CF 2017: Uma nova concepção de vida fraterna

Nicolau João Bakker, SVD

Introdução:

Surpreendeu-me o tema da CF de 2017: “Fraternidade: biomas brasileiros e defesa da vida“. O que a fraternidade tem a ver com os biomas brasileiros? Tradicionalmente nossos biomas são seis: a Amazônia, o Cerrado, a Caatinga, a Mata Atlântica, o Pantanal, e os Pampas do Sul. Ultimamente se acrescenta a eles a Zona Costeira e Marinha. Não é um pouco artificial ligar estes biomas ao conceito de fraternidade?

icone_cf2017_bioma A fim de encontrar uma resposta mergulhei na minha infância. Lembrei-me do lugar onde nasci: quase dois metros abaixo do nível do mar, num dos famosos “pôlderes” holandeses, uma grande e rica extensão de terra cercada pelos não menos famosos “diques” da Holanda. Tudo fruto de uma luta mais do que secular contra a temível bravura do mar. Chamavam-nos de “frísios do Oeste”, isto em oposição aos frísios “de verdade” que moravam do outro lado de um grande braço do mar, a 25 km. de distância. Lá se falava uma outra língua que nem sequer entendia. Aliás, mesmo do nosso lado, em cada aldeia, de 3 em 3 km, o linguajar do povo – e também o modo de brincar, caçoar, torcer e opinar – era um pouco diferente. Em seu conjunto, nós, frísios do Oeste, constituíamos claramente uma “tribo” bem diferente das demais tribos holandesas. Depois de adulto me dei conta que até na religião éramos diferentes. Tínhamos, sem dúvida, um modo bem próprio de encarar as nossas obrigações religiosas.

Quando minha família, na década de 1950, emigrou para o Brasil, estabelecendo-se numa pequena cooperativa agrícola na área metropolitana de Campinas (Holambra), eu, com 21 anos de idade, enfrentei um mundo totalmente novo. Juntamente com meu pai e meus três irmãos, era preciso aprender a tirar o sustento para uma família de 11, não mais a partir de um único alqueire do bioma pôlder, mas agora a partir de um bioma inteiramente diferente. Os muitos cupinzeiros esparramados pelo velho pasto à nossa frente não deixavam dúvida. Estávamos diante de um “latifúndio” de 14 alqueires de cerrado paulista. Trabalhando na roça com paulistas, mineiros e cearenses, goianos, baianos e paranaenses, fui logo percebendo que cada um/a trazia do seu bioma de origem – evidentemente com variedades regionais – um mundo próprio, não apenas no sotaque, nos costumes e nas tradições, mas também em todo um jeito particular de encarar a vida.

CF 2017: Uma nova concepção de vida fraterna

Animais dos biomas brasileiros, ilustração por Digerson Araújo

De fato, mais do que nosso estado ou região de origem, é o bioma que define o viver, conviver e sobreviver do ser humano. A modernidade, com sua fortíssima tendência de criar o “homo globalis” – fruto de uma mídia homogeneizadora e um novo estilo de vida, urbano, escolarizado, e industrializado – tende a aniquilar o efeito bioma, mas não há como. Cada bioma é o resultado de forças cósmicas que mudam apenas a longuíssimo prazo e que ultrapassam em muito a capacidade humana de, de alguma forma, dominá-los. Muito antes de o ser humano destruir o bioma, o bioma irá destruir o ser humano. Em muitos sentidos o bioma “gera” o ser humano, dando-lhe sua característica própria, não apenas nas feições do corpo, mas também nas da alma. A não ser que algum imperialismo religioso a tenha modificado, em cada canto do planeta encontraremos uma população originária dirigindo ao mundo do além uma oração particular e muito própria.

O objetivo deste artigo é demonstrar que, das ciências da vida, surge uma nova concepção de “vida fraterna”. Se queremos realmente “defender a Vida”, como pede a Campanha da Fraternidade, vamos ter que “educar o nosso olhar” – como dizia Teilhard de Chardin (†1955) – e perceber que, de fato, somos irmãos e irmãs não apenas dos nossos semelhantes, os seres humanos, mas também, como já intuía São Francisco de Assis (†1226), de todos os demais seres vivos do planeta. Faremos isto, em primeiro lugar, observando “a Vida como ela é”. Em seguida veremos que também o bioma, como a própria “Vida”, é sempre uma “teia partilhada”. E, finalmente, tiraremos algumas conclusões pastorais “em defesa da Vida”.

I –  “A Vida como ela é”

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Hora da Família 2016 com o tema misericórdia

Hora da Família 2016

Com o tema “Misericórdia na Família: Dom e Missão”, o subsídio oferece sete encontros, além de celebrações como Via-Sacra em família, Adoração das famílias e ainda celebraçãos para o Dia das Mães, Dia dos Avós e Dia dos Pais.

A Comissão Nacional da Pastoral Familiar (CNPF) e Comissão Episcopal Pastoral para a Vida e a Família da CNBB apresentam a edição 2016 do subsídio “Hora da Família”, disponível para aquisição na Loja Virtual da Pastoral Familiar.

Com o tema “Misericórdia na Família: Dom e Missão”, o subsídio oferece sete encontros, além de celebrações como Via-Sacra em família, celebração para o Dia dos Pais, Dia dos Avós e Dia das Mães.

Com uma proposta moderna e explicativa, o material é organizado de forma interativa, propondo encontros participativos e celebrativos, buscando envolver a comunidade, famílias, lideranças, crianças, jovens e adultos.

“O ‘Hora da Família’, neste ano, quer nos envolver nesse clima da misericórdia divina, com vistas à missão. Não pode ficar unicamente entre os grupos de Pastoral Familiar. A nossa criatividade pastoral deve nos inspirar para que esse conteúdo seja partilhado, multiplicado, servido, também, em muitos outros ambientes onde nem sempre a Palavra está presente: escolas, centros de saúde, meios de comunicação, prédios, associações de moradores, periferias”, sugere o bispo de Osasco (SP) e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Vida e a Família da CNBB, dom João Bosco Barbosa.

O assessor nacional da Comissão para a Vida e a Família, padre Moacir Arantes, orienta que as equipes da Pastoral Familiar e agentes repassagem o “Hora da Família” 2016, com o valor de venda indicado de R$ 3,00. Desta forma, o material chegará a muitas famílias por um preço acessível, gerando assim um amplo processo de evangelização neste Ano da Misericórdia.

Para padre Moacir, o “Hora da Família” quer ajudar a todos a fazerem a experiência com a misericórdia de Deus. “Este subsídio precioso de estudo, reflexão e oração, nos convida a realizar nos grupos pastorais, de vizinhos, de amigos, ou na intimidade do nosso lar, importante reflexão a respeito das obras de misericórdia. Queremos conhecer um pouco melhor o jeito de Deus ser e agir com seus filhos e filhas, para que possamos transformar o nosso ser e nosso agir para com os outros”, explica o sacerdote.

Confira os encontros:

1º Encontro – Criados por um Pai Misericordioso
2º Encontro – Criados na Misericórdia e para Misericórdia
3º Encontro – Procurados pela Misericórdia
4º Encontro – Família e Igreja, lugares da Misericórdia
5º Encontro – O perdão na Família– Fonte de reconciliação e libertação
6º Encontro – As obras de misericórdia na família e da família
7º Encontro – A família promotora da misericórdia na sociedade

Semana Nacional

O “Hora da Família” 2016 está em sintonia com a Semana Nacional da Família, que acontece de 14 a 21 de agosto, em todas as comunidades do Brasil. O subsídio apresenta reflexão sobre temas familiares, oferecendo roteiros de orações e cantos para motivar a atividade.

Como adquirir

O subsídio “Hora da Família” é distribuído pela Secretaria Executiva Nacional da Pastoral Familiar – SECREN. Encomendas podem ser feitas pelo telefone (61) 3443-2900, ou pelo e-mail vendas@cnpf.org. O material também é distribuído pelos casais coordenadores e agentes da Pastoral Familiar nos regionais e dioceses.

Baixe todas as músicas do CD da Hora da Família, exclusivo Portal kairós:

cnpf.org.br

CNBB lança concurso para hino da Campanha da Fraternidade 2017

Tema: Fraternidade: Biomas brasileiros e defesa da vida
Lema: Cultivar e guardar a criação

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Concurso para hino da Campanha da Fraternidade 2017

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) lançou um concurso para o hino da Campanha da Fraternidade 2017. O processo seletivo será realizado num único edital, letra e música, simultaneamente, podendo haver parceria entre letristas e músicos.

Com base no tema da CF 2017 “Fraternidade: Biomas brasileiros e defesa da vida” e no lema “Cultivar e guardar a criação”, as características da letra do hino devem traduzir o conteúdo em profunda linguagem poética. Além disso, é exigido também que o hino apresente alguma forma de rima, embora possam ser usados versos livres.

Quanto aos critérios para a análise da qualidade literária do texto, o edital recomenda a leitura do subsídio técnico das Edições CNBB “Canto e música litúrgica pós-Concílio Vaticano II: Princípios teológicos, litúrgicos, pastorais e estéticos”. O emprego da função da linguagem mais adequada ao momento litúrgico também será levado em consideração.

Já em relação às características da música, o edital exige o caráter vibrante e convocativo, melodias e ritmos fluentes em qualquer assembleia. Além disso, a apresentação da composição deverá ser escrita em pauta musical, com a indicação dos acordes (cifras) para o acompanhamento instrumental.

As composições devem ser encaminhadas à CNBB até o dia 29 de abril.

CFE-2016 motiva a reflexão sobre o relacionamento com o outro

cf2016_seminarios_01O tema escolhido para a reflexão na Campanha da Fraternidade Ecumênica 2016 é “Casa comum, nossa responsabilidade” e o lema “Quero ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca” do livro de Amós 5.24. A proposta está em sintonia com a Encíclica do papa Francisco, “Laudato Si”.

“Nesse tema e lema, duas dimensões básicas para a subsistência da vida são abarcadas a um só tempo: o cuidado com a criação e a luta pela justiça, sobretudo dos países pobres e vulneráveis. Nessa Campanha da Fraternidade Ecumênica, queremos instaurar processos de diálogos que contribuam para a reflexão crítica dos modelos de desenvolvimento que têm orientado a política e a economia”, explica a coordenação geral, representada pelo bispo da Igreja Anglicana e presidente do Conic, dom Flávio Irala, e a secretária-geral, pastora Romi Márcia Bencke.

O profeta Amós afirma em seu texto que a situação social do povo é importante para Deus, e que o culto se torna vazio e mentiroso se as pessoas vão aos templos, oferecem sacrifícios para Deus, mas permitem que a injustiça degrade a vida dos pobres, filhos amados e filhas amadas de Deus.

O profeta deixa bem claro que a fidelidade a Deus, tem tudo a ver com o cuidado que temos que ter, uns com os outros e com os dons da natureza.

O texto destaca questões como o caos social, o rompimento das relações afetivas e da relação com Deus. Como lema da Campanha, a proposta é que as pessoas repensem suas vidas e mudem suas atitudes em prol do bem comum.

Padre Leandro Alves de Souza, assessor da sub-região pastoral Aparecida da Campanha da Fraternidade, explicou as inspirações do lema da Campanha desse ano, e salientou que dentre as várias questões para reflexão, está à importância das pessoas estabelecerem relações verdadeiras e não de interesses.

a12.com

Cuidar de nossa “Casa Comum”

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Como família, entendemos bem o termo utilizado na Campanha da Fraternidade (CF) deste ano: Casa Comum. Lugar onde todos habitam e, portanto, todos são responsáveis por ela. Por isso, as famílias são especialmente tocadas nesta CF, porque a moradia (seja a casa ou o ambiente como um todo) refere-se diretamente à situação de vida delas. E os “sinais dos tempos” têm sido mais de morte do que de vida.

Olhando para o saneamento básico, ponto focal desta CF, a sua falta ou precarização é motivo de graves problemas de saúde. Só para exemplificar, crianças ainda morrem por doenças adquiridas por contaminação da água e não tratamento do esgoto no Brasil, e o não cuidado com as águas da chuva, por exemplo, ajuda na proliferação do mosquito da dengue, do zika e da chikungunya. Quer mais? O desperdício de água e o não tratamento adequado do lixo (residencial e industrial) colocam em situação grave nossas cidades e nossas famílias.

A palavra de Deus ilumina nossa realidade, nos convocando a unir profundamente a fé e a vida. Deus alerta, por meio do profeta Amós: viver o culto sem praticar o direito e a justiça não é lhe é agradável! (cf. Am 5, 21-24). Então, não promover a vida das pessoas e de todos os seres criados por Deus é deixá-los na insegurança, na impossibilidade de uma vida digna e plena, ao contrário do que quer Jesus (cf. Jo 10,10). E ainda, alerta o papa Francisco, que, ao não cuidar do meio ambiente, negamos a existência aos outros (LS n. 95). Ou seja, podemos escolher o caminho da morte e não o da vida (cf. Dt 30,15).

As famílias atingidas pela seca, ou pelas enchentes, ou pelos “desastres ambientais”, como vimos recentemente no Brasil, ou aquelas que são obrigadas a viver em meio ao esgoto e lixo a céu aberto, gritam dia e noite, clamando por justiça. Quem as ouve? O sistema econômico gerador de desigualdades, que oprime e manipula a vida? O sistema político movido pelos interesses dos grandes? Como o povo no Egito, seu clamor chega a Deus (cf. Ex 3,7) e ele suscita homens e mulheres, nas diversas condições, para profetizar em seu nome e libertar o seu povo.

Famílias, comunidades, igrejas, lideranças políticas e de movimentos sociais são convocadas a educar as consciências e a participar da construção de políticas públicas que gerem vida para todos. Comecemos pelas nossas famílias na quaresma: oração e jejum que modifiquem nossas ações (consumir menos e participar das reivindicações por melhorias, por exemplo).

Suzana Coutinho