Editorial: Corrupção, coração partido

Nos dias passados foi lançado aqui em Roma (dia 15/06) o livro-entrevista do Prefeito do Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral, Cardeal Peter Turkson, e Vittorio V. Alberti, com o prefácio do Papa Francisco, intitulado “Corrosão”. Aproveitando o momento que vivemos no Brasil e onde a corrupção é uma palavra que entrou no léxico de todo brasileiro gostaríamos de recordar algumas considerações de Francisco que podem nos ajudar a conhecer e enfrentar essa chaga da sociedade moderna.

No prefácio do livro do Cardeal Turkson, Bergoglio afirma que “a corrupção, na sua raiz etimológica, define uma dilaceração, uma ruptura, decomposição e desintegração” A corrupção revela uma conduta antissocial tão forte que dissolve as relações e os pilares sobre os quais se fundam uma sociedade: a coexistência entre as pessoas e a vocação a desenvolvê-la.

“Coração partido”. É isso o que recorda a palavra “corrupto”. “Um coração fragmentado, manchado por alguma coisa”, “estragado” como um corpo decomposto.

O discurso do Papa se acende e se aguça quando se trata de decompor o fenômeno da corrupção em suas metástases que atingem, diz ele, o “interior” da pessoa, junto com o “fato social”. O ponto de partida para Francisco são as “três relações” que caracterizam a vida humana: a relação com Deus, com o próximo, e com o meio ambiente.

Quando o homem é “honesto” vive essas relações de forma responsável em prol do “bem comum”. Em vez disso, o homem que se deixa corromper “sofre uma queda” e a “conduta antissocial” que a corrupção induz acaba por “dissolver a validade das relações”. Rompem-se os pilares da convivência entre as pessoas, o interesse particular é como um veneno que “contamina todas as perspectivas”.

A corrupção cheira mal, disse certa vez o Papa. E esse conceito Francisco retoma no prefácio do livro. O “corrupto” é em síntese alguém “que emana o ‘mau cheiro’ de um coração decomposto, que está na origem da exploração, da degradação, da injustiça social e da ‘mortificação do mérito’, da ausência dos serviços às pessoas”. A “raiz” da escravidão.

A corrupção, repete com força Francisco, é “uma forma de blasfêmia”, é a arma, a linguagem mais comum também da máfia um “processo de morte que dá linfa à cultura de morte”, de quem tece o crime. E hoje, para muitos, só “imaginar o futuro” é extremamente difícil, pois a corrupção chega a minar a “esperança”, a esperança de que algo melhor é possível, a esperança da juventude que sonha com um horizonte diferente, de luz e não de escuridão.

Francisco, apreciando a análise conduzida pelo Cardeal Turkson sobre o fenômeno, adverte também a Igreja para a sua forma mais perigosa de corrupção, o “mundanismo espiritual”, a “apatia, a hipocrisia, o triunfalismo”, o “sentimento de indiferença”. Existe uma profunda questão cultural que deve ser enfrentada. Todos estamos expostos à tentação da corrupção.

A corrupção tem na origem o cansaço da transcendência, como a indiferença. Por isso, o corrupto não pede perdão, disse Francisco. A Igreja deve ouvir, elevar-se e inclinar-se sobre a dor e sofrimento das pessoas segundo a misericórdia e deve fazer isso sem ter medo de purificar-se, buscando sempre o caminho para se melhorar. Segundo o teólogo francês Henri de Lubac: “O maior perigo para a Igreja é a mundanidade espiritual, portanto, a corrupção, que é mais desastrosa que a lepra infame.”

Segundo o Pontífice, o antídoto contra a corrupção é a “beleza”, que “não é um acessório cosmético, mas algo que coloca no centro a pessoa humana para que ela possa levantar a cabeça contra todas as injustiças. Essa beleza deve casar-se com a justiça”.

Devemos trabalhar todos juntos, cristãos e não cristãos, pessoas de todos os credos e ateus para combater esta forma de blasfêmia, este câncer que mata as nossas vidas e cancela o futuro das novas gerações.

 

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“Seu churrasco tem soja?” Confira o documentário

O documentário “Seu churrasco tem soja?” será lançado neste sábado no FICA, em Goiás.

Por se tratar de uma produção austro-brasileira, o documentário foi lançado no mês de março em diversos estados da Áustria. E neste sábado, 24, o documentário será exibido pela primeira vez no Brasil durante a Mostra da Universidade Estadual de Goiás (UEG) na 19º edição do Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (FICA), realizado entre os dias 20 e 25 de junho na Cidade de Goiás (GO).

O documentário foi produzido por Thomas Bauer, agente da Comissão Pastoral da Terra (CPT) na Bahia, e conta com o apoio da CPT, Welthaus Graz, e Campanha Nacional em Defesa do Cerrado. “O filme nasceu a partir da necessidade de mostrar uma realidade muitas vezes desconhecida. Neste caso, principalmente na região onde a soja avança desenfreadamente, contribuindo para que o Brasil hoje seja campeão em uso de agrotóxicos, e deixando um rastro de destruição para trás”, afirma Thomas.

A produção debate os impactos causados nas populações locais e no meio ambiente por conta da demanda mundial por carne, a partir da soja – produto base na produção de carne bovina, suína, aves e outras, através da ração utilizada nesses criatórios. A produção de soja domina hoje dois terços das terras férteis do mundo, e o Brasil é um dos maiores exportadores de grande parte desta soja.

O testemunho de dona Valdiva

Dona Valdiva Oliveira, 60 anos, era acampada há anos, quando acabou sendo expulsa, principalmente, pelo agrotóxico. Hoje, assentada no estado do Mato Grosso, ela enfatiza que é necessário uma mudança de hábitos nesse sentido, senão “nosso futuro não é bom”. Ela explica: “Porque o veneno ele polui tudo, ele polui o ar, a terra, as águas, o subsolo e os corpos humanos também”, afirma ela, que é uma das entrevistadas do filme.

Os efeitos da monocultura

O documentário aborda os impactos da monocultura da soja no estado de Valdiva, no Mato Grosso do Sul, e em Rondônia – realidades que se assemelham com a de Goiás, onde a produção será lançada. “A soja não é um produto que integra socialmente, mas sim um produto socialmente excludente. Porque neste meio de produção apenas aqueles podem existir que [são os que] possuem bastante capital. São poucos grupos de investidores. A soja não é um produto para o pequeno agricultor, isso é claro”, aborda, no filme, o professor Martin Coy, da Universidade de Innsbruck, na Áustria.

“Mas quais são as consequências do boom da soja onde ela é cultivada? O que significa para as populações locais o avanço do chamado ‘ouro verde?’”, esses e outros questionamentos são levantados no documentário.

‘Seu churrasco tem soja?’ estará disponível, a partir das 10hrs do dia 24 de junho, no site da Comissão Pastoral da Terra e da Campanha Nacional em Defesa do Cerrado.

 

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Papa a atletas da natação: “Água é vida”

No final da manhã de sábado (24/06), o Papa recebeu cerca de 300 participantes do Campeonato de Natação ‘Settecolli’, que está em andamento em Roma neste fim de semana. O torneio é internacional e atletas brasileiros também estão competindo.

Tratou-se de um encontro breve na Sala Clementina, que reuniu o Papa com os nadadores e membros da Federação.

Francisco se disse contente em recebê-los e enalteceu os valores transmitidos pelo esporte: “São valores necessários nesta sociedade definida ‘líquida’, sem referências sólidas. Seu esporte é feito na água, mas não é ‘líquido’ – brincou – mas muito sólido pois requer esforços constantes e determinação”.

Água é vida, vida em Cristo

Em seguida o Papa lembrou as palavras de São Francisco “Laudato si, pela irmã água, que é mui útil e humilde. E preciosa e casta”.

“Água é vida, e falar de vida é falar de Deus, origem e fonte da vida, como da nossa vida cristã que se inicia com o Batismo”.

Francisco chamou a atenção também para o valor do corpo; que deve ser cuidado e não idolatrado; a importância da interioridade e a busca de sentido no que fazem; a força e a coragem ao resistir à fadiga; a visão clara da meta e como alcançá-la; o valor da autenticidade que conduz à transparência, à limpidez, à clareza interior”.

 

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REPAM: “Como nos reconciliar com a Criação?”

A reconciliação com o meio ambiente em território amazônico foi o principal tema debatido no III Encontro da Rede Eclesial Pan-amazônica, REPAM, realizado em Letícia, nas margens do Rio Amazonas, na tríplice fronteira entre Colômbia, Peru e Brasil, de 19 a 23 de junho.

O Encontro reuniu mais de 100 participantes entre bispos colombianos, convidados do Peru e do Brasil, e povos indígenas e camponeses. “A política extrativista que tem sido aplicada no território afeta a soberania alimentar dos povos indígenas, afros e campesinos e aumenta os efeito negativos das mudanças climáticas”, denunciou Armando Valbuena, indígena Wayú e assessor da Organização Nacional Indígena da Colômbia-ONIC.

A respeito da relação com a Criação a partir da Encíclica do Papa Laudato Si, Dom Joselito Carreño, bispo de Puerto Inírida, recordou que “a reconciliação é a conversão ecológica com o mundo que nos circunda: isto não é opcional ou secundário… o ser humano tem que mudar esta relação”. Na Encíclica, ainda segundo o bispo, o Papa demonstra que a deterioração do meio ambiente tem conexão direta com o sofrimento e o abandono dos pobres, que são quase sempre os primeiros a sofrer as consequências da deterioração ambiental. ”O clamor da terra é o mesmo clamor dos pobres”.

Para Cesar Baratto (teólogo e representante da família Franciscana, docente na Universidade Santo Tomas), a reflexão proposta na Encíclica retoma a imagem de Deus e ilumina as chaves para sair da atual crise ecológica: “A teologia da Criação nasce para reconstruir e reconciliar”.

Jovens: REPAM é uma porta aberta para o conhecimento

Foi destacado também o papel dos jovens no futuro da sociedade colombiana. Representantes das pastorais juvenis, presentes no Encontro, ressaltaram que sob a liderança dos jovens é possível defender e proteger os recursos naturais, mas para isso, é preciso avançar nos conhecimentos. Para eles, a REPAM é um instrumento que vai favorecer uma nova articulação em prol do bem comum dentro do território amazônico.

O Encontro foi uma ocasião para insistir num trabalho em comunhão que obtenha ações mais efetivas como rede, a partir de planos de ação conjuntos para enfrentar os maiores desafios da realidade amazônica colombiana.

 

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Papa a futuros cardeais: cardinalato é serviço, não promoção principesca

“Querido irmão, no dia em que celebramos a visita da beata Virgem Maria envio-lhe um caloroso abraço, como antecipação do abraço que lhe darei dia 28 de junho durante o Consistório.”

Com essas palavras, o Papa Francisco inicia a carta que enviou em 31 de maio passado ao bispo de Estocolmo e futuro cardeal, Dom Anders Arborelius, publicada esta sexta-feira (23/06) no site da diocese sueca.

“Com esta saudação, expresso minha esperança de que seu testemunho como discípulo do Senhor possa ser ainda mais evidente no serviço que hoje a Igreja lhe pede”, escreve o Pontífice.

Cardinalato não o torna mais importante que os outros

“O cardinalato é um serviço”, não “uma dignidade que torna mais importante dos que os outros, nem uma honorificência ou uma promoção principesca”, lê-se na missa. “Trata-se de algo de completamente diferente e maior: é um chamado a seguir o Senhor mais de perto”, e a fazê-lo de modo incondicional, acrescenta.

Em seguida, Francisco diz ter rezado de modo especial pelo cardeal no dia precedente ao que escreveu a carta, ouvindo uma leitura dos Atos dos Apóstolos, refletindo sobre a generosidade do serviço de São Paulo e sobre as palavras do apóstolo “Não considero minha vida merecedora de nada”.

A exemplo do apóstolo Paulo, não sentir-se merecedor de nada

“Desejei e pedi para você a mesma atitude em sua vida de cardeal”, explica o Santo Padre, que agradece ao futuro purpurado “pela ajuda que dará à Igreja de Roma”, assegurando-lhe suas “orações” e sua “proximidade fraterna”. Por fim, o Papa Francisco pede que se recorde de rezar por ele.

 

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