Entenda o que é a complementaridade entre homens e mulheres

Complementaridade é a chave para compreender o relacionamento entre o homem e a mulher e vencer as dificuldades na vida a dois

Pensar em complementaridade entre o homem e a mulher é um tema que desafia a sociedade atual, onde a “guerra dos sexos” parece promover uma luta constante pela superação de quaisquer diferenças entre eles.

Entretanto, a complementaridade “está no vértice da criação divina”, como disse o Papa Francisco em uma Catequese dedicada ao sacramento do matrimônio. Na ocasião, ele explicou que nem só o homem nem só a mulher são imagem de Deus, mas ambos como casal, são imagem do Criador.

“Os dois juntos é que são o humano completo”, afirma o presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Vida e a Família da CNBB, Dom João Bosco Barbosa de Sousa. O bispo explica que naquele momento em que Deus cria o homem e o coloca diante da natureza para que ele seja o senhor da criação e escolha aquela que será sua companhia, Adão não encontra. E depois de um sono profundo, Deus lhe dá de presente, tirado de sua própria carne a mulher. E ele se identifica com ela.

São João Paulo II, nas catequeses da Teologia do Corpo, explica que neste momento, em que o homem está em sua “solidão original”, ele adquire uma consciência pessoal no processo de “distinção” de todos os seres vivos e, ao mesmo tempo, abre-se para um ser “afim a ele”, que o livro do Gênesis define como “auxiliar que lhe é semelhante”.

“A comunhão das pessoas podia formar-se somente com base em uma ‘dupla solidão’ do homem e da mulher, ou seja, como encontro entre a ‘distinção’ deles e o mundo dos seres vivos (animalia), que dava a ambos a possibilidade de serem e existirem numa reciprocidade especial”, explica João Paulo II na nona catequese sobre Teologia do Corpo.

O casal membro do Apostolado Teologia do Corpo Brasil, Viviane e Marcelo Pastre, destaca que a complementaridade entre homem e mulher, ou seja, essa comunhão de pessoas, se dá exatamente na doação de si mesmo ao outro.

“O que gera a comunhão de pessoas é o amor que se doa ao outro. Deus é amor, e o amor, segundo João Paulo II, é essa doação. Esse movimento que sai do homem e vai em direção à mulher e vice-versa. É fundamental entender que o ‘ser para o outro’ é o que dá sentido ao nosso ser à nossa vida”, destaca Marcelo.

Completos e iguais em dignidade

Falar de complementaridade sugestiona que um completa o que falta no outro, mas quando o assunto diz respeito a homem e mulher é diferente, pois Deus criou ambos completos e em perfeita igualdade como pessoas humanas “à imagem de Deus”.

“O homem e a mulher são feitos ‘um para o outro’: não que Deus os tivesse feito apenas ‘pela metade’ e ‘incompletos’; criou-os para uma comunhão de pessoas, na qual cada um dos dois pode ser ‘ajuda’ para o outro, por serem ao mesmo tempo iguais enquanto pessoas (‘osso de meus ossos…’ (cf. Gn 2,23)) e complementares enquanto masculino e feminino”, explica o Catecismo da Igreja Católica (CIC 372).

A Teologia do Corpo explica que, por serem completos, o homem e a mulher são capazes de, individualmente, atingir um sentido existencial em suas vidas. No entanto, justamente por serem criados completos, eles percebem em si a capacidade de doar a si mesmos por amor, e nisso se complementam.

Desafios

Comprovadamente, homem e mulher são distintos, seja física ou psicologicamente. E ao compreender o  profundo significado da complementaridade, a união criada entre o homem e a mulher deveria ser vivida de uma forma sadia. Entretanto, a marca do pecado original é geradora de conflitos, destaca Viviane.

O Catecismo afirma que “todo o homem faz a experiência do mal, à sua volta e em si mesmo. Esta experiência faz-se também sentir nas relações entre o homem e a mulher. Desde sempre, a união de ambos foi ameaçada pela discórdia, o espírito de domínio, a infidelidade, o ciúme e conflitos capazes de ir até ao ódio e à ruptura” (CIC 1606).

Viviane destaca que há uma “guerra” entre o homem e a mulher. “As pessoas não querem se complementar, preferem viver isoladas, de uma forma egoísta, pensando só em si, buscando prazer mais para si”.

Dom João explica que as diferenças entre os sexos tem uma base antropológica, biológica e um construto social. Ele faz um alerta que situações que podem causar sofrimentos e injustiças devem ser combatidas.

“É preciso ter clareza para estudar cada um dos papéis e ver em que pontos há uma dificuldade, uma subalternidade em relação à mulher, que causa desequilíbrios e sofrimentos, as diversas formas de discriminação que existem na sociedade, tudo isso tem que ser absolumente combatido e a igreja sempre foi contra qualquer tipo de injustiça”, enfatiza.

De toda forma, ele ressalta que a solução para sanar essas dificuldades não é igualar as diferenças. “Não é igualando e anulando a base antropológica e biológica que vamos chegar a uma igualdade e felicidade completa no relacionamento. Pelo contrário, aí acaba totalmente a possibilidade dessa diferença tão importante para o relacionamento”.

Segundo Dom João, com a mudança cultural que o mundo experimenta, o ser humano tem se fechado muito em atitudes egoístas e narcisistas, que impedem ou afetam os relacionamentos e o antídoto desta dificuldade é viver em comunidade.

“Seja a comunidade da Igreja ou familiar. A visão de que o todo é mais importante que o um, que os outros são mais importantes para mim do que eu sozinho. A comunidade ainda é a fonte de maior equilíbrio da nossa vida, dos relacionamentos e da família”, afirma o bispo.

Vivendo a complementaridade entre homem e mulher

Sem as diferenças entre o homem e a mulher não seria possível a complementaridade, porém, mais do que isso, a Teologia do Corpo se concentra no essencial: entender que o amor é a doação recíproca entre homem e mulher.

“Nós casais precisamos nos esforçar em ser para o outro, ressignificar o relacionamento. Se doar não significa ser inferior, é o contrário, é buscar a plenificação, fazer aquilo que fomos criados para ser, nossa finalidade é amar, e amar é se doar ao outro”, destaca Marcelo.

Ele lembra que este foi o único mandamento deixado por Jesus: “amai-vos uns aos outros, como eu vos amei” (Jo 15,12), e ao esquecerem disso, muitos acabam perdendo o sentido da própria vida.

“As famílias cristãs precisam dar o testemunho do amor, da doação, do cuidado. Fazendo isso, mesmo sem falar nada, serão ‘profetas’, porque as pessoas verão a forma como eles convivem, o carinho entre eles, a conduta com os filhos”, exemplifica Marcelo.

Viviane destaca que aí está a chave para a família prosperar. “A gente não precisa de tanto, não precisa de uma casa luxuosa, de um carro do ano, mas precisa amar as pessoas porque aí conseguimos superar juntos as dificuldades que a gente enfrenta”.

 

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A paternidade na construção de filhos fiéis, honestos e justos

A maior herança deixada pelos pais aos filhos é a formação da personalidade destes

Como os pais podem colaborar na formação dos filhos, para que se tornem homens e mulheres compromissados com a fidelidade, a honestidade e a justiça?

A fidelidade é uma escolha e uma atitude que serve muito mais para quem a exerce do que para quem é presenteado por ela. Fidelidade é uma virtude, ou seja, ela passa, primeiramente, pela escolha em ser e, depois, pela repetição de atos de fidelidade, até que não a fazer se torna inadmissível. Da mesma forma, a infidelidade é uma escolha e uma atitude que servirá muito mais para quem a exerce do que para quem é penalizado ao recebê-la. É um vício, ou seja, escolhe-se praticá-la e, pela repetição de atos infiéis, ela se torna quase que maior que a pessoa que a comete, e assim começa a dominar a pessoa.

Exemplo de pais

Escolhi ser fiel, pois vi o resultado da fidelidade na vida dos meus pais. Fidelidade esta que não é fácil de ser vivida, mas que nos integra, fazendo-nos pessoas melhores, mais filhos de Deus, pois é na fidelidade ao outro que seremos fiéis a Deus e ao Seu projeto de vida para nós.

Aprendi a escolher ser fiel vendo o meu pai, que exercia essa atitude não somente com a minha mãe, mas também com todas as mulheres que estavam ao seu redor: suas irmãs, suas amigas etc. Essa fidelidade do meu pai não era apenas de respeito ou de não ter segundas intenções, mas sim uma verdadeira convivência sadia. Durante minha infância e juventude, enquanto eu ainda morava com meus pais, várias pessoas passaram pela nossa casa, dentre elas muitas mulheres, como minhas primas, tias, tias da minha mãe, minha própria avó materna, que morou conosco por algum tempo, e muitas outras. E o que eu via era uma sadia convivência do meu pai com todas elas. Se por algum tempo da minha vida fui machista, não respeitei as mulheres e fui cafajeste, com certeza, não aprendi em casa, pois o que eu aprendi dentro do meu lar foi a fidelidade e o respeito, por isso, hoje, escolho isso para minha vida.

Cada homem só será integrado no seu corpo, alma e espírito quando souber que a mulher é fundamental para essa integração. E cada mulher só será integrada no seu corpo, alma e espírito quando souber que o homem é fundamental para essa integração. Mas, infelizmente, hoje, somos resultado de uma enxurrada de ideologias passadas e presentes.

Por isso devemos aprender e escolher ser fiel, pois entendi com meu pai e com minha comunidade que, para ser um homem por inteiro, é preciso trilhar o caminho da fidelidade.

A honestidade e a justiça

Outro ponto importante é que, além de sermos fiéis, também precisamos escolher ser honesto, mesmo aos trancos e barrancos, como se dizem por aí, porque as sementinhas plantadas pelos exemplos do meu pai estiveram e estão presentes no meu coração. E, também, porque, com minhas experiências vividas, pude constatar que correto era o Seu Ribamar, que, tenho certeza, nunca deitou no seu travesseiro com peso na consciência por ter sido desonesto, que sempre agiu com honestidade e, por isso, sempre foi livre para falar com todos, para agir da mesma maneira onde quer que estivesse, que não levou para seu caixão a marca da corrupção, nem do “jeitinho brasileiro”, mas a certeza de ter deixado um grande legado de honestidade não somente para nós, seus familiares, mas para todos que o conheceram.

Escolhi ser honesto não para tentar mudar o mundo ou o nosso Brasil, pois esse é um discurso político barato, mas porque diz de mim, diz de nós e da nossa natureza. Ser honesto é ser capaz de viver no mundo decaído e dizer: sou de Deus e de ninguém mais.

A honestidade é boa para cada um de nós e precisa ter bases profundas, fortes e duradouras. Com ela, gera-se uma sociedade melhor, pois, primeiramente, não são criados vícios, mas virtudes. E é em uma sociedade virtuosa que são gerados bons cidadãos.

Ser honesto é uma escolha, e precisamos aprender a escolher pela honestidade se quisermos deixar para as futuras gerações um mundo melhor. Eu tive os dois exemplos: da honestidade e da desonestidade. Se hoje escolho ser honesto, é porque vi um homem de caráter e honestidade dando-me exemplos claros de que o crime nunca compensa, que não existe crime perfeito, e que ser honesto é saber honrar os dons que o Criador nos deu.

Ser justo também é uma escolha, e hoje escolho ser justo por ver meu pai, um homem justo e honesto, ser capaz de dar ao outro não aquilo que ele merecia, mas aquilo de que ele necessitava.

Se nós não fortalecermos as escolhas feitas, as escolhas que não fazemos é a que vai se fortalecer dentro de nós. Por isso, pais, aprendam a passar para seus filhos que é possível, sim, ser fiel, honesto e justo. Para ensiná-los é preciso criar neles que eles podem aprender a escolher.

A missão do pai hoje em dia

 

Padre Anderson Marçal

Anderson Marçal Moreira é padre da Igreja Católica Apostólica Romana. Natural da cidade de São Paulo (SP), padre Anderson é membro da comunidade Canção Nova desde o ano 2000. No dia 16 de dezembro de 2007, foi ordenado sacerdote. Estudou Teologia Pastoral Bíblica-Litúrgica na Universidade Salesiana de Roma.

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De que serve viver bem?

De que me serve viver bem, se não me é dado viver para sempre?

Neste programa ‘Luz da Fé’, quero refletir com você sobre o número 163 do Catecismo da Igreja Católica, que nos ensina o seguinte:

A fé – começo da vida eterna

163. A fé nos faz degustar, como que por antecipação, a alegria e a luz da visão beatífica, meta de nossa caminhada na terra. Veremos, então, a Deus “face a face” (1Cor 13,12), “tal como Ele é” (1Jo 3,2). A fé já é, portanto, o começo da vida eterna:
“Enquanto, desde já, contemplamos as bênçãos da fé, como um reflexo no espelho, é como se já possuíssemos as coisas maravilhosas que um dia desfrutaremos, conforme nos garante nossa fé” (São Basílio).

Quero contar para você um fato curioso da minha família: estando certa vez em convivência com meus parentes, no Mato Grosso do Sul, fui participar de um jantar no qual minha cunhada havia feito sushi (um prato da culinária japonesa). Nesse jantar, estava um primo nosso, que nunca havia comido sushi na vida dele. Pois bem: esse primo comeu tanto sushi, que, praticamente, acabou com a travessa! Ele gostou tanto desse prato, que toda vez que ele encontra minha cunhada, pergunta a ela quando fará sushi novamente.

Por que estou lhe contando isso? Porque esse meu primo ficou degustando aquele saboroso prato durante o jantar e, ao degustar, ele foi saciando o próprio apetite.

Algo parecido nos traz o Catecismo da Igreja ao ensinar que “a fé nos faz degustar como por antecipação a alegria e a luz da visão beatífica, meta de nossa caminhada na terra”, ou seja, pela fé nós vamos degustando a vida eterna, a vida em plenitude.

Santo Agostinho diz o seguinte: De que me serve viver bem se não me é dado viver para sempre? Com essa frase, descobrimos que existe, no coração de todo ser humano, um anseio, um desejo pela vida eterna.

Eu prefiro o Paraíso!

Não sei se você já teve a oportunidade de assistir ao filme sobre a vida de São Filipe Néri. Vale a pena assistir, pois é um filme maravilhoso! Nele, há uma belíssima cena na qual o santo está diante do Papa. Após ouvir as palavras de São Filipe, o Sumo Pontífice, visivelmente emocionado, chama o santo para torná-lo Cardeal da Igreja, dizendo: “Você merece isso mais do que todos nós”.

No momento em que o Papa segura o chapéu de Cardeal para colocá-lo sobre a cabeça de São Filipe Néri, o santo, percebendo o que estava para acontecer, segura as mãos do Santo Padre e diz: “Cardeal, eu? Eu prefiro o Paraíso!”. E toma aquele chapéu das mãos do Papa e o lança para o alto.

Mais do que qualquer glória que eu possa ter aqui na terra, eu prefiro o Paraíso! Quando eu e você vivemos da fé, estamos dizendo ao Senhor que preferimos o Paraíso. Quando vivemos essa vida terrena pela fé, na verdade estamos degustando não um prato como sushi, churrasco ou mesmo uma feijoada, mas estamos degustando, experimentando a vida eterna.

Meu irmão, a vida não se resume a esse “vale de lágrimas” no qual nos encontramos. Existe um prêmio eterno reservado a nós! Como nos ensina o apóstolo Paulo, somos provocados a correr na direção desse prêmio celeste. Você está passando por alguma tribulação? Não pare! Não se detenha nessa dificuldade. Detenha seu pensamento nisso: vou viver minha vida com fé, degustando, a cada dia, essa vida eterna que me está reservada em Jesus Cristo.

Por que isso? Porque eu e você preferimos o Paraíso!

Um forte abraço!

Assista ao programa

Conheça os subsídios feitos para celebrar a Vida e a Família 2018

 

Alexandre Oliveira
Membro da Comunidade Canção Nova, desde 1997, Alexandre é natural da cidade de Santos (SP). Casado, ele é pai de dois filhos. O missionário também é pregador, apresentador e produtor de conteúdo no canal ‘Formação’ do Portal Canção Nova.

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Os avós de Jesus e de todos nós

Celebramos neste mês a festa de Sant’Ana e São Joaquim, os avós de Jesus e os pais da Bem-aventurada e sempre Virgem Maria. Queremos olhar para Sant’Ana e São Joaquim a fim de reconhecermos a importância dos nossos antepassados na fé, nos valores e nos princípios que nós temos para a nossa vida.

São Joaquim é o nome que o primeiro Cardeal da América Latina deu à residência dos cardeais do Rio de Janeiro. Santana é padroeira secundária de nossa Arquidiocese. Foi também nesse dia que o Papa Francisco fez um belo pronunciamento da sacada da Residência arquiepiscopal do Rio de Janeiro durante a sua primeira visita apostólica internacional durante a JMJ Rio 2013. Ele, durante a vinda para esse pronunciamento fez questão de cumprimentar pelas ruas as pessoas idosas, e, recordo em especial, de uma senhora de 100 anos que estava a esperar o Santo Padre em sua passagem pela Rua da Glória. Ao início deste mês tive a graça de poder celebrar o Círio de Santana em Óbidos no Pará ao iniciar as comemorações da Festa da Padroeira daquela Diocese amazônica e vi com muita alegria a piedade e entusiasmo do povo de Deus ao celebrar essa solenidade. Agradeço a Deus por poder participar desse belo momento da Igreja do Norte do Brasil.

Os avós são um tesouro na família. Por favor, cuidem dos avós, amem-nos e façam com que conversem com as crianças!
Papa Francisco‏

Após a reforma pós-conciliar do calendário litúrgico passamos a celebrar no mesmo dia os pais de Nossa Senhora. É uma data que nos remete aos antepassados e, em especial aos nossos avós. Quando celebramos o vovô e a vovó de Jesus, nós também celebramos os nossos avós. Que grande importância eles tiveram na vida de cada um de nós! E também as várias gerações anteriores, bisavós, tataravós e todos aqueles que vieram antes de nós têm grande importância em tudo o que nós somos hoje.

Nós queremos reconhecer a importância e o valor que os mais idosos têm e, o melhor modo de fazer isso é ao rejeitar a cultura do descartável. Porque essa cultura é terrível por procurar descartar as pessoas quando elas não têm mais utilidade. Segundo a qual o importante é aquilo que é útil e aquilo que produz; e deixa de reconhecer aqueles que muito produziram, deram muito de si, trabalharam para construir a família, para edificar a nação e que são, na verdade, nossos pais na fé. Eu louvo e agradeço muito a Deus, mesmo tendo convivido apenas com minha avó materna, porque sei que foram eles que ensinaram muito aos nossos pais os verdadeiros valores evangélicos, que foram transmitidos a nós, porque eles os aprenderam deles.

O Papa Francisco em uma catequese de 4 de março 2015 disse que: “Na tradição da Igreja, há uma riqueza de sabedoria que sempre apoiou uma cultura de proximidade aos idosos, uma disposição ao acompanhamento afetuoso e solidário nesta parte final da vida. Tal tradição está enraizada nas Sagradas Escrituras, como atestam, por exemplo, estas expressões do Livro do Eclesiástico: “Não desprezes os ensinamentos dos anciãos, pois eles aprenderam com seus pais. Estudarás com eles o conhecimento e a arte de responder com oportunidade” (Eclo 8, 11-12)”. Valorize, incentive, busque conviver, estar junto e reconhecer a importância que eles têm para a sua história e para a sua vida.

Segundo a tradição, os avós maternos de Jesus são Ana e Joaquim. Porém deles não encontramos nenhuma notícia na Bíblia. As únicas informações que temos sobre os pais de Maria são contados pelo Proto-Evangelho de Tiago, um evangelho apócrifo (um dos livros que não foram incorporados à Bíblia). Este texto, escrito no século II depois de Cristo, fala dos momentos mais importantes da vida de Nossa Senhora: o matrimônio dos pais Joaquim e Ana, a concepção depois de 20 anos sem ter filhos, o nascimento e a apresentação ao Templo de Jerusalém. Todos esses acontecimentos são inseridos dentro do contexto histórico da cidade de Jerusalém.

Narra-se que Joaquim tinha sido reprimido pelo sacerdote Rúben por não ter filhos. Mas Ana, sua mulher, já era idosa e estéril.  Confiando no poder divino, Joaquim retirou-se ao deserto para orar e meditar. Ali um anjo do Senhor lhe apareceu, dizendo que Deus havia ouvido suas preces. O casal teria morado em Jerusalém, ao lado da piscina de Betesda, onde hoje se ergue a Basílica de Santana; foi lá que nasceu a menina que foi chamada de Miriam, que em hebraico significa Senhora da Luz, traduzido para o latim como Maria.

A devoção a Santa Ana e São Joaquim é muito antiga no Oriente. Eles são cultuados desde o início do cristianismo. No ano de 1584, o Papa Gregório XIII fixou a data da festa de santa Ana em 26 de julho. Na década de 1960, o Papa Paulo VI juntou a essa data a comemoração a São Joaquim. Por isso, no dia 26 de julho se comemora também o “Dia dos Avós”.

Nos evangelhos, não temos nenhuma referência a genealogia de Maria. A genealogia de Jesus detalhada no primeiro capítulo de Mateus é construída em base à genealogia de José, que descende de Davi, como também sublinha Lucas 1,27. De Maria se diz que era uma virgem, esposa de José.

As informações transmitidas pelos textos apócrifos suprem algumas notícias histórias que não estão nos os Evangelhos. Mas, é difícil dizer se os apócrifos transmitem fatos históricos ou são interpretações e releituras dos fatos; no entanto, este material nos ajudam a entender a teologia e a vida das primeiras comunidades cristãs. Ao mesmo tempo, lemos esses textos com o olhar crítico, visto que dificilmente podemos fundamentar teorias históricas baseadas nesses livros.

Rezemos:

Ó São Joaquim e Santa Ana, protegei as nossas famílias desde o início promissor até à idade madura repleta dos sofrimentos da vida e amparai-as na fidelidade às promessas solenes. Acompanhai os idosos que se aproximam do encontro com Deus. Suavizai a passagem suplicando para aquela hora a presença materna da vossa Filha ditosa a Virgem Maria e do seu Filho divino, Jesus! Amém.

 

CNBB
Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro (RJ)

Vários ensinamentos dos santos sobre a amizade

Quem encontrou, encontrou um tesouro!

Pode ser que muitos de nós sejamos ricos e ainda não nos demos conta. A Palavra de Deus já nos ensinava desde o Antigo Testamento: “Amigo fiel é proteção poderosa, e quem o encontrar, terá encontrado um tesouro. Amigo fiel não tem preço, e o seu valor é incalculável. Amigo fiel é remédio que cura, e os que temem ao Senhor o encontrarão” (Eclo 6, 14-16).

Se Jesus, que é Deus, quis precisar de amigos para seguir sua caminhada neste mundo; imagine nós? O ser humano não pode viver como uma ilha. É como afirmou São João Bosco em sua famosa frase: “Deus nos colocou no mundo para os outros”. Uma grande verdade! Inclusive, podemos dizer até que a partir de Cristo, a amizade tomou um novo sentido, o amigo é aquele que descobriu o valor e a dignidade do irmão, à luz do Evangelho. Essa sincera amizade, no verdadeiro sentido humano e cristão, se propagou entre os primeiros cristãos refugiados nas catacumbas. A história da Igreja é marcada de exemplos de profundas amizades entre os santos padres, como São Basílio e São Gregório, entre os grandes santos, como São Francisco de Assis e Santa Clara, Santo Ambrósio e Santa Mônica e muitos outros.

Em um de seus belíssimos escritos, São Gregório Nazianzeno, um dos padres da Igreja, escreveu sobre seu amigo São Basílio, e nos explicou um pouco como viviam profundamente a amizade:

“Encontramo-nos em Atenas. Como o curso de um rio, que partindo da única fonte se divide em muitos braços, Basílio e eu nos tínhamos separado para buscar a sabedoria em diferentes regiões. Mas voltamos a nos reunir como se nos tivéssemos posto de acordo, sem dúvida porque Deus assim quis.

Nesta ocasião, eu não apenas admirava meu grande amigo Basílio vendo-lhe a seriedade de costumes e a maturidade e prudência de suas palavras, mas ainda tratava de persuadir a outros que não o conheciam tão bem a fazerem o mesmo. Logo começou a ser considerado por muitos que já conheciam sua reputação.

Que aconteceu então? Ele foi quase o único entre todos os que iam estudar em Atenas a ser dispensado da lei comum; e parecia ter alcançado maior estima do que comportava sua condição de novato. Este foi o prelúdio de nossa amizade, a centelha que fez surgir nossa intimidade; assim fomos tocados pelo amor mútuo.

Com o passar do tempo, confessamos um ao outro nosso desejo: a filosofia era o que almejávamos. Desde então éramos tudo um para o outro; morávamos juntos, fazíamos as refeições à mesma mesa, estávamos sempre de acordo aspirando os mesmos ideais e cultivando cada dia mais estreita e firmemente nossa amizade.

Movia-nos igual desejo de obter o que há de mais invejável: a ciência; no entanto, não tínhamos inveja, mas valorizávamos a emulação. Ambos lutávamos, não para ver quem tirava o primeiro lugar, mas para cedê-lo ao outro. Cada um considerava como própria a glória do outro.

Parecia que tínhamos uma só alma em dois corpos. E embora não se deva dar crédito àqueles que dizem que tudo se encontra em todas as coisas, no nosso caso podia se afirmar que de fato cada um se encontrava no outro e com o outro.

A única tarefa e objetivo de ambos era alcançar a virtude e viver para as esperanças futuras, de tal forma que, mesmo antes de partirmos desta vida, tivéssemos emigrado dela. Nesta perspectiva, organizamos toda a nossa vida e maneira de agir. Deixamo-nos conduzir pelos mandamentos divinos estimulando-nos mutuamente à prática da virtude. E, se não parecer presunção minha dizê-lo, éramos um para o outro a regra e o modelo para discernir o certo e o errado.

Assim como cada pessoa tem um sobrenome recebido de seus pais ou adquirido de si próprio, isto é, por causa da atividade ou orientação de sua vida, para nós a maior atividade e o maior nome era sermos realmente cristãos e como tal reconhecidos”. (Ofício das Leituras)

A verdadeira amizade, além de ser relação entre pessoas é ajuda mútua e caminho espiritual. Podemos perceber isso claramente na vida dos santos.

Em uma de suas catequeses o Papa Bento XVI destacou:

“Essa é uma característica dos santos: cultivam a amizade, porque é uma das manifestações mais nobres do coração humano e tem em si algo de divino, como Tomás mesmo explicou em algumas quaestiones da Summa Theologiae, na qual ele escreve: ‘A caridade é a amizade do homem com Deus em primeiro lugar, e com os seres que a Ele pertencem’”.

Conheça aqui 15 ensinamentos que os santos nos deixaram sobre a amizade:

01 – “Nem sempre o que é indulgente conosco é nosso amigo, nem o que nos castiga, nosso inimigo. São melhores as feridas causadas por um amigo que os falsos beijos de um inimigo. É melhor amar com severidade a enganar com suavidade”. Santo Agostinho

02 – “Amando o próximo e cuidando dele, vais percorrendo o teu caminho. Ajuda, portanto, aquele que tens ao lado enquanto caminhas neste mundo, e chegarás junto daquele com quem desejas permanecer para sempre”. Santo Agostinho

03 – “Disse muito bem quem definiu o amigo como metade da própria alma. Eu tinha de fato a sensação de que nossas duas almas fossem uma em dois corpos”. Santo Agostinho

04 – “A amizade é tão verdadeira e tão vital, que nada mais santo e vantajoso pode-se desejar no mundo”. Santo Agostinho

05 – “A amizade é a mais verdadeira realização da pessoa”. Santa Teresa D’Ávila

06 – “A amizade com Deus e a amizade com os outros é uma mesma coisa, não podemos separar uma da outra”. Santa Teresa D’Ávila

07 – “A amizade, cuja fonte é Deus, não se esgota nunca”. Santa Catarina de Sena

08 – “Qualquer amigo verdadeiro quer para seu amigo: 1) que exista e viva; 2) todos os bens; 3) fazer-lhe o bem; 4) deleitar-se com sua convivência; e 5) finalmente compartilhar com ele suas alegrias e tristezas, vivendo com ele um só coração”. São Tomás de Aquino

09 – “A amizade diminui a dor e a tristeza”. Santo Tomás de Aquino

10 – “Quem com palavras, conversas e ações der escândalos, não é um amigo, mas um assassino de almas”. São João Bosco

11 – “Temos de ir à procura das pessoas, porque podem ter fome de pão ou de amizade”. Beata Madre Teresa de Calcutá

12 – “As palavras de amizade e conforto podem ser curtas e sucintas, mas o seu eco é infindável”. Beata Madre Teresa de Calcutá

13 –  “Ama a todos os homens com um grande amor de caridade cristã, mas não traves amizade senão com aquelas pessoas cujo convívio te pode ser proveitoso; e quanto mais perfeitas forem estas relações, tanto mais perfeita será a tua amizade”. São Francisco de Sales

14 –  “No mundo é necessário que aqueles que se entregam à prática da virtude se unam por uma santa amizade, para mutuamente se animarem e conservarem nesses santos exercícios”. São Francisco de Sales

15  – “Faz-nos tanto bem, quando sofremos, ter corações amigos, cujo eco responde a nossa dor”. Santa Teresa de Lisieux

Que neste dia do amigo, possamos refletir: “Que tipo de amigo eu sou?”; e pedir ao Senhor que nos dê a graça de viver santas amizades.

 

 Prof. Felipe Aquino