Campanha da Fraternidade: Superação da violência

Para 2018 o tema da Campanha da Fraternidade (CF) 2018 é “Fraternidade e superação da violência” e o lema: “Vós sois todos irmãos” (Mt 23,8). O seu objetivo é “Construir a fraternidade, promovendo a cultura da paz, da reconciliação e da justiça, à luz da Palavra de Deus, como caminho de superação da violência” (CF 2018 Texto-Base).

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) promove todos os anos a CF que tem início no período quaresmal – tempo em que o cristão é convocado à conversão, à mudança de vida. A Campanha da Fraternidade é um “caminho pessoal, comunitário e social que visibilize a salvação paterna de Deus”, explicou Dom Leonardo Ulrich Steiner, Bispo Auxiliar de Brasília e Secretário-Geral da CNBB, no subsídio CF 2018 Texto-Base.

Igreja X Violência

A humanidade tem vivido oprimida diante das inúmeras formas de violência que perturbam sua paz: agressividade nos gestos e palavras, mortes, corrupção, drogas. Uma realidade que demonstra que o ser humano tem perdido a capacidade de viver como irmãos – o que precisa ser resgatado.

Tudo sobre a CF 2018

À luz da palavra de Deus, a Igreja quer unir forças com os cristãos buscando meios de libertar-se da violência. A própria Sagrada Escritura está repleta de episódios de violência, sobretudo no Antigo Testamento desde o livro do Gênesis, quando “o pecado passa a fazer parte da história humana sussurrando o mal em seu ouvido” (CF 2018 Texto-Base n. 153), passando pelos Salmos e pelo livro das Lamentações. Contudo, em todos esses episódios, aponta o documento da CNBB, “a oração e a confiança em Deus são as únicas armas utilizadas pelos não violentos” (CF 2018 Texto-Base n. 163) para combater o mal.

Já no Novo Testamento, Cristo emerge do caos oferecendo e pregando o amor. Para combater a violência Ele pediu: “Convertei-vos e crede no Evangelho”! (MC 1,12-15). Jesus chama a atenção dos seus discípulos alertando-os que a violência brota do interior da pessoa: “é de dentro, do coração humano, que saem as más intenções: imoralidade sexual, roubos, homicídios, adultérios, ambições desmedidas, perversidades; fraude, devassidão, inveja, calúnia, orgulho e insensatez. Todas essas coisas saem de dentro, e são elas que tornam alguém impuro” (Mc 7, 21-23).

É, portanto, o coração humano que precisa ser pacificado. “A superação da violência passa necessariamente pela conversão dos atos do homem que pressupõe uma conversão de seu coração” (CF 2018 Texto-Base n. 172). A Igreja aponta a espiritualidade como o “instrumento necessário” para extirpar o mal: “brilhe a vossa luz diante das pessoas, para que vejam as vossas boas obras e louvem o vosso Pai que está nos céus” (Mt 5,16).

Ao longo desse ano litúrgico CF 2018 quer recordar que “a promoção da paz se torna um ministério de todo cristão” (CF 2018 Texto-Base n. 169). Por isso nos convida a promover a paz por meio da reconciliação e da misericórdia. Se a violência se caracteriza pela ausência do amor e da fraternidade, cabe a cada cristão amar e semear o amor, pois somos filhos amados de Deus.

CNBB

O Advento e a Campanha da Fraternidade 2018

Iniciamos essa semana, com o primeiro domingo do Advento um novo ano litúrgico. Tempo bonito, tempo de luz e de esperança, uma esperança difícil de ser mantida em um mundo em que a mídia faz com que atos violentos e terroristas sejam conhecidos em tempo real. Abundam também as estáticas e sabemos o ranking das cidades mais violentas, do número de jovens assassinados, das vítimas do trânsito. É uma realidade assustadora que se assemelha a uma guerra civil. A Igreja católica sentiu a necessidade de enfrentar este problema internamente e num diálogo sério com a sociedade não só para evidenciar o problema mas para buscar juntos formas de superá-lo. E o caminho já tradicional é dedicar ao tema uma Campanha da Fraternidade, que embora se realize na quaresma marca todo o tempo litúrgico devido a pertinência dos assuntos escolhidos.

A Campanha do ano que vem não é simplesmente sobre violência, mas sim sobre a sua superação. Ela quer lembrar que existe uma violência difusa, cultural que se manifesta até na linguagem e na forma como nos referimos a determinadas pessoas. Esta violência é mais difícil de ser detectada, mas é igualmente mortífera e destruidora. Mas o mais importante é descobrir caminhos de superação, que passam necessariamente pela conversão do coração, mas também por mudanças na legislação e na implementação de um sistema de restauração da justiça que supere a lógica da vingança. Isto tudo começa pela própria imagem que nós temos de Deus. É ele o Pai misericordioso ou é o Juiz implacável que pune os que o ofendem? Se for levada a sério será uma campanha exigente. Mas ela também nos fará conhecer experiências que tiveram resultado. Nos lembrará o óbvio.

A Campanha da Fraternidade do ano que vem não é simplesmente sobre violência, mas sim sobre a sua superação

É na família que tudo começa, pois ali a criança já antes do seu nascimento encontra acolhimento e carinho. Felizes os seres humanos que vem ao mundo num lar onde se é simplesmente normal. Infelizmente sabemos que as piores violências são as praticadas dentro das casas, porque vem de quem confiamos e mantém-se em segredo mais facilmente podendo perdurar mais tempo. Criar condições dignas de moradia, ter trabalho para todos, assegurar educação de qualidade, providenciar áreas de lazer, são políticas públicas que reduziriam bastante os índices de violência.

Temos razões para ter esperança, quando vemos pessoas que assumem suas responsabilidades sociais e exercem suas funções públicas em favor daqueles que não tem poder. Quando vemos jovens procuradores de justiça assumindo com empenho suas obrigações para reparar injustiças, sobretudo as provocadas pela corrupção que é uma forma perversa de violência além de ser covarde, voltamos a acreditar na possibilidade de um mundo sem agressões. René Girard, diz que a origem da violência está no desejo mimético. Eu quero aquilo que você tem e por isso eu o destruo. Assim foi o assassinato de Abel por Caim. O irmão que tira a vida do irmão por inveja e despeito. E este assassinato está na origem da história humana. Jesus inverteu esta lógica ao morrer para os irmãos. A não violência é o caminho de salvação e é preciso eliminá-la de dentro de nós.

Dom Sérgio Castriani

Encontro de preparação da Campanha da Fraternidade 2018

“Convertei-vos e crede no Evangelho”! A Quaresma é um tempo forte de penitência e de mudança de vida, que nos insere sempre mais no mistério de Cristo. Conversão possibilita o retorno da dispersão para a nascente inesgotável da vida: “Dai-nos, no tempo aceitável, um coração penitente, que se converta e acolha o vosso amor paciente.”

No dia 09 de dezembro acontece o primeiro Encontro de Planejamento da Campanha da Fraternidade 2018.

O encontro ocorrerá na Cúria Metropolitana de Brasília, situada ao lado da Catedral, na Esplanada dos Ministérios, das 08h às 12h.

Durante o encontro, serão apresentadas as diretrizes e as prioridades estabelecidas para a CF 2018, que traz o tema: Fraternidade e superação da violência e lema: Vós sois todos irmãos (Mt. 23,8).

A reunião é direcionada para Coordenadores de Pastoral, Movimento e Serviço.

Pedimos, encarecidamente, que cada paróquia enviem no máximo 2 representantes.

A participação de todos é de suma importância para que possamos alcançar bons resultados com a Campanha.

Em caso de dúvida, entre em contato com a Secretaria da Comissão Arquidiocesana de Pastoral, através do telefone: 3213 3341 ou do email: fernanda.pastoral@arquidiocesedebrasilia.org.br.

Tudo sobre a CF-2018

Informações:
Local: Cúria Metropolitana
Endereço: Esplanada dos Ministérios
Telefone: 3213 3341
E-mail: fernanda.pastoral@arquidiocesedebrasilia.org.br

Hino da Campanha da Fraternidade 2018

HINO OFICIAL DA CF  2018
Letra: Frei Zilmar Augusto, OFM
Música: Pe. Wallison Rodrigues

  1. Hino da Campanha da Fraternidade 2018 CF 2018

01 – Neste tempo quaresmal, ó Deus da vida,
A tua Igreja se propõe a superar.
A violência que está nas mãos do mundo,
E sai do íntimo de quem não sabe amar. (Mc 7,21)

Refrão:
Fraternidade é superar a violência! (Mt 14, 1-12)
É derramar, em vez de sangue, mais perdão! (Jo 20, 21-23)
É fermentar na humanidade o amor fraterno! (Mt 13, 33)
Pois Jesus disse que “somos todos irmãos”. (Mt 23,8). (2x)

02 – Quem plantar a paz e o bem pelo caminho,
E cultivá-los com carinho e proteção,
Não mais verá a violência em sua terra. (Is 59,6)
Levar a paz é compromisso do cristão! (Ef 6, 15)

03 – A exclusão que leva à morte tanta gente, (EG 59)
corrompe vidas e destrói a criação. (LS 70)
– “Basta de guerra e violência, ó Deus clemente!” (Mq 2,2)
É o clamor dos filhos teus em oração.

04 – Venha a nós, Senhor, teu Reino de justiça,
Pleno de paz, de harmonia e unidade. (Mt 6, 10 e Rm 15, 17-19)
Sonhamos ver um novo céu e uma nova terra:
Todos na roda da feliz fraternidade. (Ap 21, 1-7)

05 – Tua Igreja tem o coração aberto, (EG 46-49)
E nos ensina o amor a cada irmão.
Em Jesus Cristo, acolhe, ama e perdoa,
Quem fez o mal, caiu em si, e quer perdão. (Mt 18, 21)

Baixe a letra do Hino da CF 2018 – Word, pdf, telão e apresentação:

Baixe a partitura do Hino da CF 2018:

Baixe o Hino da CF 2018 (música em mp3):

Baixe a cifra simplificada do Hino da CF 2018 Voz e Violão – Word e pdf:

Na Área Especial

Baixe o Hino da CF 2018  Voz e Violão (música em mp3):

Cantos da Campanha da Fraternidade 2018

Baixe todas as músicas da Campanha da Fraternidade 2018 + extras + playback do hino e midi + músicas litúrgicas

Músicas dos livrinhos/materiais/subsídios

Músicas para: CF 2018 – Celebração Ecumênica, CF 2018 – Encontros catequéticos para crianças e adolescentes, CF 2018 – Via-Sacra , CF 2018 – Vigília Eucarística e Celebração da Misericórdia, CF 2018 – Círculos Bíblicos, CF 2018 – Jovens na CF, CF 2018 – Famílias na CF e Via-Sacra, CF 2018 – Ensino Fundamental I – 1º ao 5º ano, CF 2018 – Ensino Fundamental II – 6º ao 9º ano, CF 2018 – Ensino Médio 1° ao 3° Ano – CF 2018 – Fraternidade Viva

CF 2018: Análise da violência no Brasil

O professor da PUC Minas, onde coordena o Núcleo de Estudos Sociopolíticos (Nesp), Robson Sávio Reis Souza, é um dos colaboradores na redação do texto base da Campanha da Fraternidade 2018, cujo tema é violência. Doutor em Ciências Sociais e especialista em Segurança Pública, além de membro associado do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o professor falou à Revista Bote Fé, das Edições da CNBB, sobre o tema da violência. Para o autor do livro “Quem comanda a segurança pública no Brasil: atores, crenças e coalizões que dominam a política nacional de segurança pública”, da Editora Letramento, a violência vem se tornando o fio condutor da forma como se realiza a sociabilidade no Brasil. Acompanhe, abaixo, a íntegra da entrevista.

Violência no Brasil

A ideia de que o povo brasileiro é ordeiro e de que há uma sociabilidade pacífica é um mito nacional?

A experiência do viver em paz fundamenta a autoimagem de um povo que se concebe como pacífico, ordeiro e inimigo da violência. Contudo, essa ideia não apaga as contradições. Ao mesmo tempo em que se ostenta a vida pacífica, produz-se e promove-se a violência, tanto no espaço público como no ambiente privado de casas e empresas; nas interações pessoais diretas ou mediadas pela tecnologia. Constata-se que, até mesmo nas relações sociais cotidianas, o equilíbrio necessário à existência pacífica tem aparecido frágil e suscetível a abalos, inflamados frequentemente por razões banais.

Nesse movimento de transformação social, tem emergido uma sociabilidade que vai se concretizando em ações cotidianas violentas. A cordialidade parece ceder lugar à intolerância. O compartilhamento negociado de espaços e recursos parece, então, correr o risco de ser substituído pela imposição autoritária de pontos de vista e a subjugação do outro pelo uso da força, seja ela simbólica ou, em certos casos, até mesmo física. Em razão de fenômenos como esses, é possível suspeitar que a sociedade brasileira possa estar consolidando modos de vida referenciados no uso da força e da violência.

A violência se torna o fio condutor da forma como se realiza a sociabilidade, isto é, a forma como uma pessoa interage com as demais em um certo grupo social. Por vezes, para combater a violência, escolhem-se condutas violentas. A concepção punitiva da justiça feita pelas próprias mãos, o incremento dos equipamentos de segurança pela população em busca de autoproteção, a exigência do maior rigor nas leis e do aumento dos presídios são exemplos de como o discurso contra a violência às vezes se converte em práticas que podem vir a aumentar ainda mais a sociabilidade violenta. Isso ocorre quando se pretender fazer o combate da violência pelo recurso a instrumentos potencialmente geradores de mais violência.

A concepção punitiva da justiça feita pelas próprias mãos, o incremento dos equipamentos de segurança pela população, a exigência do maior rigor nas leis e do aumento dos presídios são exemplos de como o discurso contra a violência às vezes se converte em práticas que podem vir a aumentar ainda mais a sociabilidade violenta

No texto base da CF 2018 vocês falam de uma violência multifacetada e epidêmica que faz parte da história do país. Multifacetada e epidêmica? O que estas expressões dizem sobre a natureza da violência em nosso país?

O Brasil é uma sociedade injusta, excludente e extremamente desigual que exibe uma democracia sem cidadania. Injustiça, exclusão e desigualdade são fatores que geram múltiplas formas de violência. A fome, o desemprego, a falta de moradia, de políticas públicas de proteção e promoção de direitos são tipos de violência que afetam a dignidade humana.

Apesar de ser a oitava maior economia mundial, é o décimo país mais desigual do mundo, segundo o Relatório de Desenvolvimento Humano, de 2016, elaborado pela Organização das Nações Unidas. Em relação à violência letal, por exemplo, os números apontados pelo Mapa da Violência 2016, mostram que, no Brasil, cinco pessoas são mortas por arma de fogo a cada hora. A cada único dia são 123 pessoas assassinadas dessa forma.

Por ano, quase 60 mil brasileiros são assassinados. A maioria pobres, negros, jovens e moradores da periferia. É uma violência seletiva. Não atinge a todos. No Brasil, há locais mais seguros que a Europa e mais violentos que a Síria. Talvez, por isso, a violência letal não apareça como um escândalo que clama aos céus, para muitos segmentos da sociedade e dos governos.

Essas cifras revelam que, no Brasil, ocorrem mais mortes por arma de fogo do que nas chacinas e atentados que acontecem em todo o mundo. Contam-se mais homicídios aqui do que em diversas das guerras recentes.

A violência se torna o fio condutor da forma como se realiza a sociabilidade, isto é, a forma como uma pessoa interage com as demais em um certo grupo social

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