Cuidar de nossa “Casa Comum”
Como família, entendemos bem o termo utilizado na Campanha da Fraternidade (CF) deste ano: Casa Comum. Lugar onde todos habitam e, portanto, todos são responsáveis por ela. Por isso, as famílias são especialmente tocadas nesta CF, porque a moradia (seja a casa ou o ambiente como um todo) refere-se diretamente à situação de vida delas. E os “sinais dos tempos” têm sido mais de morte do que de vida.
Olhando para o saneamento básico, ponto focal desta CF, a sua falta ou precarização é motivo de graves problemas de saúde. Só para exemplificar, crianças ainda morrem por doenças adquiridas por contaminação da água e não tratamento do esgoto no Brasil, e o não cuidado com as águas da chuva, por exemplo, ajuda na proliferação do mosquito da dengue, do zika e da chikungunya. Quer mais? O desperdício de água e o não tratamento adequado do lixo (residencial e industrial) colocam em situação grave nossas cidades e nossas famílias.
A palavra de Deus ilumina nossa realidade, nos convocando a unir profundamente a fé e a vida. Deus alerta, por meio do profeta Amós: viver o culto sem praticar o direito e a justiça não é lhe é agradável! (cf. Am 5, 21-24). Então, não promover a vida das pessoas e de todos os seres criados por Deus é deixá-los na insegurança, na impossibilidade de uma vida digna e plena, ao contrário do que quer Jesus (cf. Jo 10,10). E ainda, alerta o papa Francisco, que, ao não cuidar do meio ambiente, negamos a existência aos outros (LS n. 95). Ou seja, podemos escolher o caminho da morte e não o da vida (cf. Dt 30,15).
As famílias atingidas pela seca, ou pelas enchentes, ou pelos “desastres ambientais”, como vimos recentemente no Brasil, ou aquelas que são obrigadas a viver em meio ao esgoto e lixo a céu aberto, gritam dia e noite, clamando por justiça. Quem as ouve? O sistema econômico gerador de desigualdades, que oprime e manipula a vida? O sistema político movido pelos interesses dos grandes? Como o povo no Egito, seu clamor chega a Deus (cf. Ex 3,7) e ele suscita homens e mulheres, nas diversas condições, para profetizar em seu nome e libertar o seu povo.
Famílias, comunidades, igrejas, lideranças políticas e de movimentos sociais são convocadas a educar as consciências e a participar da construção de políticas públicas que gerem vida para todos. Comecemos pelas nossas famílias na quaresma: oração e jejum que modifiquem nossas ações (consumir menos e participar das reivindicações por melhorias, por exemplo).
Suzana Coutinho