A fonte real de alegria

Vivemos na Igreja e desejamos oferecer a todos a grandeza do dom que é o anúncio da Boa Nova de Jesus Cristo. Não é nosso projeto esconder o que temos de melhor, quando sabemos que ele é caminho de vida e felicidade para todos. Com o devido respeito às escolhas feitas pelas pessoas, arde em nosso coração o desejo de contribuir para que o mundo seja melhor e mais alegre! Num tempo de consumo, correria, afã de conquistar posições, identificamos com frequência os sinais de desgaste e de falta de sentido, na busca incessante de realização. E os alvos estabelecidos se tornam cada vez mais distantes, nos rostos tensos e preocupados que encontramos, cruzando com olhares ansiosos que suplicam a verdadeira alegria, que tem um nome, Jesus Cristo, que não veio para limitar todas as potencialidades humanas, mas para realizá-las no sentido mais verdadeiro.

A figura de São João Batista (Cf. Jo 1,6-8.19-28), tão presente e provocante nos Evangelhos e no tempo litúrgico do Advento que vive agora a Igreja, tem sua identidade bem definida, a partir da coragem de dizer quem não é! Não é o Messias, nem se afirma profeta, não quer competir com ninguém, faz a figura de um asceta com alimentação e hábitos frugais e até estranhos. É um homem feliz, de “cara fechada”! Não precisa fazer figura para a pose do momento, como uma paisagem colorida, mas sabe ser apenas uma voz que clama: “Preparai o caminho do Senhor”. Sua alegria é fazer o trabalho daqueles que abrem picadas nas matas, fixando piquetes para uma estrada que se abre. Interessa-lhe o outro que vem, aquele que batiza com o Espírito Santo! De fato, pessoa alegre é aquela que acolhe suas próprias potencialidades e limites, sem pretender ocupar um espaço que não lhe cabe, livre e solta por cumprir o próprio dever, transformando a vida em missão, com objetivos claros, sem medo dos riscos e do futuro!

Vivemos todos o maravilhoso desafio da liberdade. Nesta verdadeira aventura, há que fazer escolhas corretas. Examinar todas as coisas, ficar com o que bom, afastar-se da maldade, conservar-se sem mancha (Cf. 1 Ts 5,16-24). É a estrada do discernimento, cujo resultado é o equilíbrio e a felicidade, alegria consistente, com a qual se enfrentam as dificuldades. Aqui aparecem com frequência as figuras de homens e mulheres muito simples, que aprenderam apenas a fazer o bem, sem estrelismo, que passam como um filme diante de nossos olhos. Certamente percebemos o quanto existe em nossa memória de pessoas marcantes e ao mesmo tempo silenciosas. Memória agradecida e desejo de seguir tais exemplos é fonte de alegria!

Alegrar-se em Deus, olhar o futuro com os sinais deixados por ele à nossa disposição, deixar-se conduzir pelo Espírito de Deus, não apagar o fogo do Espírito! Levar Deus em conta, fazer-se pequeno diante dele! Maravilhosas propostas, nascidas do coração do próprio Deus, que não abandona a humanidade a um destino cego, mas cuida de sua criação com mãos de artista, pois esta continua a ser aperfeiçoada, com nossa participação e liberdade! Não tenhamos medo das lições de fé guardadas desde a infância no escrínio de nosso coração. Recuperemos o gosto de pedir com simplicidade na oração, agradecer, louvar a Deus, acolher as boas inspirações, aquelas que nos movem interiormente e nos conduzem ao bem.

Uma das figuras proeminentes do Tempo do Advento, o Profeta Isaías, uma espécie de evangelista do Antigo Testamento, anunciou aquele que teve em suas palavras seu programa de ação: “O Espírito do Senhor Deus está sobre mim, porque o Senhor me ungiu. Enviou-me para levar a boa-nova aos pobres, para curar os de coração aflito anunciar aos cativos a libertação, aos prisioneiros o alvará de soltura; para anunciar o ano do agrado do Senhor, o dia de nosso Deus fazer justiça, para consolar os que estão tristes” (Is 61,1-2). Em Jesus, o programa é dar liberdade, consolo e alegria aos outros! Não será diferente conosco, se estivermos dispostos a percorrer a estrada da felicidade autêntica. Alegre é quem vive para os outros e não para si!

Nos dias de final do ano, corre uma onda de generosidade, desejo de partilha, serviço mútuo, atenção aos mais pobres, caridade! Em nossa Arquidiocese de Belém, é tempo do projeto “Belém, casa do pão”, com o apelo: “Na casa do pão, o pão para todos”. Na Igreja do Brasil inteiro, a Campanha para a Evangelização, com a qual desejamos crescer em nossa responsabilidade diante dos trabalhos pastorais levados adiante em nossas Dioceses. “Há mais alegria em dar do que em receber!” (At 20,35), é a palavra do Senhor que indica a fonte da felicidade e da alegria. Ninguém passe este final de ano sem abrir o bolso, a bolsa e o coração!

Outra figura do Tempo do Advento é a Mãe de Deus e nossa, a Virgem Maria, quando exclama: “Meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador!” (Lc 1,46) O louvor de Maria pode ser o nosso! Isabel reconhece a ação de Deus em Maria e Maria reconhece Deus em sua ação. Reconhecer a ação de Deus sempre causa alegria. Temos a possibilidade de reconhecer a presença dele em cada momento e particularmente na dor. Em Deus, cada desafio, e mesmo a dor, pode se transformar em louvor e alegria, quando transformada em amor a Deus e ao próximo. Está em nossas mãos a tarefa da alegria verdadeira, não mais um sentimento superficial, mas a plena realização do plano de Deus, que nos fez para sermos felizes e alegres na comunhão com ele.

 

Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo Metropolitano de Belém do Pará
CNBB

Preparar novos caminhos em 2018

A modernidade é a era em que a existência social depende da opinião e do olhar dos outros: somos quem conseguimos fazer que os outros acreditem que somos; importante é a imagem que oferecemos de nós mesmos.

Tal situação está produzindo sinais de um vazio existencial. A depressão, doença que caracteriza a atualidade, pode ser expressão desse cenário. São também preocupantes os sintomas dessa realidade entre jovens e adolescentes. A automutilação, tentativas suicídio – e suicídios! – nessa fase da vida se tornam sempre mais frequentes.

A comunidade de fé, durante o tempo do Advento, é exortada a avaliar a qualidade de sua vida. O seguimento do Senhor oferece horizontes, expectativas, esperança.

Nas semanas que antecedem o Natal ressoa uma constante exortação: uma voz grita no deserto! Essa voz recorda o núcleo da vida cristã: conversão! Conversão compreendida como determinação para assumir sempre e de novo o caminho de vida proposto por Jesus Cristo.

A voz clama no deserto! Ela é veículo para deixar chegar a palavra aos ouvidos dos seres humanos. João Batista era voz forte e potente. Era uma “voz que clama”, destinada a romper a surdez das pessoas e a chegar aos que estão longe de Deus. É uma voz que clama “no deserto”, convocando todas as pessoas de boa vontade a uma nova travessia para a liberdade, como outrora aconteceu com o povo da antiga aliança quando, sob a guia de Moisés, soube pôr-se em marcha para a busca do novo. A missão daquela voz era preparar os caminhos do Senhor, para que a esperança pudesse encontrar espaço nos corações de todos.

A voz clama no deserto! No final do século 19 e início do século 20, Nietzsche anunciou o crescimento do deserto: “O deserto cresce. Ai dos que abrigam desertos dentro de si”. Esse parece ser um fato! Pode ser considerado o destino no Ocidente. Os sinais de que o deserto cresceu e cresce são visíveis: individualismo, autorreferencialidade, consumismo, degradação ambiental, corrupção, violência, pobreza crescente, desprezo pela vida, falta de perspectivas, perda da capacidade de sonhar e esperar.

Nesse contexto sócio-político-econômico-religioso uma voz grita: “endireitai os caminhos do Senhor!”.

É sempre maior o número de pessoas, religiosas ou não, que buscam solução para suas dificuldades e desafios em coisas que não têm o poder que muitos imaginam, O mercado da autoajuda cresce sempre mais. Também o mercado religioso dá sinais de vitalidade. Tal situação pode ser sinal de uma doença profunda que parece marcar a história de muitos e que necessitaria de atenção e cuidado.

O tempo que antecede o Natal pode representar oportunidade vigorosa para o resgate do essencial: rever posições, comportamentos, práticas, opiniões e dispor-se a realizar um caminho de vida capaz de afastar da superficialidade e levar pessoas de boa vontade para o mais profundo da vida. As perturbações encontram solução no coração humano. Elas poder ser anímicas, afetivas, espirituais. Superá-las pressupõe mudar algo no abismo interior da pessoa.

“À sede de sentido e de valor que hoje o mundo experimenta; à procura de bem-estar e de paz que caracteriza a vida de toda a humanidade; às expectativas dos pobres, Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem, responde com seu Natal. Não temas os indivíduos e as nações reconhecê-Lo e acolhê-Lo: com Ele, uma ‘esplêndida luz’ ilumina o horizonte da humanidade; com Ele, abre-se ‘um dia santo’ que não conhece acaso” (Bento XVI).

 

Dom Jaime Spengler
Arcebispo metropolitano de Porto Alegre (RS)
CNBB

Mensagem do Papa Francisco para o 1º Dia Mundial dos Pobres

33º Domingo do Tempo Comum – 19 de novembro de 2017

Boletim da Santa Sé

Não amemos com palavras, mas com obras

01 – Meus filhinhos, não amemos com palavras nem com a boca, mas com obras e com verdade (1 Jo 3, 18). Estas palavras do apóstolo João exprimem um imperativo de que nenhum cristão pode prescindir. A importância do mandamento de Jesus, transmitido pelo discípulo amado até aos nossos dias, aparece ainda mais acentuada ao contrapor as palavras vazias, que frequentemente se encontram na nossa boca, às obras concretas, as únicas capazes de medir verdadeiramente o que valemos. O amor não admite álibis: quem pretende amar como Jesus amou, deve assumir o seu exemplo, sobretudo quando somos chamados a amar os pobres. Aliás, é bem conhecida a forma de amar do Filho de Deus, e João recorda-a com clareza. Assenta sobre duas colunas mestras: o primeiro a amar foi Deus (cf. 1 Jo 4, 10.19); e amou dando-Se totalmente, incluindo a própria vida (cf. 1 Jo 3, 16).

Um amor assim não pode ficar sem resposta. Apesar de ser dado de maneira unilateral, isto é, sem pedir nada em troca, ele abrasa de tal forma o coração, que toda e qualquer pessoa se sente levada a retribuí-lo não obstante as suas limitações e pecados. Isto é possível, se a graça de Deus, a sua caridade misericordiosa, for acolhida no nosso coração a pontos de mover a nossa vontade e os nossos afetos para o amor ao próprio Deus e ao próximo. Deste modo a misericórdia, que brota por assim dizer do coração da Trindade, pode chegar a pôr em movimento a nossa vida e gerar compaixão e obras de misericórdia em prol dos irmãos e irmãs que se encontram em necessidade.

02 – Quando um pobre invoca o Senhor, Ele atende-o (Sal 34/33, 7). A Igreja compreendeu, desde sempre, a importância de tal invocação. Possuímos um grande testemunho já nas primeiras páginas do Atos dos Apóstolos, quando Pedro pede para se escolher sete homens cheios do Espírito e de sabedoria (6, 3), que assumam o serviço de assistência aos pobres. Este é, sem dúvida, um dos primeiros sinais com que a comunidade cristã se apresentou no palco do mundo: o serviço aos mais pobres. Tudo isto foi possível, por ela ter compreendido que a vida dos discípulos de Jesus se devia exprimir numa fraternidade e numa solidariedade tais, que correspondesse ao ensinamento principal do Mestre que tinha proclamado os pobres bem-aventurados e herdeiros do Reino dos céus (cf. Mt 5, 3).

Vendiam terras e outros bens e distribuíam o dinheiro por todos, de acordo com as necessidades de cada um (At 2, 45). Esta frase mostra, com clareza, como estava viva nos primeiros cristãos tal preocupação. O evangelista Lucas – o autor sagrado que deu mais espaço à misericórdia do que qualquer outro – não está a fazer retórica, quando descreve a prática da partilha na primeira comunidade. Antes pelo contrário, com a sua narração, pretende falar aos fiéis de todas as gerações (e, por conseguinte, também à nossa), procurando sustentá-los no seu testemunho e incentivá-los à ação concreta a favor dos mais necessitados. E o mesmo ensinamento é dado, com igual convicção, pelo apóstolo Tiago, usando expressões fortes e incisivas na sua Carta: Ouvi, meus amados irmãos: porventura não escolheu Deus os pobres segundo o mundo para serem ricos na fé e herdeiros do Reino que prometeu aos que O amam? Mas vós desonrais o pobre. Porventura não são os ricos que vos oprimem e vos arrastam aos tribunais? (…) De que aproveita, irmãos, que alguém diga que tem fé, se não tiver obras de fé? Acaso essa fé poderá salvá-lo? Se um irmão ou uma irmã estiverem nus e precisarem de alimento quotidiano, e um de vós lhes disser: “Ide em paz, tratai de vos aquecer e matar a fome”, mas não lhes dais o que é necessário ao corpo, de que lhes aproveitará? Assim também a fé: se ela não tiver obras, está completamente morta (2, 5-6.14-17).

03 – Contudo, houve momentos em que os cristãos não escutaram profundamente este apelo, deixando-se contagiar pela mentalidade mundana. Mas o Espírito Santo não deixou de os chamar a manterem o olhar fixo no essencial. Com efeito, fez surgir homens e mulheres que, de vários modos, ofereceram a sua vida ao serviço dos pobres. Nestes dois mil anos, quantas páginas de história foram escritas por cristãos que, com toda a simplicidade e humildade, serviram os seus irmãos mais pobres, animados por uma generosa fantasia da caridade!

Dentre todos, destaca-se o exemplo de Francisco de Assis, que foi seguido por tantos outros homens e mulheres santos, ao longo dos séculos. Não se contentou com abraçar e dar esmola aos leprosos, mas decidiu ir a Gúbio para estar junto com eles. Ele mesmo identificou neste encontro a viragem da sua conversão: Quando estava nos meus pecados, parecia-me deveras insuportável ver os leprosos. E o próprio Senhor levou-me para o meio deles e usei de misericórdia para com eles. E, ao afastar-me deles, aquilo que antes me parecia amargo converteu-se para mim em doçura da alma e do corpo (Test 1-3: FF 110). Este testemunho mostra a força transformadora da caridade e o estilo de vida dos cristãos.

Não pensemos nos pobres apenas como destinatários duma boa obra de voluntariado, que se pratica uma vez por semana, ou, menos ainda, de gestos improvisados de boa vontade para pôr a consciência em paz. Estas experiências, embora válidas e úteis a fim de sensibilizar para as necessidades de tantos irmãos e para as injustiças que frequentemente são a sua causa, deveriam abrir a um verdadeiro encontro com os pobres e dar lugar a uma partilha que se torne estilo de vida. Na verdade, a oração, o caminho do discipulado e a conversão encontram, na caridade que se torna partilha, a prova da sua autenticidade evangélica. E deste modo de viver derivam alegria e serenidade de espírito, porque se toca palpavelmente a carne de Cristo. Se realmente queremos encontrar Cristo, é preciso que toquemos o seu corpo no corpo chagado dos pobres, como resposta à comunhão sacramental recebida na Eucaristia. O Corpo de Cristo, repartido na sagrada liturgia, deixa-se encontrar pela caridade partilhada no rosto e na pessoa dos irmãos e irmãs mais frágeis. Continuam a ressoar de grande atualidade estas palavras do santo bispo Crisóstomo: Queres honrar o corpo de Cristo? Não permitas que seja desprezado nos seus membros, isto é, nos pobres que não têm que vestir, nem O honres aqui no tempo com vestes de seda, enquanto lá fora O abandonas ao frio e à nudez (Hom. in Matthaeum, 50, 3: PG 58).

Portanto somos chamados a estender a mão aos pobres, a encontrá-los, fixá-los nos olhos, abraçá-los, para lhes fazer sentir o calor do amor que rompe o círculo da solidão. A sua mão estendida para nós é também um convite a sairmos das nossas certezas e comodidades e a reconhecermos o valor que a pobreza encerra em si mesma.

04 – Não esqueçamos que, para os discípulos de Cristo, a pobreza é, antes de tudo, uma vocação a seguir Jesus pobre. É um caminhar atrás d’Ele e com Ele: um caminho que conduz à bem-aventurança do Reino dos céus (cf. Mt 5, 3; Lc 6, 20). Pobreza significa um coração humilde, que sabe acolher a sua condição de criatura limitada e pecadora, vencendo a tentação de omnipotência que cria em nós a ilusão de ser imortal. A pobreza é uma atitude do coração que impede de conceber como objetivo de vida e condição para a felicidade o dinheiro, a carreira e o luxo. Mais, é a pobreza que cria as condições para assumir livremente as responsabilidades pessoais e sociais, não obstante as próprias limitações, confiando na proximidade de Deus e vivendo apoiados pela sua graça. Assim entendida, a pobreza é o metro que permite avaliar o uso correto dos bens materiais e também viver de modo não egoísta nem possessivo os laços e os afetos (cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 2545).

Assumamos, pois, o exemplo de São Francisco, testemunha da pobreza genuína. Ele, precisamente por ter os olhos fixos em Cristo, soube reconhecê-Lo e servi-Lo nos pobres. Por conseguinte, se desejamos dar o nosso contributo eficaz para a mudança da história, gerando verdadeiro desenvolvimento, é necessário escutar o grito dos pobres e comprometermo-nos a erguê-los do seu estado de marginalização. Ao mesmo tempo recordo, aos pobres que vivem nas nossas cidades e nas nossas comunidades, para não perderem o sentido da pobreza evangélica que trazem impresso na sua vida.

05 – Sabemos a grande dificuldade que há, no mundo contemporâneo, para se poder identificar claramente a pobreza. E todavia esta interpela-nos todos os dias com os seus inúmeros rostos vincados pelo sofrimento, a marginalização, a opressão, a violência, as torturas e a prisão, pela guerra, a privação da liberdade e da dignidade, pela ignorância e o analfabetismo, pela emergência sanitária e a falta de trabalho, pelo tráfico de pessoas e a escravidão, pelo exílio e a miséria, pela migração forçada. A pobreza tem o rosto de mulheres, homens e crianças explorados para vis interesses, espezinhados pelas lógicas perversas do poder e do dinheiro. Como é impiedoso e nunca completo o elenco que se é constrangido a elaborar à vista da pobreza, fruto da injustiça social, da miséria moral, da avidez de poucos e da indiferença generalizada!

Infelizmente, nos nossos dias, enquanto sobressai cada vez mais a riqueza descarada que se acumula nas mãos de poucos privilegiados, frequentemente acompanhada pela ilegalidade e a exploração ofensiva da dignidade humana, causa escândalo a extensão da pobreza a grandes sectores da sociedade no mundo inteiro. Perante este cenário, não se pode permanecer inerte e, menos ainda, resignado. À pobreza que inibe o espírito de iniciativa de tantos jovens, impedindo-os de encontrar um trabalho, à pobreza que anestesia o sentido de responsabilidade, induzindo a preferir a abdicação e a busca de favoritismos, à pobreza que envenena os poços da participação e restringe os espaços do profissionalismo, humilhando assim o mérito de quem trabalha e produz: a tudo isso é preciso responder com uma nova visão da vida e da sociedade.

Todos estes pobres – como gostava de dizer o Beato Paulo VI – pertencem à Igreja por direito evangélico (Discurso de abertura na II Sessão do Concílio Ecumênico Vaticano II, 29/IX/1963) e obrigam à opção fundamental por eles. Por isso, benditas as mãos que se abrem para acolher os pobres e socorrê-los: são mãos que levam esperança. Benditas as mãos que superam toda a barreira de cultura, religião e nacionalidade, derramando óleo de consolação nas chagas da humanidade. Benditas as mãos que se abrem sem pedir nada em troca, sem se nem mas, nem talvez: são mãos que fazem descer sobre os irmãos a bênção de Deus.

06 – No termo do Jubileu da Misericórdia, quis oferecer à Igreja o Dia Mundial dos Pobres, para que as comunidades cristãs se tornem, em todo o mundo, cada vez mais e melhor sinal concreto da caridade de Cristo pelos últimos e os mais carenciados. Quero que, aos outros Dias Mundiais instituídos pelos meus Antecessores e sendo já tradição na vida das nossas comunidades, se acrescente este, que completa o conjunto de tais Dias com um elemento requintadamente evangélico, isto é, a predileção de Jesus pelos pobres.

Convido a Igreja inteira e os homens e mulheres de boa vontade a fixar o olhar, neste dia, em todos aqueles que estendem as suas mãos invocando ajuda e pedindo a nossa solidariedade. São nossos irmãos e irmãs, criados e amados pelo único Pai celeste. Este Dia pretende estimular, em primeiro lugar, os crentes, para que reajam à cultura do descarte e do desperdício, assumindo a cultura do encontro. Ao mesmo tempo, o convite é dirigido a todos, independentemente da sua pertença religiosa, para que se abram à partilha com os pobres em todas as formas de solidariedade, como sinal concreto de fraternidade. Deus criou o céu e a terra para todos; foram os homens que, infelizmente, ergueram fronteiras, muros e recintos, traindo o dom originário destinado à humanidade sem qualquer exclusão.

07  – Desejo que, na semana anterior ao Dia Mundial dos Pobres – que este ano será no dia 19 de novembro, XXXIII domingo do Tempo Comum –, as comunidades cristãs se empenhem na criação de muitos momentos de encontro e amizade, de solidariedade e ajuda concreta. Poderão ainda convidar os pobres e os voluntários para participarem, juntos, na Eucaristia deste domingo, de modo que, no domingo seguinte, a celebração da Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo resulte ainda mais autêntica. Na verdade, a realeza de Cristo aparece em todo o seu significado precisamente no Gólgota, quando o Inocente, pregado na cruz, pobre, nu e privado de tudo, encarna e revela a plenitude do amor de Deus. O seu completo abandono ao Pai, ao mesmo tempo que exprime a sua pobreza total, torna evidente a força deste Amor, que O ressuscita para uma vida nova no dia de Páscoa.

Neste domingo, se viverem no nosso bairro pobres que buscam proteção e ajuda, aproximemo-nos deles: será um momento propício para encontrar o Deus que buscamos. Como ensina a Sagrada Escritura (cf. Gn 18, 3-5; Heb 13, 2), acolhamo-los como hóspedes privilegiados à nossa mesa; poderão ser mestres, que nos ajudam a viver de maneira mais coerente a fé. Com a sua confiança e a disponibilidade para aceitar ajuda, mostram-nos, de forma sóbria e muitas vezes feliz, como é decisivo vivermos do essencial e abandonarmo-nos à providência do Pai.

08 – Na base das múltiplas iniciativas concretas que se poderão realizar neste Dia, esteja sempre a oração. Não esqueçamos que o Pai Nosso é a oração dos pobres. De facto, o pedido do pão exprime o abandono a Deus nas necessidades primárias da nossa vida. Tudo o que Jesus nos ensinou com esta oração exprime e recolhe o grito de quem sofre pela precariedade da existência e a falta do necessário. Aos discípulos que Lhe pediam para os ensinar a rezar, Jesus respondeu com as palavras dos pobres que se dirigem ao único Pai, em quem todos se reconhecem como irmãos. O Pai Nosso é uma oração que se exprime no plural: o pão que se pede é nosso, e isto implica partilha, comparticipação e responsabilidade comum. Nesta oração, todos reconhecemos a exigência de superar qualquer forma de egoísmo, para termos acesso à alegria do acolhimento recíproco.

09 – Aos irmãos bispos, aos sacerdotes, aos diáconos – que, por vocação, têm a missão de apoiar os pobres –, às pessoas consagradas, às associações, aos movimentos e ao vasto mundo do voluntariado, peço que se comprometam para que, com este Dia Mundial dos Pobres, se instaure uma tradição que seja contribuição concreta para a evangelização no mundo contemporâneo.

Que este novo Dia Mundial se torne, pois, um forte apelo à nossa consciência crente, para ficarmos cada vez mais convictos de que partilhar com os pobres permite-nos compreender o Evangelho na sua verdade mais profunda. Os pobres não são um problema: são um recurso de que lançar mão para acolher e viver a essência do Evangelho.

 

Vaticano, Memória de Santo António de Lisboa, 13 de junho de 2017.
Papa Francisco

Papa diz que entristece ao ver fiéis e bispos tirando fotos durante a Missa

Papa: Entristece-me ver fiéis e bispos que tiram fotos na Missa. Não é um espetáculo!

Que a Missa não pareça um espetáculo e nada de tirar fotos durante a celebração. Foi o que o Papa Francisco afirmou durante a catequese que ofereceu a milhares de peregrinos que se reuniram na Praça de São Pedro como acontece todas as quartas-feiras, na Audiência Geral.

O Pontífice iniciou um novo ciclo de catequeses sobre a “Santa Missa”, depois de mais de um ano falando sobre a “misericórdia”. Foi durante a primeira catequese, na qual explicou precisamente por que escolheu este tema para as próximas audiências, que improvisou e, deixando de lado os papéis, queixou-se da atitude de algumas pessoas durante as celebrações.

“Por que estamos lá? E as leituras da Missa, por estão ali? Por que se lê?”, perguntou na catequese. “Ou, por que em certo momento o sacerdote que preside a celebração diz: ‘Corações ao alto?’. Não diz: ‘Nossos celulares ao alto para tirar uma fotografia’!”.

“Não, isso é algo muito feio! E digo que me dá muita tristeza quando celebro aqui na Praça ou na Basílica e vejo tantos celulares levantados, não só dos fiéis, também de alguns sacerdotes e também bispos”.

“Por favor – continuou -, a Missa não é um espetáculo! É ir ao encontro da paixão e da ressurreição do Senhor. Por isso, o sacerdote diz: ‘Corações ao alto’. O que isso quer dizer? Recordem-se: nada de celulares”.

Na catequese, explicou que a Eucaristia “é fundamental para nós cristãos compreender bem o valor e o significado da Santa Missa, para viver sempre mais plenamente o nosso relacionamento com Deus”.

“A Eucaristia é um acontecimento maravilhoso, no qual Jesus Cristo, nossa vida, se faz presente” e “os sacramentos, e a celebração eucarística de modo particular, são os sinais do amor de Deus, as vias privilegiadas para nos encontrarmos com Ele”, acrescentou

 

acidigital.com

A Regional Sul 1 da CNBB lança série de vídeos com principais ações missionárias

O lançamento aconteceu durante a 36ª. Assembleia das Igrejas Particulares, em Itaici, Indaiatuba, SP, com a participação dos organizadores do material

O Regional Sul 1 da CNBB (São Paulo) através da Comissão para ação missionária e cooperação interclesial lançou os vídeos das Ações missionária na Amazônia e na diocese de Pemba, (Moçambique, África).

Trata-se de uma iniciativa inédita que objetiva sensibilizar, despertar a consciência missionária na Igreja do estado de São Paulo e mobilizar as diversas dioceses de todo o Estado e membros das Pastorais, Movimentos e Organismos presentes no Regional.

Para isso foi criada uma Comissão de Trabalho com a intenção de auxiliar o Regional Sul 1 na divulgação da Missão da Igreja na Amazônia e da diocese de Pemba.

A equipe é composta pelo bispo de Mogi das Cruzes Dom Pedro Luiz Stringhini (vice-presidente do Regional Sul 1), do bispo de Registro, Dom José Luiz Bertanha, presidente da Comissão para a Ação Missionária e Cooperação interclesial, dos padres Everton Aparecido (Conselho Missionário Regional – Comire), Padre João Carlos Deschamps de Almeida (Regional Sul 1 da CNBB), e do diácono Domingues ligado à área administrativa do Regional Sul 1 da CNBB, entre outros.

 

Além destes vídeos, a Comissão produziu folders destas ações. Estes folders podem ser adquiridos para baixar pelas Dioceses e pastorais para serem impressos para distribuição.

Dessa forma, desde sua criação, a Comissão desenvolverá diversas ações a favor da Missão da Igreja da Amazônia e diocese de Pemba. Uma primeira Ação, foi uma coleta em prol da Ação missionária àquela Igreja na África. O dinheiro arrecadado será revertido para o Fundo Missionário do Regional Sul 1. No próximo mês, a comissão irá desenvolver outras ações, como o encontro de novos missionários.

O Lançamento do material aconteceu durante a 36ª. Assembleia das Igrejas Particulares, ocorrida em outubro, em Itaici, Indaiatuba – SP.

Além disso, os materiais estão disponíveis aqui.

Folders dos Projeto Amazônia  e Projeto Pemba:

 

CNBB / Portal Kairós