hoje sul da França, e que tinha feito secretamente muitos atos de amor e caridade para com os irmãos cristãos.

A Paixão de São Sebastião, narrada nas Acta Sanctorum, escritas no final do século v, não pode ser interpretada como biografia ou ata de registro de fatos e palavras. É a transmissão dos valores cristãos tendo um mártir cultuado como testemunha de Cristo na vida até a morte. Acta Sanctorum são as únicas referências históricas onde percebemos o modo de pensar dos cristãos no século V quanto aos valores éticos pelos quais se deveria viver e morrer.

Os detalhes do martírio de Sebastião foram elaborados pela primeira vez por Ambrósio de Milão (397 d.C.), em seu sermão (número XX) sobre o Salmo 118 e está em Actos Apócrifos a ele atribuídos.

São Sebastião nasceu no século III da Era Cristã, durante o papado de São Marcelino (296-304), e quem governava o Império Romano nessa época era Diocleciano (208-305). A grande perseguição aos cristãos romanos aconteceu na época de Diocleciano, que foi proclamado imperador em 17 de novembro de 284 e era fiel ao tradicional culto romano.

Diocleciano, conhecido como grande administrador, colocou em prática, no ano de 286, um plano para combater os inimigos que o acometiam, unindo-se ao seu amigo Maximiano (286-305) e designando-lhe a parte ocidental do Império Romano, enquanto ele governava a oriental. Ambos seriam tratados com o título de “augusto”. Mais tarde, no ano de 293, Diocleciano fez uma nova subdivisão do império, designando dois “Césares” para auxiliar os “Augustos” no governo. Galério Máximo, militar valente, inculto, fanático adorador dos ídolos e inimigo dos cristãos, foi indicado por Diocleciano como césar oriental; e, como césar do ocidente, Constâncio Cloro, pai do futuro imperador Constantino, um general bondoso e competente.

Diocleciano, sob a influência de Galério, reuniu, no ano 303, um conselho secreto, tendo como plano principal acabar com o cristianismo no império. César Galério conseguiu convencer Diocleciano, cuja esposa e filha eram cristãs, do perigo que os cristãos representavam para o Estado. Em um primeiro edito geral, ordenava para todo o império a destruição das igrejas e dos livros sagrados e privava os cristãos de seus cargos e títulos, não lhes reconhecendo direito algum diante dos tribunais civis.

“Eu, Caio Aurélio Valério Diocleciano, imperador de Roma, ordeno que sejam demolidas todas as igrejas em todas as províncias do império. Que sejam cortadas as cabeças daqueles que participarem de quaisquer reuniões secretas. Sejam confiscados todos os bens eclesiásticos e todas as comunidades sejam derrubadas. Aqueles que se recusarem a prestar as homenagens aos deuses de Roma, se forem cidadãos, que sejam excluídos de honras e empregos; se forem escravos, que percam a esperança de liberdade. Que sejam aceitas quaisquer acusações contra os cristãos e não se admitam ou permitam nenhum apelo ou desculpa a favor deles.”

Nessa perseguição, nem o Papa São Marcelino foi poupado. Segundo pesquisas, o papa de número 29 morreu em 304, em Verona, durante a perseguição de Diocleciano, não como mártir, embora seu nome figure na lista dos mártires do imperador, e foi sepultado na Catacumba de Santa Priscila. Foi sucedido por São Marcelo I (308-309), tendo a igreja ficado sem papa durante quatro anos nesse período. No século v, os hereges donatistas africanos julgaram São Marcelino traidor da fé, mas foi reabilitado em consequência da perseguição a que foi submetido pelo imperador que, no clímax da violência, incendiou igrejas, queimou textos sagrados e deixou entre suas vítimas mártires como Santa Lúcia, Santa Inês, Santa Bibiana, São Sebastião e São Luciano.

E assim se iniciou a maior e mais sangrenta perseguição aos cristãos durante o Império Romano.

Foi nessa época que São Sebastião viveu e, para ajudar esses irmãos na fé, ele decidiu seguir a carreira militar, onde nunca deixou de lado sua identidade, vivendo uma autêntica vida cristã.

 

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