Artigo especial sobre a Campanha da Fraternidade 2017

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil acabou de publicar o Texto-Base da Campanha da Fraternidade 2017. Esta Campanha tem como tema: “Fraternidade: biomas brasileiros e defesa da vida”, e como lema: “Cultivar e guardar a criação” (Gn 2, 15). A palavra bioma é uma palavra estranha para muitas pessoas.

O Texto-Base define bioma como “a vida que se manifesta em um conjunto semelhante de vegetação, água, superfície e animais”, e acrescenta “Um bioma é formado por todos os seres vivos de uma determinada região, cujo clima é mais ou menos uniforme, e cuja formação tem uma história comum”.

Portanto, podemos compreender que “um bioma é formado por todos os seres vivos de uma determinada região cuja vegetação e é similar e contínua, cujo clima é mais ou menos uniforme, e cuja formação tem uma história comum”. (cf. MALVEZZI, R., Semiárido: Uma Visão Holística, CONFEIA, Brasília, 2007). Muitas pessoas ficarão surpresas em saber que o Brasil tem seis biomas, a Amazônia, a Caatinga, o Cerrado, a mata Atlântica, o Pantanal, e o bioma Pampa.

O objetivo geral da CF 2017 é “Cuidar da criação, de modo especial dos biomas brasileiros, dons de Deus, e promover relações fraternas com a vida e a cultura dos povos, à luz do Evangelho”

A Campanha tem nada menos de oito objetivos específicos: “a) Aprofundar o conhecimento de cada bioma, de suas belezas, de seus significados e importância para a vida no planeta, particularmente para o povo brasileiro; b) Conhecer melhor e nos comprometer com as populações originárias, reconhecer seus direitos, sua pertença ao povo brasileiro, respeitando sua história, suas culturas, seus territórios e seu modo específico de viver; c) Reforçar o compromisso com a biodiversidade, os solos, as águas, nossos paisagens e o clima variado e rico que abrange o chamado território brasileiro; d)  Compreender o impacto das grandes concentrações populacionais sobre o bioma em que se insere; e) Manter a articulação com outras igrejas, organizações da sociedade civil, centros de pesquisa e todas as pessoas de boa vontade que querem a preservação das riquezas naturais e o bem-estar do povo brasileiro;  f) Comprometer as autoridades públicas para assumir a responsabilidade sobre o meio ambiente e a defesa desses povos; g) Contribuir  para  a construção de um novo paradigma econômico ecológico que atenda às necessidades de todas as pessoas e famílias, respeitando a natureza; h) Compreender o desafio da conversão ecológica a que nos chama o Papa Francisco na carta encíclica Laudato Si` e sua relação com o espírito quaresmal” (cf. p.16 do Texto-Base).

O Capítulo 111 do Texto-Base mostra claramente que o agir da CF de 2017 está em completa sintonia com a Doutrina Social da Igreja Católica, com a encíclica Laudato Si`, e com a CF Ecumênica de 2016. Há uma rica bibliografia com 63 referências (cf.ps. 127/133).

Pe. Brendan Coleman Mc Donald, Redentorista e Assessor da CNBB Reg. NE1

Treinamento sobre a CF 2017 na Arquidiocese de Olinda e Recife

A Campanha da Fraternidade 2017 tem como tema Fraternidade: Biomas brasileiros e defesa da vida e no âmbito da Arquidiocese de Olinda e Recife, as pastorais e paróquias já estão se preparando para disseminar entre os paroquianos e comunidade religiosa as informações sobre a iniciativa. Uma dica interessante para se aprofundar na Campanha da Fraternidade é participar da chave de leitura (palestra) gratuita que a Paulinas Livraria Recife está promovendo, nos meses de janeiro e fevereiro. A formação apresenta o tema de maneira didática, fornece embasamento teórico e sugere leituras, estratégias de divulgação e práticas pedagógicas a serem desenvolvidas na comunidade pastoral. Segundo a Irmã Ivonete Kuerten, irmã Paulina que dirige a Paulinas Livraria Recife e também ministra a palestra, é possível mobilizar a comunidade, sensibilizando e evangelizando a todos, provocando uma mudança de hábitos a partir de pequenos gestos.
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“O tema do zelo pela Natureza, abordado na CF deste ano é riquíssimo de possibilidades a serem trabalhadas e deve ser desenvolvido ao longo de todo o ano, não apenas na Quaresma.“, ressalta a dirigente.  Na introdução da palestra, a irmã Ivonete apresentou o Hino, o vídeo e a oração da campanha. O público presente à palestra pôde acompanhar  o histórico das Campanhas da Fraternidade, desde o seu surgimento, em 1964, lembrando que os temas trabalhados pela Igreja vêm evoluindo e provocando desdobramentos que geram repercussões e mudanças de alcance mundial, que extrapolam a atuação eclesial e a evangelização, conectando-se com a sociedade em geral, preocupando-se com a dignidade humana, como o tráfico humano, por exemplo (CF 2014: Fraternidade e Tráfico Humano).

CF17O lançamento da CF 2017 pela Arquidiocese de Olinda e Recife está programado para o dia 1° de março (14h), no Jardim Botânico, bairro do Curado, Recife.
O Comunicador Social Antônio Junior, um dos facilitadores da palestra, apresentou os Biomas brasileiros, respaldando-se em dados de pesquisas sobre o meio-ambiente e informando sites para o aprofundamento dos dados.  Serão enfocados os biomas brasileiros do Pantanal, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Amazônia e Pampas. Para mostrar que é possível preservar a Natureza sem grandes custos, que basta ter a vontade inabalável e a fé em Cristo, Antônio Junior convidou a senhora Irle Firmo, bandeirante pernambucana, ambientalista que fundou em 2009 o projeto Criando Raízes.

Desde 2009, Irle distrubui mudas de pau-brasil por onde circula. “Além de dar nome ao nosso país, o pau-brasil (Caesalpinia echinata) é uma espécie nativa do bioma Mata Atlântica, sendo uma das árvores mais valiosas, pois sua madeira é nobre, de qualidade reconhecida internacionalmente, usada na confecção de violinos, violas, arcos para violino e harpas. É importante replantar esta espécie porque ela foi explorada predatoriamente pelos colonizadores portugueses“, ensina a ambientalista. As mudas distribuídas pelo projeto nascem de sementes coletadas e plantadas por Irle, a partir de um pé de pau-brasil que ela possui em sua residência, no bairro da Várzea. Esta árvore de Caesalpinia echinata eu ganhei de um padre que foi meu professor, na juventude. Com ele aprendi a amar a natureza.

No momento, Irle está cuidando de trinta mudas de pau-brasil para serem plantadas em um bosque, ao lado na capela Nossa Senhora das Graças, dentro do Instituto Ricardo Brennand, na Várzea. Porém, algo aborrece a inquieta ambientalista: ultimamente os galhos do seu pé de pau-brasil têm dispersado as sementes apenas no terreno de seu vizinho. Pergunto a Irle se este “capricho” da árvore não seria um recado na natureza, um convite indireto ao vizinho, para se tornar, ele também, um zelador da Mata Atlântica… Ela não se dá por vencida e com a atitude que e própria dos incansáveis ambientalistas, mostra um delicado relicário que carrega na bolsa, como chaveiro: um pequeno círculo de vidro envolto numa estrutura metálica e traz em seu interior uma semente de pau-brasil em formato de coração. “Não resisti e guardei esta semente para mim”, confessa sorrindo.

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Das articulações e encontros, nascem as iniciativas. Após diálogos com Irle Firmo, do projeto Criando Raízes, Antônio Junior, da Paulinas Livraria, está organizando com a Juventude Vicentina Mariana da paróquia de Nossa Senhora do Rosário, da Várzea, um passeio ciclístico ecológico pelo bairro da Várzea, no período da quaresma. A iniciativa tem por objetivo despertar na população a consciência ambiental e colocar em prática os temas propostos pela Campanha da Fraternidade 2017. São iniciativas simples, como esta, que a Natureza carece e o planeta urge. A Campanha da Fraternidade 2017 mostra-se como uma oportunidade para cada pessoa plantar dentro de si e multiplicar o amor pelos objetos da criação divina. E você, o que pretende fazer para preservar o bioma onde está inserida a sua comunidade paroquial?
Para quem desejar, na Paulinas Livraria Recife é possível adquirir a camiseta da CF 2017 (R$ 30,00), o texto-base da CF 2017 (R$ 11,80) e a revista voltada para o ensino religioso Diálogo, religião e cultura (R$ 15,00), que na edição deste mês dá ênfase ao tema Biomas brasileiros.

As inscrições para a palestra Fraternidade: Biomas brasileiros e defesa da vida são grátis e podem ser realizadas pelo telefone da Paulinas Livraria: (81) 3224-5812. Confira as datas das próximas chaves de leitura (palestras) sobre a Campanha da Fraternidade 2017, na Paulinas Livraria do Recife:

1º de fevereiro (das 14 às 17h)
08/02 (das 09 às 12h)
15/02 (das 14 às 17h)
22/02 (das 09 às 12h)

 

Pascom Arquidiocese

Objetivos da Campanha da Fraternidade 2017

Objetivo geral

Cuidar da criação, de modo especial dos biomas brasileiros, dons de Deus, e promover relações fraternas com a vida e a cultura dos povos, à luz do Evangelho.

Objetivos específicos

01 – Aprofundar o conhecimento de cada bioma, de suas belezas, de seus significados e importância para a vida no planeta, particularmente para o povo brasileiro.

02 – Conhecer melhor e nos comprometer com as populações originárias, reconhecer seus direitos, sua pertença ao povo brasileiro, respeitando sua história, suas culturas, seus territórios e seu modo específico de viver.

03 – Reforçar o compromisso com a biodiversidade, os solos, as águas, nossas paisagens e o clima variado e rico que abrange o chamado território brasileiro.

04 – Compreender o impacto das grandes concentrações populacionais sobre o bioma em que se insere.

05 – Manter a articulação com outras igrejas, organizações da sociedade civil, centros de pesquisa e todas as pessoas de boa vontade que querem a preservação das riquezas naturais e o bem-estar do povo brasileiro.

06 – Comprometer as autoridades públicas para assumir a responsabilidade sobre o meio ambiente e a defesa desses povos.

07 – Contribuir para a construção de um novo paradigma econômico ecológico que atenda às necessidades de todas as pessoas e famílias, respeitando a natureza.

08 – Compreender o desafio da conversão ecológica a que nos chama o nosso Papa Francisco na carta encíclica Laudato Si’ e sua relação com o espírito quaresmal.

 

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Apresentamos a Campanha da Fraternidade 2017

  1. Alexandre Pires - ASA CF 2017
Apresentação

Recebemos o dom da fé! Seguir Jesus Cristo, viver das palavras, da vida, morte e ressureição, é graça. Cultivar a fé, exercitar-se é guardar. Guardados, cuidados pelo dom do Seguimento de Jesus que transforma e matura: plenitude da vida. Cultivar a fé e ser guardado pela fé abre para o cuidado dos irmãos e de toda a obra criada.

A Quaresma nos provoca e convoca à conversão, mudança de vida: cultivar o caminho do seguimento de Jesus Cristo. Os exercícios do cultivo que a Igreja nos propõe, no tempo da Quaresma, são aqueles que abrem nossa pessoa à graça do encontro: jejum, oração e esmola.
Jejum: esvaziamento, expropriação, libertação e não privação. O jejum abre nossa pessoa para a receptividade da vida em Cristo. Oração: súplica de exposição na tentativa de ser atingido pela misericórdia.
Esmola é partilha, o amor partilhado. Deixar-se tocar pela presença do mendigo que cuida do doador.

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Todos os anos, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) apresenta a Campanha da Fraternidade como caminho de conversão quaresmal, como itinerário do cultivo e do cuidado comunitário e social. “Fraternidade: biomas brasileiros e defesa da vida” é o tema da Campanha para a Quaresma em 2017. O lema é inspirado no texto do Livro do Génesis 2,15: “Cultivar e guardar a criação”.
A Campanha tem como objetivo geral: “Cuidar da criação, de modo especial dos biomas brasileiros, dons de Deus, e promover relações fraternas com a vida e a cultura dos povos, à luz do Evangelho”.

Bioma quer dizer a vida que se manifesta em um conjunto semelhante de vegetação, água, superfície e animais. Uma “paisagem” que mostra uma unidade entre os diversos elementos da natureza. “Um bioma é formado por todos os seres vivos de uma determinada região, cuja vegetação é similar e contínua, cujo clima é mais ou menos uniforme, e cuja formação tem uma história comum.”
Como é extraordinária a beleza e diversidade da natureza do Brasil. Ao abordarmos os biomas brasileiros e lembrarmos dos povos originários que neles habitam, trazemos à meditação a obra benfazeja de Deus. Admirar a diversidade de cada bioma e criar relações respeitosas com a vida e a cultura dos povos que neles vivem!

Cultivar e guardar nasce da admiração! A beleza que toma o coração faz com que nos inclinemos com reverência diante da criação.
A campanha deseja, antes de tudo, levar à admiração, para que todo o cristão seja um cultivador e guardador da obra criada. Tocados pela magnanimidade e bondade dos biomas, seremos conduzidos à conversão, isto é, a cultivar e a guardar.

A depredação dos biomas é a manifestação da crise ecológica que pede uma profunda conversão interior. “Entretanto, temos de reconhecer também que alguns cristãos, até comprometidos e piedosos, com o pretexto do realismo pragmático, frequentemente se omitem das preocupações pelo meio ambiente. Outros são passivos, não se decidem a mudar os seus hábitos e tornam-se incoerentes. Falta-lhes, pois, uma conversão ecológica, que comporta deixar emergir, nas relações com o mundo que os rodeia, todas as consequências do encontro com Jesus.
Viver a vocação de guardiões da obra de Deus não é algo de opcional nem um aspecto secundário da experiência cristã, mas parte essencial de uma existência virtuosa” (LS, n. 217).

Ao meditarmos e rezarmos os biomas e as pessoas que neles vivem sejamos conduzidos à vida nova. Todos nós cristãos recebemos o dom da fé e, na fé, somos despertados para o cultivo e cuidado. São Gregório Magno, em uma das suas homilias, perguntava-se:
“Que gênero de pessoas são aquelas que se apresentam sem hábito nupcial? Em que consiste este hábito e como se pode adquiri-lo?”.
E a sua resposta é: “Aqueles que foram chamados e se apresentam, de alguma maneira, têm fé. É a fé que lhes abre a porta; mas falta-lhes o hábito nupcial do amor. Cultivar e guardar tem a dinâmica do amor.
Somos convidados ao hábito do cuidado e do cultivo”.

O Ano Nacional Mariano celebra os 300 anos do encontro da Imagem de Nossa Aparecida com os pescadores do rio Paraíba. Encontro que desperta o cuidado e fortalece o cultivo. Cuidado com o Mistério revelado e cultivo da familiaridade. Hoje, é o rio que pede cuidado e cultivo.

Maria, Mãe de Jesus, nos acompanhe no caminho de conversão!
Jesus Cristo crucificado-ressuscitado que transformou todas as coisas nos desperte para participação do cuidado com a obra criada!

A todos os irmãos e irmãs, todas as famílias e comunidades, uma Abençoada cada Páscoa!

Dom Leonardo Ulrich Steiner
Bispo Auxiliar de Brasília – DF
Secretário-Geral da CNBB

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A complexidade e desafios na evangelização da Amazônia

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Quanto mais um carisma dirigir o seu olhar para o coração do Evangelho, tanto mais eclesial será o seu exercício. (Papa Francisco)

A complexidade eclesial da Amazônia

Amazônia é um mundo complexo e, nela, a Igreja católica, uma presença complexa, não homogênea, porque as questões locais são muito diversificadas. Portanto, o nosso desafio é o nosso próprio desafio  eclesial amazônico.

O processo de evangelização na Amazônia gerou modelos eclesiais ao longo das fronteiras dos rios, marcadas pelos carismas dos religiosos e religiosas aos quais foram confiados a evangelização. Rio Negro aos carmelitas, jesuítas e depois aos salesianos; alto Solimões aos Capuchinhos e assim por diante. Estas presenças missionárias foram ao longo do tempo compactando uma religiosidade que, hoje, na sociedade liquida, se encontra na encruzilhada, não digo uma crise, mas de alguns fenômenos de transição que influenciam no perfil dos agentes da evangelização:

– Grande sincretismo religioso;

– O avanço do protestantismo de linha neopentecostal no catolicismo;

– O recuo da Igreja nas periferias e uma presença de conservação nos centros urbanos.

Esta transição ou sutil divisão influencia muitíssimo na compreensão da identidade do cristão leigo e do modelo de Igreja que queremos, consequentemente, no projeto de missão. Outro elemento de transição é a nomeação de bispos de outras congregações ou diocesanos para estas prelazias e dioceses na Amazônia; rompe-se assim uma hegemonia. Portanto, bispos, religiosos e clero precisam manter os critérios das mutuas relações para viabilizar a ação conjunta, mantendo o princípio de Calcedônia, ou seja, sem misturar e sem separar; portanto, respeito, credibilidade e foco na evangelização.

A influência do CV II

Até o CV II, o leigo era aquele que não era: não era ordenado, não era missionário, não era religioso consagrado, não era líder comunitário. Após o CV, com o advento do modelo POVO DE DEUS, começamos a superar a ideia do não leigo para o cristão leigo: o cristão leigo é um discípulo missionário de Jesus Cristo, cuja missão está radicada no Batismo, pelo qual todo e qualquer cristão é SACERDOTE, PROFETA E REI (LG, 33,2; CNBB, cristãos leigos e leigas, doc. 105, n. 111.124.125). Papa Francisco, na carta ao cardeal Marc Oullet sobre os leigos, dizia isto: “Nossa primeira e fundamental consagração afunda suas raízes no nosso Batismo. Ninguém foi batizado sacerdote nem bispo.

A Igreja não é uma elite de sacerdotes, consagrados, mas formamos o Povo de Deus” (LG, 9) Então, o clericalismo forma uma sutil divisão clero x leigos, religiosas x leigas, padres x diáconos, leigos x padres e diáconos, tende ou, à luz do CV, deveria ter sido superado, mas o ranço desta tensão ainda é muito presente. Diz ainda o papa “O clericalismo, longe de dar impulso aos diversos contributos e propostas [inclusive a ministerialidade, apaga pouco a pouco o fogo profético… ele esquece que a visibilidade e a sacramentalidade da Igreja pertencem a todo o Povo de Deus e não a poucos iluminados” (LG, 9-14).

Os dons são do mesmo Espírito

Portanto, a dialética está dentro de nós, de nossa mentalidade, daí a necessária e urgente CONVERSÃO PASTORAL (João Paulo II, A Igreja na América, n. 26-29), ou seja a conversão é, sobretudo “assumir o estilo de Jesus Cristo: simplicidade, pobreza, disponibilidade, renuncia à vantagens, é o modo do Bom Pastor” (n.28). Não haverá, portanto,  abertura ao Espírito Santo, que suscita os ministérios, sem conversão, pois o ES não se rege pelo Direito Canônico; e, é o ES que cria e recria os ministérios segundo as necessidades do Povo de Deus. É ele que fala a Igreja (Ap, 2,29; CNBB, cristãos leigos e leigas, doc. 105, n. 151.152).

Tenhamos presente, entretanto, que todo ministério é para o serviço à missão e não para um bem pessoal. Requer humildade, abnegação e  doação de si mesmo. Quem assume como privilégio e honra um ministério não entendeu o serviço ao Reino definitivo. Ministério eclesial não é poder, mas capacidade de amar mais ao povo. Este critério serve tanto para os ordenados como a não ordenados. Aplica-se bem a expressão do papa Francisco também aos leigos e leigas: “renunciemos a psicologia de príncipes” ou numa fala aos núncios (representante diplomático permanente da Santa Sé) apostólicos: “quando alguém é eleito ao episcopado deve entender que Deus pousou o olhar sobre ele”, dito aos cristãos leigos e leigas, diria: quando um leigo ou leiga assume um ministério deve estar consciente de que Deus pousou o olhar sobre ele.

Precisamos, portanto, ter aquela sensibilidade mística de Santa Teresa de Calcutá, quando sentiu no seu interior o apelo de Jesus Cristo: Tenho sede. Nosso povo tem sede da Palavra, da comunhão, da organização, da evangelização, de crescer, ser nutrido. Não podemos, por conseguinte, imaginar que somente nós clero teremos as respostas para todos os desafios da Amazônia, pois nós somos o desafio. Precisamos sim de uma Igreja na Amazônia que siga um programa de evangelização e não um quadro doutrinário (EG, 104).

Faz-se urgente duas atitudes que podem gerar ação, segundo Francisco: discernimento e gradualidade. Eu me aproprio disto para a realidade dos ministérios eclesiais, pois, como bem dizia Ulisses Guimarães: “sem coragem, todos os valores sucumbem”, precisamos ter coragem profética para discernir, pois “não devemos ter medo de mudar aquilo que antes foi necessário como norma, mas hoje é anacrônico” (EG, 43); não esperar do magistério todas as orientações e soluções, mas busca-las à luz dos contextos (AL, 200), e o discernir supõe debate, análise a partir da vida, deixar-se guiar pelo ES, decisão e ação (AL, 293). A gradualidade encontramos numa sensível tipologia cristã atual:

– Pastoral ordinária: fieis que conservam a fé nas comunidades e entre eles os jovens (EG, 14): precisam de ministros que formem para a missionariedade (sair);

– Pastoral ocasional: batizados que não vivem em coerência com o batismo recebidos e entre eles os jovens (EG 14): precisam de ministros acolhedores que tenham a capacidade de atrair (ver);

– Pastoral de fronteira: pessoas que ainda não conhecem Jesus Cristo e entre eles os jovens (EG, 14): precisam de ministros que atuem nos “novos areópagos e novas periferias – novas tecnologias (chamar);

– Piedade popular e catequese: é urgente valorizar a piedade popular com os elementos do Evangelho (EG, 122ss), sobretudo como meio de formação continuada dos jovens e adultos: precisamos de ministros que saibam valorizar a PP e evangeliza-la sem perder suas matrizes culturais;

– Metodologia evangelizadora: pregação (EG, 135. 145), escuta (EG, 154), iniciação cristã (EG, 163ss), ação social (EG, 17ss), linguagens juvenis: precisam de ministros que desenvolvam a comunicação direta;

A diversidade de dons

Com esses dois elementos é possível atender aquilo que é de direito do Povo de Deus nos centros urbanos e nos centros rurais, sem esperar, diz Francisco “diretrizes gerais”, mas locais. Abre-se, então, um leque de possíveis ministérios que passo a elencar inspirado em Atos 12,6ss: “Há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo”.

– Ministério do aconselhamento pastoral
– Ministério da penitencia e reconciliação ordinária
– Ministério das Exéquias
– Ministério da pregação que alimenta a fé
– Ministério da espiritualidade cristã
– Ministério das culturas juvenis
– Ministério da política
– Ministério da caridade ativa
– Ministério da Piedade Popular
– Ministério da dor e da cura
– Ministério de formador de lideranças
– Ministério de itinerância
– Ministério diaconal com maior liberdade de ação, mais evangelizadores que burocráticos

 

Pe. João da Silva Mendonça Filho, sdb
II Encontro da Igreja na Amazônia
Belém do Pará, 15 a 17 de novembro de 2016