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A Ecologia: os desafios de novos ares da evangelização

Ecologia: o desafio de um “novo areópago” [cf. DAp, 491] da evangelização

Areópago (em grego antigo: Ἄρειος Πάγος areios pagos, “Colina de Ares”) era a parte nordeste da Acrópole em Atenas.  E assim significando: “ares da evangelização”.

“Por uma Comunicação que crie vínculos com a Criação”

“Criado à imagem e semelhança de Deus, o ser humano se comunica não por uma exigência, mas por
um dom natural; não por uma ordem, mas por vocação [DCIB,36]”… diz, ainda o Diretório de
Comunicação: “o Verbo Encarnado, em sua comunicação, manifesta a grandeza, a profundidade e a
beleza do amor de Deus à humanidade. Cristo revela-se como autocomunicação do amor de Deus pelos
seres humanos… orientando-a em direção a um futuro de plena comunhão” [n. 41].

Ecologia: o desafio de novos ares da evangelização

Essa comunicação participa da Criação, aliás, é na Criação que “Deus se revela como autor e comunicador da vida… comunica seu projeto de amor para o primeiro homem e a primeira mulher, conferindo-lhes a missão de serem colaboradores e continuadores do projeto da criação” [n. 34].

Protagonistas desse primeiro homem e primeira mulher, somos nós, os continuadores em “cultivar e guardar o jardim [cf. Gn 2,15]”, esta grande Casa Comum com suas biodiversidades, biomas, povos e culturas.
É este o apelo da Campanha da Fraternidade deste ano: defender a vida com toda a sua biodiversidade dentro de seus biomas. A riqueza brasileira, tem sua Criação formada por biomas que compreendem “a vida que se manifesta em um conjunto semelhante de vegetação, água, superfície e animais. Uma paisagem que mostra uma unidade entre diversos elementos da natureza” [TB, n. 4]. Temos o bioma Amazônia, o maior do Brasil, “com uma grande diversidade de formas de vida, neste bioma encontramos povos originários responsáveis por este pulmão da mãe terra” [TB, n. 27,32]; o bioma Caatinga, o único brasileiro, “tem um clima semiárido mais chuvoso do planeta. Trata-se de um clima rico em vida inteligente, adaptada ao clima semiárido”, “é o bioma em que mais se tem desinformação, preconceitos e estigmas. As ideias do fatalismo e de uma região inviável tomaram conta do olhar e da imaginação do Brasil e do mundo” [TB, n. 60,67].

O capítulo IV do Diretório afirma que “uma ética comunicacional cristã está fundada na transcendência da pessoa e dos valores humanos, na revelação de Deus ao homem e no Evangelho. É um encontro com a verdade da existência, a busca do sentido da vida e do Absoluto, que inspira, guia e liberta a pessoa” [n. 103].

A falta de informação e conhecimento dos biomas e suas realidades dão-se por uma comunicação que valoriza não a ética, mas o consumismo, o interesse político opressor e capitalista que desintegra, mata e polui nossa natureza, nosso planeta.

Temos que construir uma comunicação que crie vínculos fraternos, de amor com a Criação e sua beleza. Uma comunicação pautada na ética do bem comum que respeite a pessoa e a natureza, que “indique uma profunda relação com o Criador” [n. 110].

No bioma Cerrado encontramos a ‘caixa d’água do Brasil. É o bioma mais antigo e, por longo período considerado inadequado para a agricultura, dando espaço à criação de gados” [TB, 89,92]; a Mata Atlântica é o bioma que muito já se foi destruído. “Era originalmente densa, extensa e rica de variedade animal e vegetal, além de campos de altitude, mangues e restingas. Entretanto, desde o descobrimento do Brasil que ela vem sendo destruída…” [TB,119]; o bioma Pantanal “é considerado uma das maiores extensões úmidas contínuas do planeta com grande beleza e rica biodiversidade. O ecossistema mantém boa parte da sua cobertura vegetal nativa, responsável pela permanência de espécies que, em outros biomas, já se encontram em extinção” [TB,156]; e o bioma Pampa “caracterizado por paisagens planas, arbustos, matas ciliares, campos nativos, gramíneas, afloramentos rochosos, etc. Com fauna expressiva,
inclusive descrita pela ciência, uma forte característica deste bioma é também o vento, fator vital que configura a paisagem” [TB, 187,191,194,197].

Esta é a riqueza natural de nosso imenso Brasil. Precisamos criar esta cultura ecológica que o papa Francisco faz questão de nos pôr como tarefa cristã e, que aliás, já vem sendo tratado pela Igreja há muito tempo. A CF de 1979 já trouxe esta temática para a nossa liturgia quando gritou “preserve o que é de todos”, seu objetivo principal era de uma “ecologia que conclama todos a uma nova mentalidade. Trata-se de superar o egoísmo, a ganância de possuir mais a qualquer preço. Trata-se de ser escrupulosamente preocupado em preservar e conservar o ar, a água, a flora e a fauna que são elementos necessários ao próximo”.

“Queremos felicitar e incentivar a tantos discípulos missionários de Jesus Cristo que, com sua presença ética coerente, continuam semeando os valores evangélicos nos ambientes onde tradicionalmente se faz cultura e nos novos areópagos: a ecologia e a proteção da natureza.

Evangelizar a cultura, longe de abandonar a opção preferencial pelos pobres e pelo compromisso com a realidade…” [DAp,491]. Comunicar: criar vínculos fraternos com Deus, com o irmão e com toda a Criação, “que entre nós cresça em nós uma nova ecologia [LS, 137]. “Louvado sejas, ó Senhor, pela mãe terra, que nos acolhe, nos alegra e dá o pão [LS, 01]. Queremos ser os teus parceiros na tarefa de cultivar e bem guardar a Criação”.

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Conheça a vegetação nativa no mundo neste gráfico

 

Frt. Dione Afonso, SDN
Adaptação, ilustração e revisão
Portal Kairós

O desafio de despertar a consciência coletiva durante a CF 2017

Com o tema ‘Fraternidade: biomas brasileiros e defesa da vida’ e o lema ‘Cultivar e guardar a criação’ a Campanha de 2017, sublinha a urgência do despertar de cada pessoa, para uma consciência coletiva ambiental e uma conversão pessoal e comunitária.

O desafio de despertar a consciência coletiva durante a CF 2017

Ampliando e motivando uma tomada de conscientização sobre as ações direcionadas ao meio ambiente, a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) traz a reflexão sobre os biomas brasileiros (Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pampa e Pantanal) na Campanha da Fraternidade desse ano.

“…as pessoas contemplem o meio ambiente de uma forma mais cristã”.

“O grande desafio da Campanha da Fraternidade 2017, como em todos os anos, é a formação da consciência de modo que as pessoas contemplem o meio ambiente de uma forma mais cristã”, enfatiza o assessor da Campanha da Fraternidade da sub-região pastoral de Aparecida (SP), padre Leandro Alves de Souza.

O sacerdote cita o livro de Génesis que fala da criação do mundo, dando o exemplo do limite colocado por Deus ao proibir o homem de comer o fruto da árvore, explicando que “o ser humano não é capaz de perceber se as suas ações são boas ou ruins, precisando de fato da luz de Deus”.

Como base nisso, a Igreja vê a necessidade de refletir cada vez mais a importância do pensamento coletivo, de uma responsabilidade assumida verdadeiramente com respeito ao próximo e à natureza, como princípios de um bom cristão.

“Um outro grande desafio é esse individualismos acentuado que a gente vive. Vimos há alguns anos essa a crise hídrica enfrentada no estado de São Paulo. E ficou claro que muitas pessoas só tomavam consciência do problema se abrissem a torneira e não caísse um pingo d’água. A gente continuou vendo o desperdício, atitudes totalmente irresponsáveis. Então na verdade o grande desafio nosso é despertar essa consciência coletiva”, expressou padre Leandro.

Para contribuir na formação das pessoas e incentivar ações que favoreçam o meio ambiente e as gerações futuras, a CNBB preparou uma série de atividades como via-sacra, círculo bíblico, temas para reflexões em família e celebração penitencial. Padre Leandro aponta que essas reflexões são urgentes e necessárias e deixa uma pergunta, que em sua opinião, deveria nortear as atitudes de cada pessoa:

“Qual o mundo ou qual o meio ambiente entregaremos para os filhos, para os netos, para as gerações futuras?”

“Até quando o ser humano vai tratar a natureza simplesmente com objeto de lucro…?
Padre Leandro levanta um questionamento preocupante: “Até quando o ser humano vai tratar a natureza simplesmente com objeto de lucro, manipulando-a cada vez mais, sem pensar nas consequências futuras?”.

Ele destaca alguns gestos concretos que podem motivar a política pública a criar ações que promovam um meio ambiente sustentável como incentivar projetos de lei que proíbam, por exemplo, o uso de agrotóxicos, cobrar dos políticos atenção aos malefícios que as queimadas e a poluição urbana provocam e incentivar a participação dos leigos e leigas nos conselhos paritários, como o Conselho Municipal do Meio Ambiente.

O assessor da Campanha da Fraternidade sugere que durante a Quaresma, que se que inicia na Quarta-feira de Cinzas (1 de março), os cristãos busquem viver a experiência de uma espiritualidade franciscana, de modo que se torne uma atitude comum e concreta para a vida.

“São Francisco, o grande defensor do meio ambiente, nos ensina com a sua vida e com seus escritos que a natureza não pode ser manipulada muito menos tratada como objeto de lucro, pelo contrário, a natureza é a nossa irmã, o bioma faz parte do nosso relacionamento fraterno”, concluiu padre Leandro.

 

a12.com
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