Itinerário de formação cristã como fruto do Concílio

No nosso Espaço Memória Histórica, 50 anos do Concílio Vaticano II, vamos continuar a tratar neste artigo os “Carismas que brotaram com a renovação do Concílio Vaticano II”.

“A tríplice ação da Igreja, isto é, martyria, leiturgia e diakonia, não é, portanto, mera atividade humana, em grau somente de indicar um Deus distante, mas antes expressão da cooperação entre Deus os homens, a fim de que Deus possa agir por nosso intermédio”. Com estas palavras do Cardeal Gerhard Müller recordamos no artigo passado um dos movimentos que nasceram no seio da Igreja como fruto do Concílio Vaticano II.

Neste artigo, Padre Gerson Schmidt nos traz a reflexão “Caminho neocatecumenal como fruto do Concílio Vaticano II”:

“O Cardeal Gerhard Müller, em novembro do ano passado, fez bela declaração a favor dos carismas na Igreja, particularmente do Caminho Neocatecumenal, como um fruto laical também do Concilio Vaticano II. Disse assim o Cardeal, na ocasião:

“A distinção entre dons hierárquicos e dons carismáticos não corresponde à distinção entre clérigos e leigos, enquanto o ser cristão de todos os membros do Corpo de Cristo, que é a Igreja, tem um fundamento sacramental. Pelo Batismo e a Crisma somos inseridos no mistério da santa Igreja; pelos sacramentos da Penitência e da Eucaristia a vida em Cristo vem purificada e nutrida, enquanto no matrimônio os cônjuges são fortificados com a graça de Cristo.

Todos participam completamente da vida santa e da ação santificante da Igreja, e a todas as principais atividades da missa, da solicitude pela salvação de todos e da caridade. É aquilo que nós chamamos apostolado dos leigos, que é o exercício do sacerdócio comum, real e profético do povo de Deus, mas também a vocação de todos os cristãos à santidade.

O sacerdócio sacramental dos pastores da Igreja não se coloca em contraposição à participação de todos os batizados na missão da Igreja pela força de Cristo, mestre, sacerdote e rei da Nova Aliança, mas está indissoluvelmente ligada a ela. Isso vem exercitado nos graus hierárquicos do episcopado e do presbiterado, assistidos pelos diáconos.

Todos os fiéis e os seus pastores, por sua vez, estão confiados ao cuidado pastoral universal do sucessor de Pedro: o Papa, bispo de Roma. A todos os fiéis e pastores são concedidos, além do mandato sacramental para o ensinamento e a guia da Igreja, também os dons do Espírito Santo.

Todo presbítero, por exemplo, tem o poder de conferir aos doentes graves ou aos moribundos o sacramento da unção dos enfermos. Pode haver casos, porém, nos quais o bispo escolha confiar a missão de capelão hospitalar a uma outra pessoa que se demonstre particularmente sensível no relacionar-se com as pessoas doentes.

Ou, para dar ainda outro exemplo: tendo claro que os leigos não podem exercer o autêntico magistério do Papa, dos bispos e dos sacerdotes ordenados, que vem conferido somente por meio do sacramento da ordenação, nada impede, pelo contrário, que um fiel receba, do Espírito Santo, o carisma do ensinamento.” – vemos aqui a importância que o Cardeal dá aos carismas vindo dos leigos.

O Cardeal declarou mais, lembrando a Lumen Gentium, número 12: dizendo que “o Espírito Santo doa carismas desde aqueles mais simples aos “mais extraordinários” – como aqueles dos fundadores das ordens, famílias ou movimentos religiosos, os quais “devem ser recebidos com agradecimento e consolo, porque são muito adequados e úteis às necessidades da Igreja” (LG 12). Por isso, para que a Igreja não se veja fragmentada nos seus vários ofícios, ministérios e carismas, mas recomposta na sua variedade para formar e edificar a unidade em Cristo, sobre a unidade de todo o povo de Deus, expressa na variedade das vocações e dos carismas, estão vigilantes, pela Igreja universal, o magistério eclesial confiado ao Papa, e, pelas igrejas locais, o magistério dos bispos. “O juízo sobre a genuinidade dos carismas e sobre o seu uso ordenado pertence àqueles que detêm a autoridade na Igreja; a esses corresponde sobretudo não extinguir o Espírito, mas examinar tudo e ficar com aquilo que é bom (cfr. 1 Ts 5,12 e 19-21)» (LG 12).

Feita essa longa introdução, o Cardeal declara o seguinte a respeito do carisma do Caminho Neocatecumenal: No exercício do mandato dado a eles por Cristo, os papas analisaram, acompanharam e promoveram o Caminho Neocatecumenal em várias etapas. Foi o Papa Bento XVI que, em 11 de maio de 2008, deu aos seus estatutos a aprovação canônica, reconhecendo, deste modo, também o carisma dos iniciadores como ação do Espírito Santo voltada para a edificação espiritual e pastoral da Igreja e aprovando este caminho de evangelização do mundo e de nova evangelização para os católicos batizados. (…) E, uma vez que este não se trata do catecumenato de adultos antes de seu batismo, mas do despertar, sustentar e fortalecer a fé de acordo com o modelo do catecumenato pré-batismal, ele é definido sinteticamente como “Neocatecumenato”.

Não se deve – e não se quer – substituir o ensinamento oficial da fé nas paróquias e nas escolas. Trata-se de fazer a experiência pessoal de uma vida com o Deus Trinitário santo e santificante, para compartilhar com um grupo de companheiros de viajem; de realizar um itinerário mistagógico e catequético que torna capaz de seguir o Senhor crucificado e ressuscitado, conformando-nos e unindo-nos a Ele no amor. Palavra de Deus, liturgia e comunidade são os três elementos fundamentais do Caminho Neocatecumenal”.

 

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