Testemunho de humildade

Na preparação para o Natal fulge a humildade de São João Batista, oferecendo uma atitude fundamental para bem se receber as graças da magna solenidade que se aproxima. Ele proclamou claramente: “Já vem quem é mais forte do que eu, a quem não sou digno de desatar as correias das sandálias!”. Deste modo, o Precursor introduz em um mistério da mais total verdade numa sinceridade maravilhosa. Ele patenteia a grandeza de Jesus e, apesar da fama que o rodeava, nunca lhe passou pela mente ser maior do que aquele que ele anunciava. Tanto mais admirável a conduta de João Batista, quando se considera que ele era o maior dos profetas, aquele que teve o privilégio de ser o escolhido para mostrar ao povo o Messias, fruto da promessa feita por Deus a Abraão e renovada a Davi. Ele convida então a todos a não se julgar importante, catalizador de grandes feitos, superior aos outros, pois aquele cujo nascimento vai ser comemorado ensinaria: “Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração” (Mt 11,29).

humildade

É para esta humildade que arrasta São João Batista e, na verdade não simplesmente mostrando um ato de virtude. Era, de fato, um ensinamento para poder inclusive compreender a lição de Jesus. Tratava-se de um comportamento, não simplesmente de um ensinamento moral. Assim só haurirão as bênçãos natalinas os que possuídos de humildade reconhecerem os seus erros, a fim de se purificarem para poder bem se aproximar do Presépio onde um Deus se fez pequenino. O mistério do Natal é um mistério do Ser Supremo com o qual só se entrará em comunhão através do reconhecimento da própria insignificância que afasta todo orgulho. O Messias que o Batista anunciava não viera a este mundo cercado de uma coorte fazendo soar trombetas, mas o reencontraremos num estábulo, fazendo-se pobre para nos enriquecer com suas riquezas. São João Batista está a acenar para uma experiência espiritual que leve a uma total conversão interior.

Cumpre em pleno Advento tentar então perceber que a presença de Deus na vida de cada um não se manifesta ruidosa. Ele vem secretamente, silenciosamente, no remanso de uma noite e docemente quer nascer dentro de cada coração. É preciso então que saibamos ser humildes para captar e entender a voz silenciosa daquele que fala lá no íntimo do ser humano. Desta forma a humildade estampada em João Batista é uma condição necessária para a aproximação do Menino Deus. João Batista era o homem que não existia para si mesmo, mas para o Outro que era maior do que ele. Foi por isto que ele disse também que era preciso que Jesus fosse exaltado e que perante o Filho de Deus todos, inclusive ele, João Batista, se diminuísse. Deste modo, somos forçados a reconhecer nesta figura extraordinária do Precursor a missão mesma da Igreja.

No terceiro milênio de evangelização e de testemunho é preciso que cada um se examine até onde tem cooperado para que Jesus seja, realmente, conhecido e amado. Neste Natal Ele estará batendo delicadamente às portas de nossas consciências e de nossos corações esperando uma cooperação ainda maior no esforço da própria perfeição de vida e no trabalho da evangelização. Jesus precisa de evangelizadores para anunciar o seu reino de amor.com o dinamismo daquele que O fez conhecido dos que O esperavam. Um engajamento total num apostolado profícuo. A aproximação do Natal deve levar a todos a refletir e a repensar os valores do Evangelho que se opõem aos valores humanos. Numa sociedade materialista obnubilada pelo desejo de riquezas e de prazeres egoístas cumpre verificar o que em nossas comunidades se pode realmente fazer para ajudar os mais necessitados.

É preciso levar a todos que estão na solidão e no desespero as alegrias do Natal de Jesus. Que faria João Batista nos dias de hoje? Certamente ele demonstraria a nossos contemporâneos na simplicidade de vida, na satisfação de ser solidários e misericordiosos que não se deve ter a ilusão de ter feito muito, quando é possível fazer mais pela própria santificação e ajuda ao próximo. É necessário que sejamos assim outros imitadores de São João Batista e não passaremos simplesmente pelo Natal, mas o Natal marcará definitivamente nossa vida.

 

Testemunho de humildade
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho
Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos

Alegria do Advento

velaIniciamos mais um Ano Litúrgico, preparando-nos para o nascimento de Jesus Cristo no tempo do Natal. Nascimento que só tem sentido quando as pessoas conseguem abrir seus corações e deixarem acontecer o encontro íntimo com Aquele que vem como enviado do Pai. Assim se cumpre a realização da promessa de libertação projetada nos anúncios do Antigo Testamento.

Jesus foi prometido e proclamado como rei justo no meio de um mundo marcado pelas práticas de injustiça e de degradação da identidade da pessoa humana. O que vemos, na prática, e em todos os tempos, é o sofrimento condicionado pelos desvios do projeto querido pelo Criador. A injustiça, generalizada como está, diminui as condições necessárias para uma vida feliz e humana.

A vontade de Deus é a realização do direito e da justiça, isto é, de uma vida conforme as prescrições dos mandamentos e das indicações das bem-aventuranças do Evangelho. Não fomos criados para a destruição, indiscriminada, dos bens da natureza. “Dominai a terra” (Gn 9,7) significa construir, possibilitando o necessário para as pessoas terem uma vida saudável e digna.

A consistência do mundo depende do cuidado e de como ele é usado. Certas práticas causam medo e angústia nas pessoas, porque fragilizam a qualidade de vida e minam a alegria e as expectativas de um futuro promissor. A preparação para o Natal estimula uma concreta esperança, capaz de elevar o espírito abatido.

Estamos sensibilizados diante das ameaças causadas pelos últimos acontecimentos, tanto em Mariana, como nos atentados suicidas lá na França. Caminhamos por caminhos que levam ao caos, quase como o dilúvio citado pela Sagrada Escritura. Dá a impressão de que caminhamos para a destruição total. Isso pode acontecer se providências corajosas não forem tomadas.

A fonte do verdadeiro amor é Deus. Podemos até imaginar ou construir outros caminhos de amor, mas nunca estaremos totalmente realizados se nosso olhar não for voltado para essa fonte cristalina em Deus, através de Jesus Cristo, que causa compromisso de justiça de uns para com os outros no relacionamento.

 

Alegria do Advento
Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba (MG)

Católico pode fazer tatuagem?

tatuagem_catolicaTatuagem e piercings

O uso das tatuagens é muito antigo. Fazem parte da identidade, única e exclusiva de aborígenes e ancestrais da Polinésia e da América do Sul. O processo de introduzir sob a epiderme substâncias corantes para apresentar desenhos e pinturas era um sinal de proteção contra os maus espíritos segundo aquela mentalidade primitiva.

Hoje a tatuagem e os piercings estão associados a outras realidades. Psicólogos apresentam várias explicações sobre quem usa estas marcas corporais. Sob o ponto de vista religioso cada caso deve ser examinado, observando-se as intenções de cada um. Cabe aos sacerdotes examinar os motivos que levam um cristão a usar esta arte de gravar na pele, por meio de pigmentos coloridos, ícones indeléveis e qual a finalidade com que isto é feito. Eles terão discernimento para dar um parecer.

Antes de se fazer uma tatuagem ou piercings seria de bom alvitre que, sobretudo, um jovem cristão lesse uma passagem no Antigo Testamento que diz: “Não fareis incisões no corpo em sinal de luto, nem usareis tatuagem alguma no corpo” (Levítico 19,28). No Novo Testamento São Paulo dizia aos Coríntios: “Ou não sabeis que o vosso corpo é templo do Espírito Santo, que habita em vós, que vos foi dado por Deus, e que vós não sois senhores de vós mesmos? Na verdade fostes comprados por elevado preço. Glorificai, pois a Deus no vosso Corpo” (1 Cor 6,19-20).

Cumpre, portanto, medida e equilíbrio em tudo que se refere a este templo santo. Além de tudo isto é preciso verificar até onde tatuagem ou piercings vão prejudicar a saúde e, neste caso, não custa ouvir um bom dermatologista. Eles alertam: “Se não houver assepsia e técnica adequada, a pele pode ser machucada (principalmente no piercing) inflamar e se contaminar com bactérias, fungos e vírus. Pode haver abscesso, erisipela e até infecção generalizada. A pele também pode ter alergia às tintas ou ao material do piercing”. Todo cuidado é pouco.

 

Tatuagem e piercings
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho
Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos

Mariana, Paris, Brasília

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O mês de novembro vai se encerrando por entre dramáticos acontecimentos. Em todos eles o ser humano vítima das incongruências advindas das mais variadas causas. No caso de Mariana perda de vidas humanas e notáveis prejuízos materiais. Entretanto, na primeira cidade de Minas a presença das lideranças religiosas e políticas locais merecem destaque especial. O Arcebispo Dom Geraldo Lyrio Rocha vem somando esforços no sentido de que todas as justas reivindicações das famílias atingidas sejam inteiramente atendidas.

As vítimas do violento desastre se acham cercadas do amparo daqueles que se colocaram na defesa da justiça que deve ser feita. As doações mostraram a tradicional bondade o povo mineiro sempre ao lado dos sofredores. Outras autoridades também se mobilizaram aumentando o rio da solidariedade no momento em que até o Rio Doce se tornou um Rio de Amargura, vítima do rompimento das barragens. As medidas a serem tomadas por certo obstarão males futuros.

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Samarco assume compromisso para não ser punida com multa de R$1milhão/dia

O que a SAMARCO já se dispôs a fazer a favor dos prejudicados pela catástrofe poderá minimizar um pouco os prejuízos causados pelo desastre de proporções tão grandes. Enquanto isto em Paris, a cidade amada por gente de todo o mundo, se tornou vítima do terrorismo ignóbil a ceifar vidas humanas numa atrocidade impiedosa. O pior é que ninguém sabe o que pode continuar a ocorrer de uma maneira tão bárbara e cruel. O terceiro milênio já se acha manchado por estas atitudes insanas, desumanas No meio de toda esta turbulência, lá em Brasília, políticos insensíveis ao padecimento dos cidadãos brasileiros, vítimas de um impressionante desgoverno, estão ameaçando a população com novos impostos.

Entre estes a famigerada CPMF, que muitos pensavam já ter sido para sempre extinta, é mais uma e intimidação ao povo desta nação. O Estado se apresenta ante os cidadãos como um cobrador inexorável e sem piedade, revestido de um autoritarismo alarmante. Este é um dos aspectos a ser refletido no momento trágico que vive uma nação, a qual, no entanto, é “gigante pela própria natureza”. Maus políticos, péssimos administradores, porém, depredam o tesouro nacional. Falta dinheiro para gastarem perdulariamente e então metem a mão no bolso do contribuinte.

Cumpre denunciar tudo isto, pois os impostos escorchantes são o recurso dos incompetentes. Este clamor deve ecoar por toda parte sob pena de não se haurirem da História, que é a “mestra da vida”, os ensinamentos que ela ministra. Cidadania é saber também protestar com sabedoria contra o esmagamento ao qual a população fica submetida. Governantes a fixarem impostos e a gastarem e o povo a pagar tributos, vendo a malversação das fabulosas quantias arrecadadas. Tudo isto uma catástrofe a mais. Esta última tão lamentável quanto as desgraças que se deram nas cidades de Mariana e Paris.

 

 

Mariana, Paris, Brasília
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho, da Academia Mineira de Letras

Católicos e luteranos: Declaração a Caminho da unidade

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Expressando 50 anos de diálogo nacional e internacional, luteranos e católicos juntos emitiram uma “Declaração a Caminho: Igreja, Ministério e Eucaristia” (Declaration on the Way: Church, Ministry and Eucharist), documento ecumênico que marca um trajeto em direção a uma unidade mais visível entre católicos e luteranos. A publicação em 30 de outubro deste documento vem na véspera do aniversário da publicação das 95 Teses de Martinho Lutero, fator que provocou a Reforma protestante.

A declaração foi publicada por Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos (USCCB, sigla em inglês), 30-10-2015. A tradução é de Isaque Gomes Correa.

“Em sua recente visita aos Estados Unidos, o Papa Francisco enfatizou, repetidas vezes, a necessidade e a importância de um diálogo. Esta Declaração a Caminho representa, de forma concreta, uma oportunidade para que os luteranos e católicos se juntem, agora, de maneira unificadora num caminho finalmente em direção à comunhão plena”, disse Dom Denis J. Madden, bispo auxiliar da Arquidiocese de Baltimore, membro católico da força-tarefa que produziu a Declaração.

“Quinhentos anos atrás, guerras foram travadas com base nas mesmas questões sobre as quais os luteranos e católicos romanos, hoje, alcançam um consenso”, disse a bispa Elizabeth A. Eaton, presidente da Igreja Evangélica Luterana na América – ELCA (na sigla em inglês).

“Igreja, Ministério e Eucaristia têm sido áreas de desacordo e separação entre as nossas duas igrejas, e ainda temos muito a fazer – tanto em termos teológicos como pastorais – na medida em que analisamos as questões. Esta Declaração é muito animadora porque nos mostra 32 pontos importantes em que já podemos dizer que já não há motivos para nos dividir enquanto igrejas; ele nos dá esperanças e uma direção para o futuro”, disse ela.

No cerne do documento estão 32 “Afirmações de Concordância” (Statements of Agreement), onde luteranos e católicos já possuem pontos de convergência em tópicos sobre igreja, ministério e Eucaristia. Estas concordâncias sinalizam que os católicos e luteranos estão, de fato, “a caminho” de uma unidade plena, visível. Na medida em que 2017 se aproxima, ano do 500º aniversário da Reforma, este testemunho de uma unidade crescente traz uma mensagem poderosa de esperança e reconciliação. O documento igualmente indica diferenças ainda existentes entre os luteranos e católicos, apontando para possíveis saídas daqui em diante.

Em outubro, tanto a Conferência dos Bispos da ELCA (organismo consultivo da igreja) como o Comitê para Assuntos Ecumênicos e Inter-Religiosos da Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos (USCCB, na sigla em inglês) receberam e reafirmaram, por unanimidade, as 32 Concordâncias. Os bispos da ELCA pediram que o Conselho de Igreja as aceite e encaminhe o documento inteiro à Assembleia Mundial da ELCA de 2016, o mais alto organismo legislativo da denominação.

O documento busca uma recepção do “Statement of Agreements” por parte da Federação Luterana Mundial – FLM e do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos – PCPUC. A FLM é uma comunhão global de 145 igrejas em 98 países em todo o mundo. Dos Estados Unidos a ELCA é única igreja participante.

Em sua parte conclusiva, o texto convida o PCPUC e a FLM a criar um processo e um cronograma em que se abordariam as questões remanescentes. Ele também sugere que a expansão das oportunidades de os luteranos e católicos receberem a Sagrada Comunhão juntos seria um sinal dos acordos já alcançados. A Declaração igualmente busca um compromisso em aprofundar a ligação, em nível local, dos católicos e luteranos.

Em dezembro de 2011, o Cardeal Kurt Koch, presidente do PCPUC, propôs uma declaração para selar alguns acordos sobre igreja, o ministério e a Eucaristia. A ELCA e a Conferência dos Bispos Católicos dos EUA responderam à proposta do cardeal ao identificar estudiosos católicos e luteranos e líderes para produzirem a Declaração a Caminho, partindo principalmente das declarações das comissões para o diálogo internacional dadas pela FLM e pelo PCPUC e de gama de diálogos regionais, incluindo alguns travados nos Estados Unidos.

Um resultado significativo do diálogo luterano-católico nos EUA e em nível internacional é a Declaração Conjunta sobre a Doutrina da Justificação – DCDJ, assinada em 1999 em Augsburg. Com a DCDJ, a FLM e a Igreja Católica concordaram com uma compreensão comum da doutrina da justificação e declararam que certas condenações entre si, datadas do século XVI, não mais se aplicam.

O texto da Declaração a Caminho (Declaration on the Way) e mais informações estão disponíveis aqui.

 

Com informações do IHU Unisinos